quinta-feira, 31 de março de 2011

Versos d'Arak

Há um tempo, estava no Ver-o-Rio, espaço onde se come uma ótima tapioca e se assiste belíssimo pôr-do-sol na cidade de Belém/PA, quando reparei num varal um senhor com chapéu de palha pendurava alguns papeis. Era Antonio Juraci Siqueira, poeta paraense, conhecido pelo empenho na popularização da poesia e difusão autônoma de seus versos.
Juraci Siqueira é de uma geração marcada pela ditadura militar e pelo cerceamento da liberdade de expressão, o que não o impediu de fundar, nos anos 80, junto com outros poetas regionais, o grupo Malta de Poetas e criar poesias que ressaltam o contexto sociocultural e político-ambiental da região amazônica.

Pois bem, comprei um de seus livros de poesia que ele vende no mesmo espaço do varal, chama-se Cópula Mística, do qual gostaria de ressaltar duas poesias, para que tod@s conheçam o talento deste grande poeta popular papa-chibé.

Cópula Mística
O Homem se faz homem respondendo
presente à realidade – dialética
da vida contra a morte – eterna ética
imposta ao ser mortal – o ser em sendo.

E o rio se faz rio entre martírios
vencendo aturiás – coroa de espinhos –
rasgando na existência mil caminhos
atrás do verbo amar – coroa de lírios.

Os dois – o homem e o rio – unificados
se tornam, mesmo assim, multiplicados
que ninguém saberá onde um termina

nem onde nasce o outro, pois a sina
de ambos é viver num eterno cio,
no qual o rio é o homem e o homem é o rio.


Canto libertador
Escuta, nos poemas que te oferto,
batidas de tambor, rumor de remos
retalhando essas águas seculares
onde remaram nossos bisavós.

Ouve os gritos de dor rasgando o tempo
nos porões dos navios, nas senzalas,
nos troncos, nas fazendas, nos garimpos
a retumbar no âmago de nós.

É preciso correr! O tempo urge!
Carece remover o esterco, a lama
que a História sobre nós depositou.

E é preciso cantar! Ódio e tristeza
não trarão água e pão à nossa mesa,
não cobrirão de flores nosso chão.

3 comentários:

  1. Oi, Assis!

    Obrigada por compartilhar estes versos conosco.

    =)

    Cada ser humano sensível espalhado por aí, longe das luzes da ribalta...

    E o que é "papa-chibé"?

    Abração!

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  2. Oi Nay,
    Pois é, tanto artista por esse Brasil a fora. Aqui em Altamira, onde agora resido, tenho conhecido tanta gente bacana, até organizei o Sarau de Poéticas e Direitos Humanos para utilizar o espaço da universidade para servir à divulgação desses artistas e de suas artes.
    Bem, papa-chibé é quem nasceu no Pará, o chibé é um tipo de comida (farinha com água), e papa é aquele que come essa farinha, como por aqui a galera é gamada numa farinha, já viu né!
    Abraços.

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  3. Ah!

    Muito bacana essa sua iniciativa,Assis...Inspirador! A literatura é um mundo a ser explorado, seja a erudita, seja a popular, há sempre maravilhas em ambas ( inclusive em sua mistura). E você parece que está sabendo fazê-lo muito bem... Poesia falando a língua dos direitos humanos, ou pelo menos das promessas neles contidas. Muito bacana!

    E gostei dessa palavra: "papa-chibé". srsrs! Por aqui ( Piauí), também gostamos bastante de farinha ( farofa!).

    Abraço!

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