Por Davi Martins Furtado de Mendonça e Ricardo Loredo Teixeira
No dia 7 de novembro de 2018, o Quilombo de Campo Grande,
acampamento pertencente ao Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra em
Minas Gerais, foi alvo de uma liminar de despejo, aprovada por um juiz do
estado. Ao todo são 450 famílias afetadas pela decisão, famílias essas que com
esforço e empenho construíram no local um polo de produção de alimentos em 1760
hectares, desses, 1200 eram reservados a lavoura dos mais diversos alimentos,
40 eram destinados a uma horta agroecológica e 520 à produção de café, além de
currais e casas. A decisão afeta vinte anos de trabalho conjunto das famílias.
É de
suma importância ressaltar o papel da agricultura familiar para o abastecimento
dos centros urbanos, uma vez que esse modelo é a principal fonte dos alimentos
que chegam às prateleiras dos mercados das cidades. Contudo, é também alvo de
severos ataques dos setores dominantes sedentos por terras, agravando a
situação fundiária do nosso país, que é extremamente concentrada e improdutiva.
A realidade do espaço rural atual é diametralmente oposta àquela prevista pela
Constituição Federal, ao passo que elenca em um dos seus dispositivos - artigo
184 - a possibilidade de reforma agrária.
Os
Sem Terra ocuparam por vinte anos o espaço de uma antiga usina, que por motivos
fiscais, veio à falência. Desde 1998 o acampamento Quilombo Campo Grande era
referência na agroecologia e na produção do café Guaií, reconhecido
mundialmente. A ocupação se deu mediante um Decreto Estadual (365/2015) que
previa a desapropriação do terreno da usina abandonada. Previsivelmente, os
empresários e ruralistas se colocaram contrários ao acordo, e, por meio de uma
liminar ordenaram o despejo das famílias, liminar essa aprovada pelo juiz da
vara. O processo não está finalizado, cabe ainda recurso aos trabalhadores.
Em
suma, é importante compreender para qual lado e de que maneira a justiça é
orientada, assim, saltam aos olhos os diversos casos nos quais o acesso à
justiça é negado ou constantemente embarreirado. Nesse sentido, a partir das
discussões realizadas dentro do curso de extensão, é possível ver como a
assessoria jurídica popular como uma das ferramentas na busca, por parte de
grupos frequentemente rechaçados pela sociedade, como este, pela contempla dos
direitos mais básicos frente aos abusos estatais e privados.
Davi Martins Furtado de
Mendonça e Ricardo Loredo Teixeira são estudantes do 2° período da Faculdade de
Direito da UERJ.