terça-feira, 17 de maio de 2011

Estréia da coluna do NEP-UnB

Hoje inaugura a coluna do Núcleo de Estudos para a Paz e os Direitos Humanos, da Universidade de Brasília. O artigo "A tragédia da escola do Realengo", da Coordenadora do NEP Profa. Nair Heloísa Bicalho de Sousa, foi escrito no dia seguinte ao fato que deixou a todos nós consternados. Oportunidade única para a reflexão profunda e propositiva da Profa. Nair Bicalho. Aproveitem a leitura.

A TRAGÉDIA DA ESCOLA DO REALENGO : UM MOMENTO DE DOR E DE AÇÃO PROPOSITIVA

Nair Heloisa Bicalho de Sousa
Coordenadora do NEP – Núcleo de Estudos para a Paz e os Direitos Humanos/CEAM/UnB e membro do Comitê Nacional de Educação em Direitos Humanos

Amanhecemos ontem em luto nacional: 12 crianças e jovens assassinadas por um outro jovem, ex- aluno da Escola Municipal Tasso da Silveira no bairro de Realengo, Rio de Janeiro.O Brasil chora e lamenta a tragédia ocorrida em um momento de vigência de um governo democrático , com ampliação da participação social na esfera da proposição de políticas públicas.
Contudo, a violência tem sido um marco que permeia a vida cotidiana das classes populares, na rua, no trabalho e nas escolas.A desigualdade e exclusão social combinadas às práticas do preconceito e intolerância tem vitimizado inúmeros grupos sociais tais como afrodescendentes, mulheres, LGBT e indígenas, dentre outros.
Nossas crianças e jovens são alvo da violação de direitos em diversas situações: abuso e exploração sexual, trabalho infantil, sendo os jovens pobres vítimas de homicídios diários e da drogadição.Neste contexto social, a escola é o lugar da socialização e do aprendizado de valores humanos, da percepção do outro e da consciência social, ao mesmo tempo em que vivencia práticas  de agressividade e discriminação.Os conflitos escolares tem sido um desafio para a vida cotidiana das instituições educacionais, desde os pequenos desentendimentos interpessoais até as ameaças e mortes ocorridas nestas instituições em todo o país.
As práticas de mediação dos conflitos escolares por meio da capacitação de alunos, professores e funcionários tem contribuído para transformar a escola em um espaço de convivência através do diálogo, da participação e do afeto, instituindo práticas educativas pautadas nos direitos humanos .
Desde 1993 o Brasil possui o Plano Nacional de Educação em Direitos Humanos voltado para cinco áreas:  educação básica,  educação superior,  educação não-formal,  educação dos profissionais de justiça e segurança e  educação e mídia.Seus objetivos incluem a construção de uma sociedade justa, igualitária e democrática por meio da implementação da transversalidade dos direitos humanos na educação e nas políticas públicas.Seu eixo central é a afirmação de valores, atitudes e práticas sociais capazes de constituir uma cultura de direitos humanos em todos os espaços da sociedade e do Estado.
Alguns passos concretos foram dados com a criação de comitês estaduais e municipais de educação em direitos humanos, a capacitação de professores da educação básica e de lideranças  comunitárias, estando neste momento a proposta das Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação em Direitos Humanos no Conselho Nacional de Educação para deliberação pelos seus membros.
Essas medidas, especialmente as Diretrizes Curriculares Nacionais, pretendem contribuir para que as escolas de educação básica e as instituições de ensino superior assumam o compromisso constitucional de formar cidadãos conscientes e críticos, e também, tornar cada estudante um sujeito de direitos capaz de participar de uma sociedade livre, democrática e tolerante com as diferenças de orientação sexual, gênero, físico-individual, geracional, étnico-racial, cultural, religiosa, territorial, de opção política, de nacionalidade, dentre outras.
Esta tragédia da escola pública do Realengo não é um acontecimento cotidiano, mas um fato inusitado.Ações propositivas no sentido de formação para a cidadania são instrumentos valiosos para tornar os espaços educativos locais onde possam florescer relações sociais afetuosas, capazes de sustentar a alegria de viver um processo de aprendizagem participativo e pautado nos valores da liberdade, igualdade, justiça e solidariedade.

Um comentário:

  1. driano disse...

    "Ações propositivas no sentido de formação para a cidadania são instrumentos valiosos para tornar os espaços educativos locais onde possam florescer relações sociais afetuosas, capazes de sustentar a alegria de viver um processo de aprendizagem participativo e pautado nos valores da liberdade, igualdade, justiça e solidariedade."

    Acredito que para esse ideal se concretizar é preciso repensar a escola e o modelo educacional, com seus castigos e recompensas, que busca formar mão de obra para o sistema de exploração. A escola atual nada mais é do que um reflexo da sociedade onde vivemos, que valoriza o belo, o arrojado, o bem sucedido, o conquistador e o mais inteligente, os que não se enquadram nesse perfil são sujeitados a viver num mundo de humilhação e de vergonha por não corresponder a expectativa que a sociedade lhes impõe.
    Wellington cansou de ser "um perdedor a priori" , e não suportando ser um perdedor, resolveu extravasar sua revolta num extermínio relampago.
    Enquanto não houver uma educação LIBERTADORA e que respeite as diferenças individuais, que não seja mera preparadora de mão de obra, não pautada pelo castigo para os inadaptáveis e na recompensa para os adaptáveis ao sistema e, numa relação anti-hierárquica de ensino, a educação como devir a um mundo melhor será mero desejo ou falácia.

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