domingo, 20 de fevereiro de 2011

A revolução do Jasmim e a praça Libertação: o estado de rebelião revolucionária na Tunísia e no Egito


Plantando democracia na Praça Tahrir, de Carlos Latuf


Em seu famoso "Discurso sobre o colonialismo", da década de 1950, o martinicano Aimé Césaire sentenciou: "a Europa é indefensável". Mas o que queria dizer o famoso anticolonialista? Referia-se justamente aos dois problemas abertos pela conquista européia e conseqüente "globalização" do capitalismo: o que ele chamou de "problema do proletariado" e "problema colonial". Nenhum discurso liberal, nenhum argumento burguês, nada conseguiu suturar este rombo no pavilhão do modo de produção hegemônico. Daí a indefensabilidade européia, uma metonímia geopolítica .

Quando assistimos, de fins de janeiro até agora, às insurgências que pululam no Magreb africano, parece que aquela sentença revigora, ainda que com outras palavras: "o imperialismo é indefensável". Se os Estados Unidos da América Anglo-Saxã tomaram o lugar da Europa, fizeram-no aperfeiçoando suas técnicas de domínio estrangeiro. A hiperexpansão capitalista no Oriente Médio, por exemplo, é uma mostra histórica disso.

Ainda que a complexidade da questão religiosa se coloque de maneira quase avassaladora, esta não passa de mais um dos dados que a realidade complexíssima do mundo árabe alberga. Desde 1917, um grande espectro rondou a indefensável Europa (e por Europa entendamos todo o capitalismo avançado!) e ameaçou a expansão indicada, a tal ponto que se colocou como alternativa mundial. Ocorreu isto especialmente a partir da guerra fria e do quase inevitável movimento das colônias africanas e asiáticas em buscar sua emancipação política, algo que já se havia apresentado na América Latina do século XIX.

As descolonizações, com forte influência soviética, chinesa ou até mesmo cubana, sempre preocuparam o imperialismo do capital, sendo que a derrocada das repúblicas soviéticas nada mais fez do que requentar a frieza da guerra com a instauração do famigerado "choque de civilizações", ideado já na década de 1970, pelos intelectuais orgânicos do estado de coisas, arregimentados em torno da Comissão Trilateral. A década de 1990, porém, trouxe consigo o auge do globalismo capitalista e as antes recônditas regiões do Oriente Médio rapidamente apareceram para o mundo, não só pela fonte de riquezas que representavam, mas também por sua expressividade cultural que não passaria despercebida frente aos grandes meios de comunicação articulados, com o despontar da internet.

Tudo isso não era lá muito nítido até que o 11 de setembro ressignificou discursos e práticas, mobilizando exércitos e teorias de segurança reacionárias. Veio para o centro da ribalta o terrorismo associado ao fundamentalismo, notadamente o islâmico. O choque de civilizações, à Huntington, cerra as mesmas fileiras do já decenal "fim da história", de Fucuiama, e dessa forma se acentua o conflito ocidente-oriente como se isto nada tivesse a ver com o enfrentamento norte-sul ou com o problema dos modos de vida - capitalismo ou barbárie (os demais modos de vida).

Se ao tempo da descolonização africana e asiática, Angola, Filipinas ou Cuba se tornaram comunistas, pouca valia isso tem para os centros difusores de conhecimento e informação, a Europa metonímica. A teoria política continua a se valer dos esquemas eurocêntricos para medir a dinâmica do poder no mundo; e se na Europa metonímica a revolução é impensável, logo o é para todo o mundo. Bom, dois erros. E dois erros que têm a ver com os dois problemas que fez com que Césaire sentenciasse: "a Europa é indefensável". Tanto a revolução é possível de ser pensada no centro do mundo, ainda que os maiores exemplos apareçam em suas franjas irlandesas, bascas e gregas, como este discurso reativo não resolveu o problema da contradição entre o capital e o trabalho entre os operários franceses, alemães ou estadunidenses, por exemplo.

No flanco do colonialismo, renovado hoje na esfera de países já formalmente independentes, ainda que muitos outros ainda estejam sob o jugo da dominação estrangeira (basta pensar na Guiana Francesa ou em Porto Rico), os acontecimentos do norte da África são eloqüentes.

E quanto a isso, é necessário ponderar algo. Todas as tendências das esquerdas têm concordado em relatar e disseminar a contagem dos eventos magrebinos a fim de mostrarem ao mundo que a história não acabou e que as massas têm muito potencial para impor suas formas de ver o mundo. Entretanto, igualmente concordam - e de forma surpreendente até - que o trem da história puxado pelas revoluções tunisiana e egípcia não aponta necessariamente para uma estação popular. Da esquerda chomsquiana às interpretações maoístas, passando pelos projetos socialista e popular na América Latina, todos demonstram preocupação e um certo gosto de perda de oportunidade histórica na boca, uma vez que os protestos e mobilizações populares da África árabe se ressentem de organização popular consolidada, com movimentos cristalizados e partidos revolucionários que possam modificar não só as estruturas políticas mas também as econômicas dos países da região. Ainda assim, o rastilho aceso e chegadiço à Argélia, Barêin, Sudão, Irã, Iêmen, Líbia e Jordânia, para não falar em Iraque e Afeganistão, faz com que tenhamos de ficar atentos para os próximos movimentos do imperialismo e dos subimperialismos (e aqui a Europa-metonímica precisa ceder espaço aos nomes dos bois: EUAAS, Israel, China e Europa ocidental).

Muitos pontos poderiam ser destacados na verdadeira simbologia que as revoluções na Tunísia e no Egito aportam. A revolução do jasmim tunisiana, como a dos cravos portuguesa, permite a nós, brasileiros, usar o título de uma velha canção de protesto: no meio de toda a insurgência falo do jasmim ou do cravo "pra não dizer que não falei das flores". Já a multidão de egípcios em plena Praça Libertação (Tahrir), lembra a discussão latino-americana, em busca da produção de um conhecimento próprio e não colonizado. No entanto, as flores e o povo na rua têm seu preço: muitas vidas ceifadas contra os ditadores e suas estruturas de poder nacional. Zineel Adine Ben Ali, na Tunísia, e Hosni Mubarac, no Egito, deixam seus postos pela força da pressão popular. Os dias 14 de janeiro e 11 de fevereiro, respectivamente, entram para a história das datas, oferecendo razão ao filósofo latino-americano Enrique Dússel que diz ser do povo, ontologicamente, o poder. Apenas o poder institucional pode ser alienado, fetichizado e corrompido; logo, tomado.





Revolução do jasmim, na Tunísia: "Pra não dizer que não falei das flores"


No Egito, os mais de 300 mortos e, na Tunísia, os mais de 100, seguidos dos 7 mártires suicidas (dentre os quais o desempregado com título universitário Mohamed Bouazizi que, após ser humilhado e roubado pela polícia local por exercer comérico ambulante, deu cabo à própria vida a 17 de dezembro marcando o início dos protestos que derrubaram a ditadura), apenas demonstram que a compreensão hipermoderna da política não se restringe a modelos de comportamento absenteístas e apassivados, pois a insurgência envolve a vida e não apenas a razão politológica dos atores envolvidos, sejam individuais sejam coletivos. Daí ganhar relevo a recente opinião de Dússel, assentada no artigo "Estado de rebelião egípcia?". Diz-nos o filósofo:

Carl Schmitt, para criticar el estado de derecho liberal puramente legal y vacío, sin convicción subjetiva sustancial del ciudadano, propuso repensar elestado de excepción, para mostrar que el primero, que se encuentra dentro de un sistema de legitimación como la estructura democrático-legal, estaba fundado en una voluntad (en último término del pueblo, pero en el caso de Schmitt sin expresión institucional consistente) que podía dejar al orden legal sin efecto en casos de extrema necesidad (como la institución de la dictadura en el imperio romano). La voluntad (del gobernante con autoridad y del pueblo) está detrás de las leyes, dándole un fundamento. Lo que Schmitt no imaginó, y Giorgio Agamben lo sugiere sin extenderse como sería conveniente, es que, por su parte, el propio estado de excepción puede ser dejado sin efecto, pero en este caso por el pueblo mismo, como única sede, y última instancia, del poder político. Esto nos recuerda aquel 20 de diciembre de 2001 en el que el pueblo argentino no respetando el toque de queda decretado por el gobierno salió a las calle y de hecho depuso a Fernando de la Rúa. Gritaba el pueblo: ¡Que se vayan todos! Las instituciones habían perdido legitimidad y el pueblo se lo recordaba a los representantes que corruptamente habían pretendido ejercer el poder delegado, pero a su servicio. De ese levantamiento surgió el gobierno de Néstor Kirchner que alcanzó mayor legitimidad. Se trata del mismo caso ahora en Egipto.


Logo se percebe o que para nós depõe a experiência egípcia e tunisiana. A teoria político-jurídica do estado tem em Ximite um lastro, assim como o conceito de direito é teoricamente impulsionado por Quélsen. Não há que negar tais contribuições, a não ser naquilo que falseiam a realidade. Mas naquilo que explicam-na, ainda que pelo lado da aparência, merece nossa atenção. Ocorre que a crítica ao estado liberal não é suficiente. É preciso ir até a vida-nua e mais além - a vida concretamente desnuda, na concepção dusseliana. O povo (ou, para contemplarmos nossa discussão interna ao blogue: a classe-que-vive-do-trabalho), como instância última de poder, pode desativar o estado de exceção das classes dominantes. Sim, poder estatal é poder, mas não precisa ser sempre poder das minorias e elites. Daí o estado de rebelião como conceito concreto para as realidades revolucionárias da periferia:

El estado de rebelión es un acto supremo por el que un pueblo manifiesta legítimamente (contra la legalidad presente y ante toda la futura) que las instituciones (y las leyes) por él instauradas han dejado de tener efecto por alguna causa grave (corrupción extrema, despotismo contra la voluntad del pueblo, violencia en sumo grado, etcétera).

[...]

El pueblo entonces aparece como el actor colectivo, no metafísico sino coyuntural, como un bloque social de los oprimidos (diría Antonio Gramsci) pero ahora con conciencia política, con un como hiper-poder renovado que estaba debajo del silencio sufriente y aparentemente paciente, un poder que de pronto irrumpe desde abajo en la praxis de liberación ante la dominación ya insoportable, que lanza las instituciones fetichizadas al aire como cuando expande la lava el volcán en erupción.

Nesse sentido, as duas últimas décadas teriam oferecido vários exemplos: além do episódio argentino, da revolução do jasmim e da revolução egípcia, também a experiência chiapaneca, ainda que parcialmente, e a bolivariana, no Caracazo e depois nos governos do socialismo do século XXI, em perspectiva geral.

Sem dúvida, não podemos nem devemos romantizar tais eventos históricos. Há uma forte tendência para que eles se acomodem a novas formas de dominação, na associação entre império e elites nacionais. No entanto, seu aparecimento é testemunho histórico que transcende, de longe, a capacidade da mobilização via redes sociais ou meios eletrônicos. Significa a ascensão da autoconsciência coletiva do povo, sua irmanação central com os trabalhadores organizados e em greve, com o condão histórico da acelarada pauperização das maiorias (ver editorial do jornal Brasil de Fato: "As revoluções reaparecem no século 21"). A estratégica de mobilização das massas em praça pública com a atividade dos trabalhadores organizados é a pólvora armazenada no paiol; basta colocá-la nas armas que a revolução vem, ainda que seus desdobramentos dependam dos homens e mulheres concretos em suas organizações locais, nacionais e internacionais. Que os bons ventos espalhem essa pólvora e a depositem nos lugares corretos, assim como os pássaros fecundam outras flores ao se alimentarem em alguns jasmins.


Conferir também:

- artigo “Revoltas se espalham pela região” (Brasil de Fato)
- artigo de Reginaldo Nasser “O fantasma da revolução” (Luís Nassif Online)
- artigo “Lutas de Libertação Nacional” (A Nova Democracia)
- artigo de Slavoj Zizek “Revoltas na Tunísia e Egito” (Polichinello)
- artigo de Ignacio Ramonet "Tunísia, Egito, Marrocos: essas ditaduras amigas" (Vermelho)
- entrevista “Chomsky: a reforma migratória, Egito e Obama” (Carta Maior)

15 comentários:

  1. Um dos linques sugeridos pela postagem lembra uma frase do Mao Tsé-Tung: "Existe um grande caos abaixo do céu - a situação é excelente".

    Não haveria frase mais pertinente. Importante a constação da postagem que se, por um lado, não devemos romantizar e já profetizar um futuro socialista e/ou popular, não devemos também negar todo o momento histórico único que estamos vivendo (ou assistindo?), onde a semente da inquietação, contestação, da força popular irá produzir frutos, flores e, porque não, espinhos que não irão se acomodar, facilmente, a quaisquer outras formas de dominação.

    Com o estopim dessas mobilizações, fica mais evidente, ainda, a posição do governo Estadunidense e dos governos Europeus em relação ao que tá ocorrendo. Os mesmos que se colocam como o avanço e guardiões da democracia, são os mesmos que apoiaram, durante anos, todas essas ditaduras. Será que o povo irá esquecer isso rapidamente?

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  2. É válido, embora insuficiente, o posicionamento de Dussel de que "El estado de rebelión es un acto supremo por el que un pueblo manifiesta legítimamente (contra la legalidad presente y ante toda la futura) que las instituciones (y las leyes) por él instauradas han dejado de tener efecto por alguna causa grave(corrupción extrema, despotismo contra la voluntad del pueblo, violencia en sumo grado, etcétera).

    Insuficiente porque as rebeliões, assim como qualquer outro aspecto comportamental, atingem a satisfação de necessidades características dos seres humanos, ou seja, materiais, mentais e espirituais. As mudanças exigidas à voz e sangue pelo mundo muçulmano estão entre elas. A lei, por sua irrelevância primeira (não foi elaborada, discutida e aprovada pelo povo, como simploriamente admitido por Dussel), não é a causa única dos transtornos sociais. O mundo "desenvolvido" tolera leis tão ou mais injustas trocando-as por conforto e segurança, confinando a igualdade e fraternidade do espírito por uma ilusória liberdade do corpo. Abdicando da alma ao Mamon (o diabo hebreu, literalmente vinculado ao mundo hedonista). A opinião dusseliana, a despeito de sua ampla formação religiosa, incorre na mesma limitação que aflige há séculos o ideário socialista: pensar em toda e qualquer revolta, rebelião, motim, guerra civil e revolução como insatisfação material.

    É o que abre espaço para as especulações socialistas, mais de sua utopia do que de sua razão. Antes, dever-se-ia analisar o papel de um movimento socialista no Islã, e se de fato é esta a força motriz das rebeliões em andamento. Parece improvável, mas, especulando que sim, entramos nas questões viscerais do socialismo atual. Por exemplo, a questão de que tal modelo produza e distribua mais e melhor do que o capitalismo. Será esta a pergunta correta? Ainda mais vislumbrando que a falência social advém de uma ausência de alternativas para o Estado, para a burocracia e para uma noção de progresso baseada na produtividade e na prevalência da técnica sobre a ética. Questões centrais, que a despeito de toda a construção teórica e experiência prática socialistas, permanecem inalteradas

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  3. Sobre os comentários do colega, lembremos que Mao considerava o caos tão excelente que o reproduziu e ampliou em níveis desconhecidos até então. Aplicou na China um processo súbito de transformação do povo em uma gigantesca máquina sincronizada de trabalho que não teve outro fim que o de alcançar o nível de acumulação de capital dos países ocidentais. O socialismo como alavanca para o capitalismo. A China de hoje é prova inequívoca disso. Falar de Mao e depois de "força popular produzindo flores" só pode ser referência a latifúndios de crisântemos funerários.

    Sobre o posicionamento dúbio das potências mundiais, é pura ingenuidade latinoamericana achar que os árabes, tradicionais contestadores do Ocidente, "esqueceram-se" disso. Tanto que uma das razões para as revoltas em todo o Islã é justamente o alinhamento de seus governos com os EUA. Não nos cabe discutir o que os árabes pensam, vez que eles já estão AGINDO. Cabe, sim, condenar a hipocrisia dos nossos em os questionar ou passivamente especular que espécie de socialismo virá de tais lutas.

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  4. Penso que Dussel não busca em seu artigo limitar o estado de rebelião egípcio a um produto da ilegitimidade das leis, pois evidentemente a questão é muito mais complexa, e o autor é um profundo conhecedor das culturas do Magreb africano e dos povos árabes (e nesse sentido me parece que o silêncio dos intelectuais europeus aponta para a derrocada definitiva do eurocentrismo). De qualquer forma, o sistema jurídico-formal de legitimação é uma das mediações fundamentais desse processo, e daí a importância dada à questão.

    Além disso, é preciso ter o cuidado de não jogar a água do banho com a criança junto, pois o materialismo vulgar de muitos marxistas desde a II Internacional não se confunde com o materialismo de Marx (que não era marxista, por sinal). É famosa a teoria das necessidades econômicas de Marx, que considera tanto o "estômago" (ou seja, as necessidades vitais fisiológicas) quanto a "fantasia" (não no sentido de inexistente, mas no sentido das produções do pensamento humano, como as ideologias, religiões etc). Por isso, é claro que toda abordagem pretensamente marxista da questão que se limite a falar do desemprego e da pobreza estará fadada ao mecanicismo. Por outro lado, também não podemos desconsiderar tais fatores para compreender o que ocorre hoje naquela região.

    Por fim, me parece que é importante sim saber o que os povos árabes pensam, pois este é o ponto de partida (jamais de chegada) para que possamos identificar o "vetor histórico" (para usar um termo do Lyra Filho) para onde apontam estes movimentos impressionantes.

    Abraço!

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  5. Acredito, com o Lucas, que a lembrança da frase de Mao (por Zizec) é acertadíssima. Timoneiro da revolução chinesa, sua revolução cultural influenciou enormemente as esquerdas do Terceiro Mundo (grupos políticos e revolucionários, além de vários intelectuais como Paulo Freire ou os teólogos da libertação): era a construção revolucionária a partir da questão nacional, da questão agrária e da subjetividade das massas, ainda que se afastando do conservadorismo de várias tendências religiosas milenares da China. É óbvio que não se pode assinar embaixo de todo este processo (e muito há que se criticar!), mas desconsiderar que a "capitalistização" extrema da China atual é fruto da chamada "desmaoização" após a morte de Mao é, no mínimo, inconseqüente.

    De toda forma, é o caos similar excelentemente traçado que acomete os países muçulmanos hoje. No entanto, o estado de rebelião vem se fazendo sem uma organização revolucionária, nascendo, portanto, espontaneistamente. E, assim, sabemos que todo "vazio" é ocupado. As grandes potências mundiais JÁ arregimentam suas máquinas de cooptação institucionais e econômicas. Daí a necessidade de atenção para a interpretação dos fatos ocorridos, ainda que devamos sempre ressaltar que, por si sós, as revoluções de janeiro e fevereiro (e todas as demais em curso) representam algo valiosíssimo para as lutas populares no mundo.

    Dussel ataca a problemática enfocando o problema do "estado". Muito em voga, hoje, é o tema e a proposta das "revoluções políticas" e estas têm como grande indicador as mudanças no âmbito do estado. A insurgência magrebina, por ora, encontra-se neste prisma: mudanças institucionais de peso, mas não necessariamente econômicas ou estruturais. A socialização dos meios de produção não está, pelo menos ainda, na pauta. Por isso, pensar a rebelião no plano das instituições estatais se apresenta como um interessante camminho para as análises. Isto, no entanto, não afasta outros aspectos destas lutas. É o próprio Dússel quem diz, no artigo indicado:

    "Esos jóvenes ninis egipcios (aunque ya estudiaron tienen aún más conciencia cuando no tienen trabajo) salen a las calles, arriesgan sus vidas (que de todas maneras desprecia el sistema capitalista dependiente del Estado corrupto y represor de Egipto sumiso a Estados Unidos y no solidario con los palestinos) por todo el pueblo, y no pareciera que darán un paso atrás porque la situación económica, política y cultural es angustiante."

    Frisemos: "situação econômica, política e cultural é angustiante". Nada de redução a legalismos de quaisquer ordens. Por isso se renova o problema do "homem novo", da "revolução cultural" para o socialismo no momento presente. As mudanças estruturais devem ser projetadas sempre em totalidade, objetiva, subjetiva, intersubjetiva e espiritualmente. É a complexidade que sempre esteve presente no materialismo histórico, mesmo que renovado com as peculiaridades da exterioridade do sistema-mundo e com os ensinamentos da cultural popular e religiosa de todos os povos! A crítica ao marxismo vulgar e aos socialismos do século XX não pode obscurecer o potencial de intrumentos de análise e atuação na realidade que se mantêm como úteis e necessários, sob pena de ser uma crítica rasa e sectária, tão vulgar quanto a que acredita denunciar.

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  6. Caro Pazello,

    Só tenho a discordar de sua "análise histórica de conjuntura". Foi a resistência à invasão japonesa (a gota d'água na longa seqüência de humilhações sofridas nos tempos modernos pelo Império Chinês iniciada com a Guerra do Ópio) que angariou a Mao os milhões de chineses voluntariosos que puseram fim a um caquético Império incapaz de proteger seu povo. Seu regime socialista, por outro lado, foi odiado do início ao fim, tendo seu clímax dramático durante a revolução cultural tão inspiradora para ti. "Revolução Cultural" é uma expressão por demais imprópria, suas motivações foram ideológicas e visaram destruir a cultura chinesa a fim de perpetuar um regime insanamente violento, sem artistas, críticos e estudantes rebeldes. E em 10 anos mandaram entre 34.000 (número oficial) e MUITOS MILHÕES (quase tanto quanto o holocausto, segundo várias fontes) de barbudos inconformados como eu e você pro beleléu. Tá bom ou quer mais?

    Há uma bela diferença entre CONSERVADOR e TRADICIONAL, pois a tradição não é estática, ao contrário do que pensam os conservadores. Assim, ao estabelecer o adjetivo "conservador" para uma "tradição milenar" você sugere implicitamente a inovação benéfica da "revolução cultural", em verdade um dos maiores desastres do regime maoísta, e que inclusive acelerou sua derrocada. . É amplamente conhecido o papel da esposa de Mao, Jiang Qing, uma atriz frustrada que nutria ódio extremo por uma das divas do teatro chinês à época, na formulação e direção destas políticas egoístas e elitistas que quase aniquilaram a maior parte das manifestações da cultura chinesa. (Hm... artista fracassado e líder genocida... Quem será que ela lembra?). Para que tenham idéia do ridículo, até mesmo o uso tradicional (e não conservador) de um longo arco de guerra chinês (um dos maiores inventos bélicos da história) foi proibido, e seus construtores (com exceção de um, cuja história também é famosa), escravizados e/ou mortos.

    O argumento de que o "plano ideológico da mulher biruta de Mao" (o nome correto para o evento) tem importância TEÓRICA porque influenciou nossas esquerdas é lastimável. Ele só prova o porquê de nossas esquerdas já nascerem agonizantes e por fim se lambusarem na festa gelatinosa do status quo. Sua única importância é algo similar ao do holocausto: um alerta permanente para o que ocorre quando as ideologias massificadas encontram lugar junto ao povo. Lembrando que ideologia das massas é um objetivo recorrente da política mundial, mas não "subjetividade das massas", algo, por sua vez, que os teóricos socialistas do porvir devem explicar melhor.

    Por fim, reafirmo que a progressão geométrica do capitalismo chinês e sua espantosa solidez foi e é conseqüência direta do regime socialista, que permitiu a mobilização de mão-de-obra em quantidade suficiente para suprir a sua desqualificação em relação às potências ocidentais. Mao, o velho timoneiro, podia não relacionar seu regime escravocrata com ascensão econômica e crescimento da produção e do consumo (afinal, estava interessado em criar uma pátria de homens livres, cultos e com doenças venéreas, e acreditava que o ontem não tinha relação nenhuma com o hoje), mas TODA a cúpula de seu governo estava bem ciente disso... E deu no que deu.

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  7. Caro Diehl,
    Há algumas incompreensões pontuais, verbonominais, eu diria:

    Este artigo de Dussel é por demais sucinto para qualquer análise elaborada. Mesmo não existindo a limitação temática apontada por ti, o que indico é um erro de raciocínio: quando Dussel considera que a rebelião visa (TAMBÉM) superar leis de uma forma ou de outra aceitas pelo povo. Aos críticos do "contrato social" já é o bastante para que o texto de Dussel seja inadequado, mas fica ainda mais difícil não criticar quando se analisa que os regimes são ditatoriais e que a Líbia, por ex., sequer possui uma constituição jurídica. Como é que fica a legitimação formal, então? Parece que o Dussel usa aqueles anagramas dele para falar de algo claramente distinto. Soa mecânico e pouco crível...

    -#-#-#-

    Questionar Marx não é pouca coisa. E até onde me consta, não o fiz. Referências do tipo conteriam a expressão "ideário marxiano" (específico) e não "ideário socialista/marxista/comunista" (genérico). De qualquer maneira, aproveito o vácuo para relembrar que as incompletudes da teoria marxiana se devem, mais do que às raras falhas de seu conjunto (ex.: considerar que o proletariado, enquanto classe, manter-se-ia refratário aos simbióticos deleites do capital), às limitações filosóficas e metodológicas que seu tempo lhe impôs. Afinal de contas, mesmo o maior dos homens é cria do seu tempo. A "teoria das necessidades econômicas" está inserida em tais limitações, se cotejada com as teorias do "marxismo humanista". Pois, como frisei, há um aspecto caracteristicamente humano para além da matéria (corpo) e da mente (pensamento): o espírito (transcendência). Enquanto as ciências sociais não compreenderem o espírito, continuaremos neste caminho de dualidades incontornáveis e utopias lunáticas ao invés de esperanças sólidas.

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  8. Vou continuar um pouco a discussão só para acentuar alguns pontos. No texto "Sobre a prática", Mao Tsé-Tung diz:

    "a prática social dos homens não se limita à atividade de produção. Ela apresenta aind amuitas outras formas: luta de classes, vida política, atividade desenvolvida no domínio da ciência e da arte; em resumo, o homem social participa em todos os domínios da vida prática da sociedade".

    É claro que a crítica às mortandades nunca será demasiadamente batida, mas aqui vale também não reduzir as interpretações históricas ao furor da historiografia que só detrata, pois é o próprio Lao Tsé quem no-lo diz:

    "Quando se defrontam dois exércitos de força equivalente, aquele que sofre por sustentar a guerra alcançará a vitória."

    É bastante conhecida a atuação da mulher de Mao na revolução chinesa, assim como também é (ou deveria ser) conhecida a história da própria revolução na China, instaurada já em 1912, com a proclamação da república chinesa (ou seja, o império cai muito antes da ascensão comunista e com ele cai a última diantia no poder, os Qing). Entre 1912 e 1949, tem vez uma verdadeira ditadura militar que se envolve nas duas grandes guerras. Enquanto isso, em 1927, ocorrem vários levantes populares comunistas e, dentre eles, o de Mao. Assim, camponeses e membros do Partido Comunista Chinês chegam a separar parte de seu território em 1931, com 3 milhões de habitantes. O governo de Chiang Cai-Xeque determina que 1 milhão de soldados vá "exterminar" os bandidos vermelhos que somavam uns 100 mil (basta fazer cálculo sobre as proporções). Estes últimos, em dado momento, batem em retirada dando vida à famosa "Longa marcha" de 12 mil quilômetros para dentro da China e dos 100 mil só sobrariam 9 mil! É óbvio que o contigente liderado por Mao se militarizaria ainda mais e prolongaria a guerra (conforme o próprio ensinamento de Lao) - aliás, como ocorrera, em outras proporções, com a marcha da Coluna Prestes, no Brasil, e com a guerrilha de Che, Fidel e Camilo, em Cuba.

    Em 1931, o Japão invadiria a Manchúria e a partir daí as guerras civis se tornariam mais sangrentas. Descontextualizar os acontecimentos da China pós-Mao é atribuir significado pouco relevante à insurgência popular camponesa havida até então, no melhor estilo das rebeliões taoístas de 184 e 215, durante a dinastia Han.

    Dússel, em um texto de 1984 ("Cultura latino-americana e filosofia da libertação" - http://www.ifil.org/Biblioteca/dussel/textos/28-1/09cap8pp171-231.pdf) cita expressamente as palavras de Mao:

    "É um imperativo separar a excelente cultura antiga popular, ou seja, a que possui um caráter mais ou menos democrático e revolucionário, de toda a podridão, própria da velha classe dominante feudal. (...) A atual nova cultura provém da velha cultura; por isso, devemos respeitar nossa própria história e não amputá-la. Mas respeitar a história significa conferir-lhe o lugar que lhe corresponde, significa respeitar seu desenvolvimento. (...) Quanto às massas populares e a juventude estudantil, o essencial é orientá-las para que olhem para a frente e não para trás".

    E, em outro escrito ("Cultura imperial, cultura ilustrada e libertação da cultura popular", de 1973 - http://www.ifil.org/Biblioteca/dussel/textos/28-1/07cap6pp120-152.pdf), o mesmo Dússel diz, após se referir à cultura popular latino-americana:

    "E por isso Kemal Ataturk voltou-se ao Islã, Gandhi as tradiçoes hindus e Mao Tsé-Tung à cultura popular. Vale ler o texto A nova democracia, em que Mao afirma que 'a antiga cultura popular tem o essencial do revolucionário'. O próprio Mao volta à tradição nacional popular chinesa."

    (continua)...

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  9. (continua)...

    Aí está o significado histórico da "revolução cultural" para a esquerda latino-americana. Fica claro que não compartilho com a generalização de que se trata de uma esquerda agonizante desde o nascedouro e que sempre se lambusa com o sorvete das classes dominantes (Mariátegui, Che, Maríni, as guerrilhas pré-1930 e pós-1960, as revoluções cubana e nicaragüense, as insurreições chiapaneca, oaxaquenha ou grande parte dos teóricos da libertação-dependência não podem ser jogados no lixo como gelatinas de festa das elites).

    Por fim, termino com Paulo Freire, em 1970, citando Mao em seu clássico "Pedagogia do oprimido" (após citar Eric From e vários outros humanistas, vertente que também caracterizaria o pensamento freireano junto ao marxismo):

    "O sentido pedagógico, dialógico, da revolução, que a faz 'revolução cultural' também tem de acompanhá-la em todas as suas fases. É ele ainda um dos eficientes meios de evitar que o poder revolucionário se institucionalize, estratificando-se em 'burocracia' contra-revolucionária', pois que a contra-revolução também é dos revolucionários que se tornam reacionários (ver Mao Tsé-Tung, 'Sobre a contradição')" (cap. 4).

    É claro que não é um exercício de exegese de autoridades teóricas o que importa, mas sim resgatar o significado da "revolução cultural" chinesa para as teorias latino-americanas, para que não coloquemos numa vala-comum os seus efeitos positivos e negativos.

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  10. Caro Pazello,

    Dar sentido ao que foi dito é correto, ao que não foi, não. Tu e Diehl flertam com uma "totalidade" estéril onde se trata apenas de um fractal. Afirmam que não se pode desconsiderar o todo ("jogar a água do banho com o bebê", "colocar numa vala comum", etc...); usam também o argumento de autoridade ("Paulo Freire e Mariátegui são influenciados por Mao", etc...), como se estes homens não pudessem errar. Estivessem em uma banca universitária, a tática seria eficiente, vez que é generalista, hierática e pirotécnica. Mas não podem erguer palavras para dizer que o que houve na China não foi socialismo.

    O Mao estrátego e intelectual não ameniza um regime em que 70 milhões de pessoas (mais de 10% da população!!!) foram assassinadas. A maior parte delas, trabalhadores exauridos até a morte em campos de trabalhos forçados. Proletários. O valor socialista de qualquer obra não se resume à coerência teórica, mas à PRÁXIS. "Não é um exercício de exegese de autoridades teóricas o que importa", tu dizes, mas é o único liame ao qual te agarras, pois que falso resgate além do teórico pode ser feito quanto a prática de Mao destoa grotescamente de sua análise conceitual? Buscar uma aproximação com as esquerdas não te exime de saber diferenciar o socialismo da tirania. És um professor e tens a obrigação de estar consciente disso.

    Paulo Freire, ao dizer da "revolução cultural" em 1970, que "É ele ainda um dos eficientes meios de evitar que o poder revolucionário se institucionalize, estratificando-se em 'burocracia' contra-revolucionária', pois que a contra-revolução também é dos revolucionários que se tornam reacionários", não estava falando da "revolução cultural" que ocorreu. Falava daquela que ESTAVA OCORRENDO havia 4 anos, e cuja divulgação ao mundo se encontrava nas mãos do partido comunista chinês. À época deste escrito, faltava à Freire o distanciamento dos anos seguintes, que comprovariam ser a "revolução cultural" uma tragédia que em nada seguiu a teoria, a não ser em fazer da revolução algo cada vez mais institucional, burocrático e antirevolucionário. Poderia citar MILHARES de intelectuais que advertiram para e condenaram suas conseqüências, mas esta prática é por demais incômoda. Basta dizer que inconseqüência é tu usares um texto com ares panfletários maculado pela euforia com o regime maoísta e que não constitui uma análise séria. "Se Paulo Freire acerta, eu acerto; se erra, eu erro", eis a filosofia utilizada.

    (CONTINUA...)

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  11. Tua apropriação de Lao Tsé usa uma única frase e não informa de qual aforisma foi retirado, ignorando que no Tao é o aforisma inteiro que expressa a idéia. O Tao Te King contém os originais de Lao, uns do lendário Imperador Amarelo e vários outros enxertados por governantes posteriores para justificar atos que não encontram respaldo algum no Tao Te King. Aqueles relativos à guerra, sobretudo. Nos epigramas originais, a crítica ao conflito é evidente:

    "Quem com o verdadeiro Tao ajuda um soberano
    não domina o mundo pelas armas,
    porque as ações caem sobre a própria cabeça.
    Onde acamparam exércitos, crescem cardos e espinhos.
    Anos de fome sempre se seguem às batalhas."
    (XXX)

    "Quanto o Tao reina sobre a Terra,
    usamos cavalos de corrida para puxar esterco.
    Quanto o Tao se perdeu na Terra,
    criamos cavalos de guerra nos pastos verdes."
    (XLVI)

    O "Livro do Sentido e da Vida" não possui este nome para constar em prateleiras de auto-ajuda:

    "O Tao gera.
    A Vida alimenta.
    O ambiente molda.
    As influências aperfeiçoam.
    Por isso, todos os seres honram o Tao
    e apreciam a Vida."
    (LI)

    "Quem mantém em si a plenitude da Vida
    é como um recém-nascido:
    (...)
    Seus ossos são frágeis, seus tendões ternos,
    e mesmo assim seu aperto de mão é firme.
    Nada sabe ainda sobre a união do homem e da mulher,
    e mesmo assim seu sangue se agita,
    porque ele tem a plenitude da semente;
    ele pode gritar o dia inteiro
    e mesmo assim sua voz não fica rouca,
    porque ele tem a plenitude da paz.
    Conhecer a paz é ser eterno.
    Conhecer a eternidade é ser harmônico.
    Propagar a vida chama-se felicidade.
    Colocar a própria força a serviço da cobiça chama-se ser forte.
    Quando as coisas se tornam fortes, envelhecem.
    Tais coisas são contrários ao Tao,
    e o que é contrário ao Tao logo chega ao fim."
    (LV)

    Impossível não ver sua antinomia em Mao Zedong: ególatra, despótico, assassino. Mesmo que fosse apenas líder, para o Tao aqueles que se movimentam, tornam-se fortes e dominam, não compreendem o sentido e a vida, calcada na paz e na quietude, no espírito (a dimensão eterna do ser). Impossível não perceber que o teu uso do Tao não contém o Tao.

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  12. Três pontos para um ponto final (de minha parte):

    1. Mariátegui não foi influenciado por Mao. Mariátegui faleceu em 1930.

    2. O que os ouvidos moucos ouvem? O que querem, por certo. Mas repito, vai que os ouvidos moucos queiram ouvir!: "É claro que a crítica às mortandades NUNCA será demasiadamente batida..."

    3. O uso do Lao foi tão tomado de desconhecimento como a crítica ao Mao, ao Dússel ou às esquerdas latino-americanas: SEM NENHUM CONHECIMENTO DE CAUSA. Além de o que, para os tempos atuais, louvar com cânticos e ladainhas rocambólicas a pseudo-harmonia, a pseudo-paz e a pseudo-vida é ser pior do que neoconfuciano, é uma ânsia indômita e irrefreada por conservar um individualismo que nos levará à felicidade dos salões de beleza ou dos mosteiros - o que não ajuda muito neste mundo de CONFLITO. Aliás, a negação do conflito está mais para a negação hegeliana das antinomias (como colocado por ele em sua "Ciência da lógica") do que para qualquer outra coisa. Por conta disso, prefiro é a metafísica de Cristo:

    "Não penseis que vim trazer paz à terra; não vim trazer paz, mas espada"!!! (Mateus, 10:34).

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  13. A discussão já vai longe e não adianta tentar pegar o bonde andando. Só quero acrescentar algo: qualquer um que inicie ou aceite um culto à personalidade é um completo imbecil, por uma miríade de motivos. Sem nem olhar para os terríveis números do "socialismo" chinês, esse fato já seria suficiente para desacreditar a revolução maoísta. Não consigo pensar em nada que afaste mais um povo do socialismo do que o culto a um indivíduo.

    Existe alguma explicação mirabolante - e certamente indecente - que justifique o culto à personalidade? Ou alguém nega a existência dele?

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  14. 3 pontos para mais 1 ponto final 2 pontos

    I - Troquei por Dussel. Erro meu.
    II - A prática mortífera de Mao Zedong invalida a defesa do seu governo a partir de sua obra escrita, vez que fere o princípio socialista/marxiano da práxis. Já sua assimilação em outros contextos, desde que críticamente, é possível. Mas não foi o caso de nossas esquerdas. Teoria por teoria, basta-nos ler a Bíblia, o Tao e Tolstói, que já disseram tudo e talvez mais.
    III - Interpretar literalmente o Dao e a Bíblia não é recomendável. São textos SIMBÓLICOS que servem de guia espiritual aos devidamente INICIADOS. José "o marceneiro", Maria "a virgem", Tiago e André "os pescadores", "transformar água em vinho", etc..., são expressões simbólicas e não LITERAIS. Assim como a "espada". A espada de Jesus não é a arma metálica (conflito), é a palavra de Deus a temperar o espírito e suas manifestações no plano físico, o símbolo esotérico do autodesenvolvimento. Jesus, portanto, não é um mero conciliador pacifista, é o porta-voz desta necessidade (ainda atual) de mudança interior. Trouxesse ele a espada literal, seria um guerrilheiro vulgar, não a reencarnação do Buda.

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  15. Olha...

    Eu não sou marxista, como já devem ter notado, mas gosto bastante de acompanhar as discussões dos meus colegas que se alinham com esse pensamento e essa aqui agora foi uma das melhores. Muito boa!

    As palavras ficam. Apesar da divergência, o debate sempre acrescenta.

    Abraço em todos!

    =)

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