sexta-feira, 1 de julho de 2011

"Jornalista maldito": o olhar aguçado de Lúcio Flávio Pinto


Lúcio Flávio Pinto talvez seja, hoje, um dos últimos jornalistas independentes do estado do Pará (quem sabe do Brasil?). Sua crítica traz para o debate público assuntos que os grandes meios de comunicação da região preferem ocultar ou minimizar por interesses político-econômicos. Mais do que isso, revela os jogos de poder que existem entre os principais meios de comunicação do Pará (o jornal e a tv Liberal, da família Maiorama, e a tv RBA e o jornal Diário do Pará, de Jader Barbalho), além de analisar os interesses e as ações da maior empresa privada do Brasil, a Companhia Vale, e os discursos governamentais acerca dos grandes projetos para a Amazônia.

Por tudo isso, Lúcio Flávio Pinto é um "jornalista [tido por] maldito" para as elites político-econômicas regionais, tendo sofrido (e ainda sofrendo) intenso processo de criminalização, com 18 ações judiciais movidas pela família Maiorama, além de um atentado a sua integridade física, cometido diretamente por Rômulo Maiorama, presidente das Organizações Rômulo Maiorama (ORM).

Para homenagear e, ao mesmo tempo, difundir ao público leitor as reflexões e análises de Lúcio Flávio Pinto, inicio esta sessão periódica de divulgação dos textos por ele publicados no blog "Jornal Pessoal", que, aliás, é o complemento digital do jornal impresso que edita de maneira independente e sem ajuda de patrocinadores, com circulação em Belém e em seus arredores, chamado "Jornal Pessoal". Boa leitura!

A Amazônia que morre


Fui um crítico constante da hidrelétrica de Tucuruí durante sua construção, de 1975 a 1984, ano em que a usina, instalada sobre o leito do rio Tocantins, foi inaugurada, como a quarta maior do mundo. Mas não era um crítico à distância: estava sempre na obra. E, por incrível que pareça, conversando com os “barrageiros”, que me atendiam. O diálogo parecia então mais fácil do que agora, talvez porque tinha um tom mais marcadamente técnico.

Certa vez, um deles, para me demonstrar que todos ganhariam com a hidrelétrica, me levou para percorrer as novas cidades. Elas estavam sendo preparadas para receber a população que seria remanejada da beira do rio para a formação do reservatório. O futuro lago artificial, o segundo maior do Brasil, alagaria uma área de três mil quilômetros quadrados (mais de duas vezes o tamanho de Belém, com seus 1,4 milhão de habitantes).

O engenheiro tinha todos os motivos - mas os seus motivos - para achar que os ribeirinhos viveriam muito melhor nas novas cidades. Lá eles teriam casas de alvenaria, ruas pavimentadas, água, luz e todos os serviços básicos, que não existiam na margem do rio. Mas eu não tinha dúvida de que os remanejados não iam partilhar a convicção do técnico.

É claro que eles estariam em melhores condições materiais num núcleo urbano planejado. Mas lhes faltaria no novo domicílio algo que todas essas vantagens não seriam capazes de compensar: o próprio rio.

O Tocantins era sua rua, sua fonte de água, de alimento, de trabalho, de vida. Depois de tantas gerações se sucedendo na margem do vasto curso d’água, tirar dele as vantagens, minimizando os prejuízos eventuais, era o grande patrimônio dessa população. Um aprendizado de séculos. Conhecimento experimental, empírico, sofrido, valioso, único.

Subitamente, são remanejados rigorosamente manu militari (o primeiro presidente da Eletronorte, subsidiária da Eletrobrás responsável pela hidrelétrica, foi um coronel-engenheiro do Exército, Raul Garcia Llano). O legado de séculos no trato com o ciclo das águas, subindo e descendo por turnos semestrais, se tornou inútil na terra firme, longe do rio, em ambiente pouco conhecido.

Pelos critérios quantitativos, o engenheiro podia provar matematicamente que a mudança foi positiva. Por essa régua, também é superavitário o balanço da transformação que ocorreu na Amazônia no último meio século, principalmente em função de “grandes projetos”, como o de Tucuruí, que representou investimento superior a 10 bilhões de dólares.

Mas o triunfalismo da história oficial se vale da ausência de um índice capaz de medir e traduzir numericamente a felicidade. Se houvesse esse indicador de satisfação, ele revelaria a tristeza do homem obrigado a trocar o rio à sua porta pela casa de alvenaria no meio da mata - que, aliás, desapareceu.

O homem da Amazônia é detalhe ou enfeite no “modelo” (que nada tem de modelar) de integração forçada da região ao país e ao mundo. Modelo definido a partir de fora para fazer a vontade do migrante, seja ele pessoa física ou empresa, João da Silva ou Vale do Rio Doce, nascido no país ou vindo do exterior (quanto mais distante, mais poderoso).

Para a “modernização” compulsória pouco importa que o nativo esteja ou não feliz. Seu mundo está condenado a desaparecer. Tudo que é considerado primitivo, atrasado e isolado será progressivamente esmagado pela máquina que produz mercadoria, à medida que ela vai avançando sobre as novas áreas. Seu rótulo é a única fonte válida de valor, do que interessa ao mercado. O mais é descartável, inútil.

Para saber mais:
Visite o Blog de Lúcio Flávio Pinto - "Jornal Pessoal"

Um comentário:

  1. Eu odeio essa maldita Record, mas também a Globo (a principal responsável por tudo)!

    Invasão de privacidade. Violação do lar. Desrespeito ao direitos fundamentais do cidadão. Violação do Estado Democrático de Direito. Vejam, em resumo, o que as malditas emissoras de TV deste país fizeram comigo, aqui:

    MCHAL.110mb.com ou MCHAL.heliohost.org

    Essa página, que é uma forma de protesto e denúncia, existe há pouco tempo. É consequência das maldades que fazem comigo e minha família, apenas uma reação à omissão das autoridades políticas e policiais, cúmplices que são desses malfeitores, jornalistas e "celebridades" bandidos!

    Por favor, se forem advogados, ajudem-me!

    Obrigado por publicar!
    Deus o abençoe!

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