Miguel
Lanzellotti Baldez
Crédito: Pablo Vergara - Brasil de Fato (RJ) |
Deram o circo, e
que circo? Muito bem montado, com grandes atores e até deslumbrados cantores de
fala afiada e serviços indecifráveis mas tendentes ao cinismo, ensaiando enfim
um esforço de forte tendência global. O povo, porém, embora parte de si tenha
ido ao circo, correu às ruas de todo Brasil, em lindas e inesquecíveis manifestações,
gritando, para o tempo de todos os tempos, numa só voz: - senhores do circo
olhem nós aqui, estamos vivos.
Aquele grito
alcançou toda a nacionalidade, e todos ficaram atônitos, pois difícil lhes
pareceu explicar o acontecido. Será que o povo acordou, ou apenas parecia
adormecido ou dopado por mentiras, arranjos, disfarces e outras guirlandas
perversas a ele oferecidas por discursos e praticas oficiais ou oficiosas.
Ou será que o
povo resolveu descobrir se do falso manto que lhe concederam de gigante adormecido
para cantar o verdadeiro hino de libertação, um hino que é dele, e só ele sabe
e pode cantar? É isto senhores atônitos e embasbacados: esta gente toda, Brasil
afora está exercendo no fato da história seu poder constitucional, um poder que
é só dele.
Um olhar, pequeno
que seja, sobre a história do Brasil revelará que seu povo só teve voz, nos
momentos de insurreição, autênticos surtos revolucionários, como, por exemplo,
em Palmares, Canudos, no Contestado, na Cabanagem e na atual ação política dos movimentos
populares, valendo citar o MST, Movimento Nacional dos Trabalhadores Rurais Sem
Terra e MNLM, Movimento Nacional de Luta Pela Moradia. Pois agora é o povo todo
que está nas ruas deste Brasil imenso descobrindo numa nova e fecunda práxis
que mais lhe vale a presentação, o falar e agir por si próprio, e não a
representação que bem serviu a burguesia quando fez a sua revolução, usando o
povo para tomar a Bastilha para depois mantê-lo submisso pela força, ou pela
teia de leis e normas que deram juricidade ao modo de produção capitalista.
Nos gritos da rua
certamente descobrirá, neste empolgante exemplo de cidadania, que somente
organizando-se em instâncias ou conselhos populares, como já vem acontecendo
com os movimentos sociais poderá exercer em toda a plenitude o poder de
presentar-se independentemente de partidos políticos e dar vida à democracia
direta prescrita no artigo 1º da Constituição Federal.
É isto, enfim, o
que a nossa gente está fazendo, assumindo o poder próprio de sua soberania, sem
receio de abusivas e intoleráveis acusações dos porta-vozes do sistema.
Vândalos, com o
sentido que dão a expressão, são eles, que vem vandalizando a nossa terra e o
povo brasileiro há muitos e muitos anos.
Lindo texto do Baldéz. Lúcido e caloroso!
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