"Estas fontes murmurantes, onde eu mato minha sede, onde a lua vem brincar" |
Os povos guarani, caygangue, mapuche, quechua, inca, maia, azteca, entre muitos outros, foram os primeiros habitantes deste continente. A experiência colonial marca profundamente a história da América, por suas características de encobrimento e etnocídio. Os povos africanos que foram trazidos para serem escravizados também sofreram com o processo colonial.
Refletir sobre a América Latina (e o Caribe) é uma dificuldade quando estamos diante de tantas diferenças culturais. Antes que José Martí pudesse referir-se a "nuestra América", os povos que aqui vivem já tinham suas próprias denominações. O encontro entre mundos - como os espanhóis e os mapuche, e os portugueses e os guarani, significou um encobrimento. A cultura anterior é encoberta, negada, destruída, por uma outra, a qual a desconsidera - é o colonialismo.
No nosso caso brasileiro, a própria denominação pelos portugueses "Ilha de Vera Cruz", já significou um encobrimento, que insere-se no conceito de etnocídio. Uma vez que um povo é dizimado, corporalmente, fisicamente - pelo enfrentamento armado, doenças ou outras consequências do contato - existe ainda, o "culturicídio" - quando as etnias são desconsideradas para dar origem ao mito fundador da mestiçagem.
Todos os povos desta terra foram desconsiderados para nascer o mestiço - o brasileiro. Neste processo, a língua oficial escolhida foi o português, não o tupi.
O etnocídio existe enquanto experiência histórico antropológica, ainda, no caso dos povos africanos. Diferentemente daqueles que já aqui habitavam antes da chegada dos europeus, os africanos foram trazidos por aqueles para aqui trabalharem como escravos. O encobrimento da cultura negra iniciou desta maneira e seguiu mesmo após a suposta abolição da escravatura.
Hoje, os povos que aqui já estavam - primeiros viventes - e os povos que foram trazidos como escravos - primeiros trabalhadores - enfrentaram inúmeras dificuldades para conviver com os povos que para aqui vieram - primeiros migrantes. Estes diferenciam-se dos anteriores em razão de sua predisposição para aqui viver após uma longa viagem.
É necessário diferenciar, ainda, o migrante português das grandes navegações, do português da política de povoamento. Enquanto que o primeiro estava tomado por sentimentos de conquista, "descobrimento", heroísmo; o segundo por sentimentos de esperança por uma terra em que sua sobrevivência fosse possível.
Este pensamento de conquista vai determinar a histórica da América, conforme Enrique Dussel. O encobrimento do outro será o momento histórico mais importante para nós americanos, e deixará marcar profundas em nossa filosofia.
Por fim, resta manifestar o sentimento de grande respeito e admiração pelos primeiros habitantes de nossa terra - viventes, trabalhadores e migrantes - na utopia de que um dia nossa convivência seja livre.
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