quinta-feira, 13 de maio de 2010

Resenha do livro de Elaine Tavares

Na obra "Porque é preciso romper as cercas" Elaine Tavares, jornalista popular, relata sua experiência junto aos trabalhadores rurais sem-terra do Rio Grande do Sul, na década de 1980.


O subtítulo "do MST ao jornalismo de libertação" já anuncia a proposta inovadora e necessária de pensar um trabalho de comunicação junto ao povo que seja comprometido, radical e insurgente.

Elaine, ou "Cuca", rompeu as cercas dos latifúndios gaúchos junto com aqueles que lutam pela reforma agrária no Brasil. Rompeu também com o manual de redação, com as teorias do jornalismo imparcial, fez um rasgo certeiro no coração do capitalismo, que é sua imprensa servil, mentirosa e vil.

O relato, "baseado em fatos reais", é repleto de encantamentos. "Cuca" é como uma personagem quixotesca que enfrenta poucas e boas para contar a história de ocupações de terra, na mais crua realidade. Junto as seus fiéis companheiros e seu "picasso italiano" (uma caminhonete Fiat) atravessa estradas lamacentas para ver com os próprios olhos o camponês sem-terra que lavra a terra, luta e chora.

"-É bom ver este povo trabalhar, mas ainda é pouca terra pra muita gente - disse o Egon, num tom que vislumbrava novas lutas. E o trator ia e vinha lavrando a terra. Ao longe, o negro Antônio pisava na terra fofa, com os pés descalços, mãos atrás das costas e a cabeça baixa. Era um homem velho, mas ainda forte. Negro acostumado a servir patrão. Seguia o rastro do trator olhando o chão, sentindo a terra aberta nos pés gretados pelo tempo e lida. Era dele, tudo o que tirasse dali era dele e dos companheiros. Quando notou o Gilmar filmando, abriu um sorriso desdentado e fez sinal de positivo. Depois, seguiu cismando no rastro do trator. Do meu lado, Egon sorria, olhando a cena com ternura. - Está feliz!". (p. 92).

Ver ainda:
Revista teórica pobres & nojentas

Um comentário:

  1. Bela notícia esta. E muito bom ficar sabendo de agentes críticos no âmbito da comunicação. Sem dúvida, grande parte - ou talvez a principal parte, junto com o Judiciário e o aparato policial - dos estragos da criminalização dos movimentos sociais está na ação tendenciosa da mídia hegêmonica brasileira.
    Saudações a todos e todas que, de alguma forma, não se conformam com a versão da história dos "poderosos" e fazem, como a jornalista em questão, uma tentativa de conhecer a realidade na concretude do seu cotidiano e dos oprimidos-militantes.

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