quarta-feira, 9 de março de 2011

A religiosidade e a assessoria popular

Depois de ler o artigo de nosso colunista Jacques Alfonsin intitulado "Romaria da terra: os sonhos do Sepé ressuscitados", no blogue RS Urgente!, escrevo comentário sobre a religiosidade e a assessoria popular.
Nosso colunista Jacques Alfonsin, ou seria Santa Claus?



Sabendo da importância deste tema para o Jacques, e inúmeros outros assessores populares brasileiros, deixo muito claro meu objetivo de apresentar uma reflexão corajosa e solidária.
Meu primeiro esforço é de apresentar as idéias de nosso companheiro Jacques, para então apresentar meus comentários.
Para o Jacques, a religiosidade faz parte de seu trabalho popular. No qual se fundamenta na teologia, utiliza em seus textos passagens bíblicas e atua na educação popular em Comunidades Eclesiais de Base, da Pastoral da Terra, da Igreja Católica.
Sua militância na advocacia está ligada a ação católica desde seus tempos de estudante de direito, nos anos 1950. Sua advocacia é dirigida aos pobres, pois acredita que além da indignação ética o que move o advogado é a espiritualidade. A prestação de serviço ao pobre está inspirado na crença de que este foi escolhido por Jesus Cristo.
Jacques lamenta a grande resistência por parte dos advogados e estudantes com quem trabalha em razão de suas posições religiosas no trabalho popular.
Confessa ser devoto de São Francisco, admirador dos freis capuchinhos, da teologia da libertação e da ordem luterana, em razão do ecumenismo e da interpretação dos sacramentos.
Diz-se indignado com a situação da igreja católica, que estaria baseada numa religião mágica, assim como esta tem dificuldade de compreensão de que Jesus Cristo foi preso político. Defende que a sua espiritualidade influencia de maneira crítica seu trabalho de advogado para a contestação diária de tudo aquilo que vê no Estado e, de forma comparativa, na igreja como instituição, porque ambas padeceriam da indiferença com o pobre.
Agora, alguns comentários sobre.
Em primeiro lugar, é preciso salientar que esta posição de Jacques Alfonsin é muito próxima da concepção de alguns militantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). Inclusive, alguns que eu tive a oportunidade de entrevistar, da comissão de direitos humanos do Rio Grande do Sul, afirmaram que a bíblia orienta direitos - como o direito a terra.
O fundamento do trabalho popular e da própria idéia de direitos é algo a ser levado em conta pelos assessores jurídicos populares no seu dia-a-dia. Mesmo que uma grande parte destes não compartilhe da religiosidade daqueles, esta idéia possui uma força que escapa os sentidos comuns empregados pela crítica dura e estéril do ateísmo.
Ressalto ainda que muitos dos sentidos religiosos empregados pelos movimentos sociais a seus mártires e figuras de reverência ganham uma função de catarse. Como o exemplo empregado pelo Jacques, da figura de Sepé Tiaraju que estaria rescussitada em Roseli Nunes e Elton Brum. Catarse é uma força motivadora para criação de um sentido comum, compartilhado por muitos, que dividirão a dura tarefa de não repetir as tragédias do passado.
Não podemos defender que a prática da educação popular resuma-se na prática religiosa, ou algo parecido. Mas também não podemos ignorar a religiosidade popular!

Como resolver este dilema?
Devemos considerar que todos nós, assessoras e assessores temos nossos credos, e que estes influenciam em nosso trabalho popular? Com certeza!
Devemos adotar uma postura religiosa no trabalho popular? Acredito que não, como regra.
Devemos ignorar a religiosidade no trabalho popular? Nunca!

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