"Cartaz com os dizeres "Basta de Paulo Freire" mostra o quanto o grande educador está fazendo falta... "
Então... Comecemos as avaliações deste famigerado 15.03. O que mais me saltou aos olhos nessa manifestação de hoje
foi a ausência de um lastro sólido nos brados que ecoaram e no que li nos
cartazes que apareciam nas redes sociais. Exigências contraditórias do tipo terrível
como “feminicídio SIM. Fomenicídio não”, “fora dilma e o congresso, apoio a PF
e ao MP”, “Chega de Paulo Freire”, “ luto: pela democracia, intervenção militar
já”. Desse perigoso balaio de gato não
faltaram políticos e grupelhos oportunistas (até cartaz integralista apareceu),
o que, sim, representa um perigo, posto que estes possuem um discurso minimamente
coerente em termos argumentativos, ainda que as falácias predominem.
Porém, vejo um interessante horizonte para os movimentos
sociais. Esses sim apresentam propostas coerentes, sólidas e representativas,
especialmente daqueles que dificilmente tem voz dentro dos espaços públicos.
Aliás, eu nem acredito que faço bem em falar em representação já que as
próprias pessoas afetadas por problemas como moradia, terra, água, transporte
público eficiente, acesso à cidade em geral, degradação ambiental, deslocamento
de populações etc é que constroem o discurso que forma o vocabulário das
demandas dos movimentos.
Enquanto a outra parte do Brasil não aprender a ouvir esse
vocabulário rejeitado e insistir em demandas quiméricas e vazias como “O fim da
corrupção” as manifestações por mudanças só darão ensejo ao pior do mais do
mesmo. Não apresentar propostas concretas, abre um perigoso vácuo para aqueles
oportunistas.
Além disso, uma impaciência e revoltas momentâneas por conta
de diminuição de privilégios não atinge o âmago da questão. Não são esses que
se encontram afetados em termos de existência. Há um cheiro de farsa no ar: indignação
hipertrofiada de quem nunca passou um perigo real na vida. Uma farsa perigosa,
protagonizada por quem não entendeu que esse jogo é sério e que parece
desconhecer quais suas regras e sujeitos.
É por isso que muito tranquilamente afirmo que esse quadro
de coisas só faz reafirmar cada vez mais a legitimidade do discurso dos
movimentos sociais em suas muitas demandas. Sua indignação não é falatório em
meio a uma aula de pilates, num aeroporto, ou em meio a um farto jantar com a
família. É da vivência da continuada negação da existência em condições humanas
que eles afirmam sua fala.
Totalmente diferente.
Ótimo texto Nayara!
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