Hoje, economizarei palavras. Trata-se de uma verdadeira economia política da comunicação. Tem dias que precisamos falar, com longas frases e velhas palavras. Aqui, não: redondilhas e o novo se exasperarão! Há quem diga que vivemos em um país tranqüilo de povo pacífico. Nada mais equívoco. Basta olharmos para nosso inconsciente e vermos as veias abertas de nossa insurgência. Por isso, o poema abaixo - crivado com o gosto dos cambucás de nossa história, uma longa travessia que representa nosso legado de ação cultural para a libertação destinado às novas gerações. No poema, torto como nossa história, irmanam-se e conjugam-se a filosofia da insurgência com as experiências rebeldes desta mesma filosofia. Para o fronte!
A REVOLUÇÃO BRASILEIRA
cosmogonia de nossa ação cultural para a libertação
Ricardo Prestes Pazello
Com o braço de Palmares
República de quilombos
Insurretos militares
No exemplo de Porongos
Resistência, força crítica
De caingangues e xavantes
Nas batalhas guaraníticas
E de tantos retirantes
Nas colônias anarquistas
Libertários que improperam
Falanstérios utopistas
Descontentes proliferam
Grevistas de todo gênero
Farrapos e Julianas
De motins menos efêmeros
O poder, guerras cabanas
A revolta dos posseiros
Um acordo Contestado
Zoada de cangaceiros
Equador confederado
Sangue d'ouro em Carajás
Guerrilheiros no Araguaia
Cova grande onde jaz
O exército da Praia
Movimento combatente
Justo timbre do protesto
Conjurado, inconfidente
Num conflito manifesto
A disputa balaiada
O levante de Canudos
E as massas arrastadas
Jenipapo nos entrudos
Na Coluna em longa marcha
E nas Ligas Camponesas
Covardia não se acha
Sim, trabalho; não, tristeza
Seja em Trombas, em Formoso
Porecatu, Caparaó
É o povo, belo e ditoso,
Fazendo uma luta só
Na Intentona comunista
No projeto popular
O horizonte socialista
Uma estrela a nos guiar
Conspiram as nossas gentes
Tal malês em rebelião
Dentre outros INSURGENTES
Tudo foi revolução
...
Tudo é revolução!
Que lindo texto, Pazello. Vc e suas inspirações inspiradoras.
ResponderExcluirClap clap clap clap clap...
ResponderExcluirGrande poema, eu diria até que: épico.
Vai pro nosso artigo, epígrafe?
Abraço
Grande e lindo poema Ricardo Pazello.
ResponderExcluir"Tudo é revolução"
Abraço
poxa pazello, ficou fantástico!
ResponderExcluirValeu, companheirada! Me surpreendi com a recepção. Acho que estamos carentes de poesia revolucionária, já que a poética de hoje está carcomida pelo (anti-)"formalismo" pós-moderno...
ResponderExcluirJá decorei os versos e sou o mais novo declamador da AJP - claro, sem me comparar ao Luiz Otávio ou outros recitadores inveterados!
Forte abraço de luta!
Muito Bom Pazzello...
ResponderExcluirGabriel F. Theis
Não é o Caetano Veloso, tampouco o Carlinhos Brown, mas o Jaime Caetano Braun:
ResponderExcluirPayador, Pampa e Guitarra
Jayme Caetano Braun
Payador - pampa e guitarra,
guitarra - payador - pampa
três legendas de uma estampa
onde a retina se amarra,
payador - pampa e guitarra,
flecos de pátria e poesia
alma - terra e melodia,
sangue de um no corpo d'outro
botas de garrão de potro da lonca da geografia.
Payador - alma e garganta,
emoção e sentimento,
melodioso chamamento que da terra se levanta
parecendo quando canta,
com entonação baguala
que as aves perdem a fala
e o vento apaga os rumores,
pois para escutar payadores
até o silêncio se cala.
Pampa - matambre esverdeado
dos costilhares do prata
que se agranda e se dilata
de horizontes estanqueados,
couro recém pelechado
que tem pátria nas raízes
aos teus bárbaros matizes,
os tauras e campeadores
misturam sangue as cores
pra desenhar três países.
Guitarra - china delgada que
um dia chegou da Ibéria
para tornar-se gaudéria -
da pampa venta rasgada,
- ao payador amasiada, -
nas soledades charruas,
- morando em quartos de luas, -
guitarra e lua são gêmeas,
- e Deus não fez duas fêmeas
mais lindas do que estas duas.
A guitarra - o Payador e o pampa -
sempre afinados
são cordas dos alambrados da vida,
esse corredor;
paz - liberdade - e amor
que nunca serão proscritos
porque nos ermos solitos
onde o canto se desgarra,
cada alma é uma guitarra
presa entre dois infinitos.
Flecos: franjas
Lonca: parte de couro do cavalo ou mula, tirada dos flancos, da região que vai da base do pescoço às nádegas. A lonca não é curtida
Matambre: carne que fica entre as costelas e o couro da rês
Costilhares: parte da rês que cobre as costelas
Pelechado: mudança de pêlo
Taura: diz-se do indivíduo arrojado, valente, destemido, forte, guapo, resistente