Por ocasião da segunda etapa do curso Lutas Populares do Paraná, organizado pelo Centro de Formação Milton Santos-Lorenzo Milani em parceria com o CEPAT, torno pública pequena aventura poética, resultado de estudos sobre a "Resistência no Paraná: índios e negros invocados".
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RESISTÊNCIA NO PARANÁ: ÍNDIOS E NEGROS INVOCADOS
Para o amigo Cido
I. Resistência indígena ante o “vazio demográfico”
Levanta, Guarani!
Levanta-te, Caingangue!
Levanta e vem, Xetá!
Levanta e vai, Xocleng!
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1. Levanta, Guarani!
E amplia as reduções
Pacifica o branco “brabo”
Deblatera contra o estado
Peabiru, suas missões
Resgata Guairacá
Chorando Sete Quedas
Cinco exércitos
vencidos
Cinco séculos perdidos
Recupera as tuas terras
E faz guerra ao invasor
Segue o exemplo Carijó
Vai e ocupa o Inhoó
Recuar é tua dor
Assusta o tal Barão
Derruba sua bandeira
Ataca aquele aldeamento
Pra impedir o arrendamento
E refaz tua fronteira
3. Levanta e vem, Xetá!
Faz, sim, ecoar tua voz
Do forte tronco Tupi
Reaparece bem ali
Onde se foi de nós
Preenche o sempre vazio
Imposto já a espingarda
Extermina teu algoz
E o museu, feição atroz
Lhe expondo a retaguarda
4. Levanta e vai, Xocleng!
Ocupar o Ibirama
Pois dileto foi você
Para a família Jê
Construir sua própria trama
Rompido Paraná
Sem cordão umbilical
Te alimenta o filho índio
Nada menos ameríndio
Em sua terra natal
5. Cuaraí
Oguatá,
Ocoí, Iviporã,
Xetá, Marangatu,
Araçaí, Coho Um
M’Biá, Itamarã
Guaíra, Guairacá
Vaiton, Viri, Condá
Jataí, Arapquembé
Mangueirinha, Cretã
E Cacané
Porã
Levanta-te, Caingangue!
Levanta e vem, Xetá!
Levanta e vai, Xocleng!
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II. Resistência negra ante o “Brasil
diferente”
1. Irrompe, Povo Negro!
Evoca, assim, teus bantos
Quantos ancestrais sagrados
Em corpos escravizados
E em incontidos cantos
Insurge, Negro Povo!
Contra estas leis tiranas
De vãos colonizadores
Sesmeiros e
(maus) feitores
Torturas veteranas
Documentos sobre a abolição da escravatura no Paraná |
2. Rebenta, Povo d’África!
Revela ao Paraná
Que se diz ume estado alvo
Mas que nunca esteve a salvo
Do pranto em iorubá
Ressurge, Quilombola!
Jogando capoeira
Vai trocar a mão com pé
Respeitar o candomblé
No Vale
do Ribeira
Tua elite traficante
Combatente em nosso porto
Para ver o negro morto
E agride o Cormorant
Insurge, Povo Negro!
E vai dar o teu Ultimatum
Libertando tua irmandade
Construindo outra sociedade
Com cheiro, som e tato
4. Angolas,
Congos, todos
Bantos pretos, Cabindas
Mais Cassangas e Rebolos
Outros Benguelas e Crioulos
De quimbunda
e outras línguas
Também os Sudaneses
Nagôs, Jejes, Hauçás,
Minas e Guinés terão,
Mesmo mais que Redenção,
Suas terras, Paraná.
Levanta-te, Caingangue!
Mas vem, Xetá, Xocleng!
Irrompe, Povo Negro!
Insurge, Povo Banto!
Coré-é-Tuba,
20 de abril de 2015.
Ricardo Prestes Pazello
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Façamos de nossa história poesia, pra dizer aquilo que precisa ter um fim e também aquilo que precisa permanecer. Parabéns por este belíssimo poema, que nos enche de energia para seguir.
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