
"Monólogo"
Meu filho,
se te dissesse que poderia haver um mundo de duas classes,
em que uns trabalham e outros não,
e os que trabalham. mendigam, e passam fome,
e os inúteis gozam e desperdiçam.
Se te dissesse que poderia haver um mundo
em que uns têm tudo: pão, remédio, crianças, futuro,
- já nasceram proprietários do futuro! -
e os outros não tem nada, nem mesmo meios para a luta,
a grande luta desigual.
Se te dissesse que nesse mundo
há homens de automóveis, tapetes, mulheres perfumadas,
e homens na chuva, ao relento, mulheres nas calçadas,
e aos primeiros não causam a menor impressão tal acontecimento
e os outros não se revoltam, - estendem apenas as mão vazias
- e exalam lamúrias.
Se te dissesse que a justiça e a fé são mercadorias inacessíveis
aos realmente necessitados:
e o direito é apenas a lei que manterá tal estado de coisas;
e há homens que jogam a riqueza pelo prazer de jogar
e outros que mereciam e morrem sem conquistá-la.
E se te dissesse que apesar de tudo esse mundo existe realmente
e vive, progride, e avança,
havias de me dizer: impossível, meu pai,
um tal mundo jamais poderia existir
nem poderia a vida afinal ser tão má!
Entretanto, meu filho, basta abrires teus olhos,
aí está, - parece incrível, não é? - mas aí está!
A idéia compõe o real?
ResponderExcluirMuito bom poema!
Depois de uma semana de muito trabalho para tod@s, nada melhor que este lindo poema.
Recarregamos as energias, vamo que vamo, não deixa cair!
Década de 40 do século passado, Pazello!É uma vergonha essa poema ser tão atual...
ResponderExcluirE, Ribas, você disse tudo!
Pô, pazello, valeu por nos brindar com esse poema.
ResponderExcluirTambém nunca tinha ouvido falar do cara. Mas essa poesia já disse muito dele.
nayara tem razão, é sempre uma vergonha. A realidade esta aí, basta enxergarmos. Como diria saramago: 'se podes olhar, vê. Se podes ver, repara'