quinta-feira, 7 de abril de 2011

São sangue, são lágrimas



"Massacre em escola no Rio de Janeiro iguala o Brasil aos EUA e ao seu pior jornalismo"

Há uma sublime parte de nós que cala enquanto tudo fala. Sublime parte, que resulta em ser angelical, doce e, ao mesmo tempo, insensata porque não encontra sentido na realidade e daí que não procura interrogar o que vê. Quem nunca chorou diante da beleza? Já diria Vinicius de Moraes. Mas, a tristeza, a mais profunda delas, nos leva ao desconhecido de nós mesmos e ali, onde a dor queima, há um silêncio absurdo de insensatez e a única claridade no escuro nos chama para dentro sem dizer nada e não quer que nada se diga. Porque ninguém quer compreender de verdade o mundo sem o amor e quem terá direito de procurar com palavras o amor na história dos que sobreviveram, quando tantos morreram? E como daremos um sentido sólido a esta história rasgada*? Rasgada como uma folha de mangueira cortada ao meio em que o branco torna-se vermelho e vice-versa. O que é sangue? O que são lágrimas? Não vejo. Queimo e tudo embaça. São sangue, são lágrimas**.

*Assim, pensando eu em Samuel Beckett: “As palavras são manchas desnecessárias sobre o silêncio e o nada”.

** Aqui se faz um ponto porque é silêncio, mas há algo que fala (Trecho do livro “Tudo que é sólido desmancha no ar” de Marshall Berman): “[...] Logo depois de terminado este livro, meu filho bem-amado, Marc, de cinco anos, foi tirado de mim. A ele eu dedico Tudo o que é sólido desmancha no ar. Sua vida e sua morte trazem muitas das idéias e temas do livro para bem perto: no mundo moderno, aqueles que são mais felizes na tranquilidade doméstica, como ele era, talvez sejam os mais vulneráveis aos demônios que assediam esse mundo; a rotina diária dos parques e bicicletas, das compras, do comer e limpar-se, dos abraços e beijos costumeiros, talvez não seja apenas infinitamente bela e festiva, mas também infinitamente frágil e precária; manter essa vida exige talvez esforços desesperados e heróicos,e às vezes perdemos. Ivan Karamazov diz que, acima de tudo o mais, a morte de uma criança lhe dá ganas de devolver ao universo o seu bilhete de entrada. Mas ele não o faz. Ele continua a lutar e a amar; ele continua a continuar”.

Créditos de imagem: Correio do Brasil

3 comentários:

  1. Realmente é triste... Mas o pior é ter de aturar o sensacionalismo feito às custas do sofrimento alheio.
    " a violência é tão fascinante e nossas vidas são tão normais..." Legião Urbana

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  2. É como você mencionou... É o inefável da dor.

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