Jelson Oliveira
Do livro “Raízes: memorial dos mártires da terra”
Eugênio Lyra
(Advogado
dos trabalhadores/as rurais de Santa Maria da Vitória e Ecoribe, Bahia.
Assassinado no dia 22 de setembro de 1977).
(Pesado,
o tempo vestiu a suficiência do carvão
Engomado
pelo destino severo da morte e suas ferramentas...)
Preservaste
a dureza exata das verdades
Como
rubis perpetuados no celeiro escuro da terra
Como
peixe embebido no rio e suas diferenças
Como
nuvem decifrando o enigma cilíndrico do azul.
Antes
que a terra ouvisse o rouco grito
- e a
queda do corpo recolhido
retornasse
ao orvalho e à cal -,
foste
um silencia estendido e úmido,
soprando
acima dos tribunais armados.
Foste a
fertilidade dos protocolos
E suas
vasilhas de invejas e tiranias.
Habitante
das legislações do amor e seus ninhos,
procuraste
os roteiros desusados da Justiça
para
traçar o direito proibido dos pobres.
Apartado
como um rio, carregado de verdade e som,
Defendeste
a integridade do povo
Na casa
onde desfalece o corpo dos relâmpagos.
Indomado,
acendeste a luz para lumiar
O caminho aos que te seguem noite adentro...
EUGÊNIO LYRA
Era uma vez uma criança que lia
E, num instante, a palavra lida se fez carne
Terra batida, sol a pino
Luz do sertão, mãos estendidas
Fez-se olhar sem ter onde
Corpo que espera o outro
Abraços de tantos que vagueiam
E a palavra se fez lei, grito calado
Latifúndio, latim
E a criança que lia virou homem, andarilho
Viu-se nos outros, como se via nas palavras
Pariu a si mesmo emprestando sua voz
Fez-se ato, gesto e luta
Homem que, por se fazer ser em muitos
Cravou sua sina
Era uma vez uma criança que lia
Eterna criança que se fez e se faz
Em nós – Justiça
A volta do ladrão de gado
Cordel anônimo em homenagem a Eugênio Lyra,
de lavradores de Santa Maria da Vitória
Hoje eu vivo recordando
já não esqueço seu nome
de quem morreu inocente
pela tradição de uns homens
o saudoso advogado
o nosso Doutor Eugênio
que deixou grande saudade
do maior ao mais pequeno.
Eu peço ao Deus poderoso
o nosso pai de bondade
protegei todos que lutam
com essa dificuldade
dai muita força e coragem
à justiça para vencer
os grileiros da Bahia
senão muitos vão morrer.
Em 22 de setembro
houve este acontecido
foi isto em 77
gravei bem no meu sentido
quando chegou a notícia
que Eugênio tinha morrido
morto por um pistoleiro
mandando pelos bandidos.
Poema anônimo a Eugênio Lyra
Meu coração está magoado
minha alma está ferida
meu real advogado
por nós perdeu a vida.
Ó tristeza para todos nós
quanta amargura
nunca mais veremos seu sorriso
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