Companheiros
Durante o ano de 2009, estive em constante aprendizado com o povo mapuche que se situa no centro sul do que hoje chamamos Argentina e no território Chileno.Povo este que revindica sua condição sócio-cultural de nação - separada tão somente pela Cordilheira dos Andes- mas que as fronteiras da dominação ocidental através dos Estados Nacionais não conseguiram disseminar. Através das atividades da Universidad Popular y Originária (organização multiétnica que trabalha com a cultura mapuche e quechwua) pude descobrir um pouco destes povos ancestrais, suas transformações no tempo e seus desafios na resistência do hoje, situações capazes de tocar a um e a sua responsabilidade, enquanto missioneira e latino- americana.
É nessa busca social de respostas (parafraseando a Galeano) que escrevo, não por respostas, mas para alerta dos que ainda desconhecem a atual situação de perseguição e Estado de Exeção vivenciada pelo povo Mapuche no Chile. Em mapuzungun , Ka Mapuche significa gente de outra terra, por isso eles nos ensinam que em verdade, Mapuches somos todos nós, já Wallmapu traz o significado da importância da terra enquanto passado histório, enquanto cuidado com a coletividade, quando este povo originário diz que é o " territorio nuestro". Porém no Chile, como em toda a América do Sul a questão da terra sempre foi determinante na construção da " identidade e sentimento nacional", com o " problema" de que nesse espaço a terra tinha "índios" ( na condição colonial e dominadora do termo), sendo que no Chile esses "índios" ainda resistem .
Nos últimos oito anos o grau de violência e repressão por parte do Governo Chileno ao povo Mapuche aumentou, sendo que os mesmos vêm sofrendo perseguições políticas acusados por " atos terroristas" ,depois da internalização da Lei anti-terror elaborada pelo Governo norte- americano de George W. Bush, pós 2001. Há uma perseguição sistemática de dirigentes e autoridades destacadas que na maioria dos casos termina em prisões, julgamentos ilegais, sem direito de defesa, que ferem bruscamente o respeito aos direitos humanos, à alteridade e à autonomia do Povo Mapuche.
Muitas organizações chilenas de Direitos Humanos denunciam que além de hostigar e perseguir as comunidades Mapuches, o Governo Chileno tem implementado a política do "gatillho fácil" para seus agentes repressores, o que tem possibilitado o extermínio de líderes mapuches , a impunidade, o desrespeito aos direitos humanos, além do fato de que muitos agentes repressores ganharam reconhecimentos e premiações de acenso dos seus cargos.Então, diante de tal quadro, surge a indagação: tamanho genocídio ( pois sim, a perseguição política a um grupo determinado no Chile tem as características de outras bárbaries já praticadas) acelerado dentro de um governo de "concertação de centro esquerda", tem alguma possibilidade de freio com as eleições de um governo de direita? Ou seria isto um alerta a todos nós, latino americanos, que nos deparamos com períodos eleitorais próximos?
Sinceramente, o avanço da direita chilena não se deu do dia para noite, era previsível dentro de suas ações e empreitadas de abertura liberal, contratos bilaterais e vendas de terras a empresas estrangeiras, o que não deixa de ser um sinal a mesma direita que resiste em debater de uma forma democrática o plano de direitos humanos aqui no Brasil, e que demoniza a própria noção de DH.
Enfim, se nega-se um direito básico, que é o de permanecer na terra, que são terras ancestrais Mapuches, em muitos casos usurpadas pelo " homem branco", o Estado Nacional ( no caso o Chile), não continua tratando-os, da mesma forma que no século XIX?Como um " invento pela cultura da conquista"? Apesar das muitas recomendações da ONU e de outros países acerca da situação chilena, o Governo ainda não retrocedeu nenhum passo em suas ações totalitárias. Entretanto, qualquer negação, implícita ou Estatal de que há uma reprodução sistêmica da violência, impede o avanço na proteção à diversidade, à plurietnicidade e também o efetivo exercício da democracia.
COMUNIDADES: De l Pu e b lo d e T o l omb ó n; Di a g u i t a E l Mo l l a r ; I n d i a Qu i lme s ; I n d í g e n a d e Ama i c h a d e l V a l l e ; I n d í g e n a d e Ca s a s Vi e j a s ; I n d í g e n a d e Ch u s c h ag a s t a ; I n d í g e n a d e l Va l l e d e T a f í ; I n d í g e n a Di a g u i t a Ca l c h a q u í An ima n á ; In d íg e n a l a An g o s t u r a ; I n d í g e n a Ro d e o Gr an d e ; In g ama n aFuente: http://www.argentina.indymedia.org/
Contatos de imprensa: uniondiaguita@gmail.com
Cara Roberta,
ResponderExcluirMuito bom seu texto. Pelo que transparece, ele faz parte de estudos que você realiza por aí.
Parece que a conjuntura política chilena não anda nada favorável aos povos indígenas, apesar da ratificação, ano passado, da Convenção 169 da OIT pelo governo chileno - um dos últimos países latino-americanos a incorporá-la.
Sem dúvida, os conflitos com relação a terra são fundamentados por filosofias diferenciadas e, por vezes, antagônicas, de concebè-la, daí que situação similar esteja ocorrendo com os povos indígenas localizados ao longo da bacia do rio Xingú, na fatídica questão da Barragem de Belo Monte, ao qual o governo Lula e o empresariado não têm medido esforços para passar por cima das reivindicações e dos direitos coletivos dos povos indígenas.
Para se ter uma idéia, na cidade de Altamira, no coração do vale do Xingú, os pró-barragem perguntam assim na rua para os moradores ou visitantes: você é a favor ou contra o progresso?
Só nos resta lutar para que este e outros progressos sejam barrados e convertidos em propostas democráticas e plurais de desenvolvimento sustentável.
Afinal, como diz uma pichação encontrada num muro em Altamira: "BELO MONTE DE MERDA" essa tal barragem!
Assis
Olá
ResponderExcluirConheci a luta do povo mapuche em função da amizade com um jovem poeta chileno que conheci em Cuba. Este poeta era também ator, e fazia agitações de rua com muitos poemas em homenagem aos mapuche, no Chile.
Importante ressaltar que o sociólogo/antropólogo cubano Fernando Ortiz foi um dos estudiosos desta causa.
Além disto, o Ortiz escreveu o livro "Contrapunteo Cubano del azúcar y del tabaco”, que muitos comparam com a obra "Casa grande e Senzala" do Gilberto Freyre.
VER: http://www.ufrgs.br/cdrom/ortiz/comentarios.htm
Olá Assis
ResponderExcluirPois sim, a situação dos Mapuches no Chile é de extrema gravidade, o movimento Mapuche que vive em Mendoza e Rio Negro vem fazendo as denúncias de forma sistemática na Argentina, eles alegam e comparam a situaçõ da Região do Bio- bio no Sul do Chile à faixa de Gaza, dizem que é um território militarizado pelo governo.
Na verdade existem muitos coletivos dos povos originários que vêm denunciando abusos e massacres como o de Bágua no Peru e de Pando na Bolívia. Na Província de Rio Negro o movimento conseguiu a instalação de um observatório de Direitos Humanos, porque na Argentina existe a forte concepção no imaginário social de que os índios "desapareceram" com a conquista do deserto, o que em certa parte se reproduz também na cultura de negação que temos aqui no RS.
O movimentos originários da Argentina, têm uma forte ligação e intercâmbio com os movimentos da Bolívia, do Chile e do Peru, mas sempre deixaram transparecer que gostariam de ter um contato maior com os povos do Brasil.E no fim companheiro, a luta é uma só!
Roberta