quarta-feira, 8 de junho de 2011

CORAJE e música!

por Lucas Vieira Barros de Andrade

Mais uma vez volto à postagem inicial "O que é assessoria jurídica popular?" para o registro de atividades do Corpo de Assessoria Jurídica Estudantil (CORAJE/PI). Na postagem, o ponto 11, coloca-se a necessidade de "inserção de dinâmicas e outras atividades lúdicas ou artísticas (poesias, músicas, brincadeiras, teatro, dança, filmes, etc.) fomentam a produção do tesão nas ações desenvolvidas, seja numa simples reunião de final de semana, numa formação interna, ou numa oficina da ação extensionista"

Algo sempre que tentamos utilizar em nossas atividades foi o uso de arte, como poemas, vídeos e, principalmente músicas. Espalhamos poesias pelos corredores para divulgar nossos espaços, vídeos para problematizar questões e músicas para sensibilização. A música é muito marcante para nós desde "Por quem os sinos dobram?" que elegemos como nosso hino, passando por Clube da Esquina nº 2 onde manifestavámos que (Nossos) sonhos não envelheciam, entre outras e lembrando de Dom Quixote, inspiração para o nome da gestão do CAD/UESPI, uma das sementes do CORAJE, "Por Amor às Causas Perdidas", curiosamente hoje mote do livro do Slavoj Zizek.

A música é, inegavelmente, um espaço fecundo para as atividades do Movimento Estudantil. Muitos nomes de chapas são inspirados em letras da MPB: Primavera nos Dentes, Além do Mito, Desafinando o Coro dos Contentes, Já é tempo de Sair do Lugar, Além do Que Se vê, Nada Será como Antes, Mais Vale o que Será, etc. Não à tôa, na época da ditadura, havia uma discussão muito forte entre a música dita de "protesto" e as demais músicas. Nesse sentido, interessante ler o Manifesto de Augusto Boal, que colocava a Tropicália, como o símbolo da mais burra alienação.

É certo que a música pode estar a serviço da alienação, do inconformismo (a própria Jovem Guarda foi o exemplo mais escancarado), mas não se pode negar a possibilidade de apropriação de músicas mais metafóricas que, embora não façam a denúncia direta, guardem sentidos contestadores. Ainda que a intenção inicial não tenha sido a "derrubada da parede", e sim apenas a redecoração, a forma como ela é usada pode ressignificá-la, podendo tão quanto "Disparada (para não dizer que falei de flores)" - uma das músicas de protesto mais conhecida - ser um meio para chamar o povo a dar as mãos, fazer a hora, sem esperar acontecer.

Como Paulo Freire coloca o importante é que nossa voz tenha outra semântica, outra música. "Falo da resistência, da indignação, da ‘justa ira’ dos traídos e dos enganados. Do seu direito e do seu dever de rebelar-se contra as transgressões éticas de que são vítimas cada vez mais sofridas.

Assim, se utilizamos as músicas como elemento sensibilizador, questionador, acompanhado de todo um processo pedagógico, o seu potencial crítico, mobilizador se mutiplica.Voltando à idéia da postagem (Coraje e música), dentre as várias músicas já trabalhadas no projeto principalmente nos nossos ciclos de formação (os chamados encorajamentos) destaco uma, utilizada em uma recepção aos calouros. "Noites do Irã", Rodrigo Maranhão.

A idéia de utilizar tal música vem na desconstrução da idéia civilizatória e progressista da Globalização, de melhorias para toda a população mundial. A intenção era agregar, também na discussão da descolonização, inquietação que se fortaleceu no projeto, principalmente, após o minicurso "Crítica da Crítica Crítica". Nas palavras do nosso companheiro Pazello:

Quando nossa tarefa se torna a de debater sobre o “como” a partir do qual se deverá entender a América Latina e, dessa forma, nós mesmos, impossível não concluir pela necessidade de descolonizar nossas lentes e óculos e perceber que temos irrevogável mandato – o de pensarmos a nossa realidade desde nossa geopolítica e de construirmos nossa realidade desde nossa vivência autêntica.

Rodrigo Maranhão - Noites do Irã

Quem sabe o que canta o menino no mundo dos homens
E não nesse mundo quadrado que os olhos me comem
Quem sabe a canção de ninar de uma mãe afegã
Quem sabe dizer haverá poesia nas noites do Irã

No Zaire, qual hit-parade?
Luanda quem ouve teus ais?
E que pedacinho me cabe em qualquer um dos teus canais?
Se tudo tá globalizado, notícias de Gana não vi
E quantos irmãos que não tive por um grande irmão que não quis

Menino tu tenhas cuidado
Que as rádios podem não gostar
Não fale tal barbaridade
E ponha-se no seu lugar

Me diz quem ditou essa moda
E quem vai julgar o juiz
E quem vai viver de mentira
O sonho de outro país

2 comentários:

  1. Que maravilha Lucas!
    Quero saber ainda quando veremos por aqui teu arsenal de chistes?

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  2. Rapaz, esses posts do Lucas me levam a crer que escrever pode transformar alguma coisa. Boas reflexões!

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