Paulo Cesar Azevedo
Defensor Público
Com uma letra trêmula, como daqueles que ainda aprendem com cautela a delícia e o desafio de escrever, foi esta a primeira frase que li, do primeiro processo que recebi como Defensor Público: "Não tenho condições". E foi assim que eu reconheci, pela primeira vez, o clamor silencioso de alguém pela minha atuação.
Jamais havia visto o rosto por trás daquela frase. Estranho anonimato, mas que sintetizou, com triste maestria, a invisibilidade daqueles que são lançados à margem da sociedade, os esquecidos, os invisíveis. Resumiu com poucas pinceladas as matizes da pobreza, os estratos mais flagelados de um país tão diverso como o nosso...
Mas ele tinha, sim, um nome: com a mesma letra cambaleante, assinou, em seguida, o mandado de citação. E além de um nome, certamente, tinha também uma história... Mas tudo que eu sabia sobre ele era que "não tinha condições" e que precisava de alguém que pudesse dar voz àquela sua história, às suas mazelas, às suas privações. Alguém que pudesse socorrê-lo de alguma maneira, contar a sua versão, batalhar por seus direitos.
Não faz muito tempo que decidi ser Defensor Público. Menos tempo faz, ainda, que eu efetivamente o sou... E nesta curta trajetória, quantas são as histórias que posso contar! Já vi lágrimas de arrependimento. Ouvi vozes titubeantes e amedrontadas pelo peso da acusação ou pelo temor às autoridades. Testemunhei a alegria de quem se viu inocentado e a dor de quem carregou o pesado fardo da pena. Já comemorei o reconhecimento de direitos de quem já perdia o último fio de esperança. Sofri com aqueles que não tiveram a mesma sorte, mas que, pelo menos, tiveram a chance de tentar, por meio da Defensoria Pública...
"Não tenho condições". Quantos são os muitos que, nesse país, assinam a mesma frase? Que a Defensoria Pública se expanda para permitir que a resposta a esta frase não mais seja a desdenhosa privação de direitos...
São três palavras que ouço diariamente e que ainda me ensurdecem... Uma simples frase. Mas que me provoca a trabalhar, que me instiga a doar o melhor de mim e muito das minhas horas para dar voz àqueles que foram silenciados pela pobreza.
Que essa pobreza não seja a chave que cerra as portas. Pelo contrário! Que este infortúnio represente o primeiro passo para a abertura das portas da Defensoria Pública. E que nós sejamos instrumentos de dignidade, de cidadania, de efetivação de direitos. Que a Justiça não seja privilégio de poucos.
Que todo dia seja Dia da Defensoria Pública!!! Porque todos os dias, alguém profere essa frase nos rincões mais esquecidos desse país: "Não tenho condições". E que a resposta seja: "Mas tenho quem me dê acesso".
Parabéns aos meus colegas de "coração verde". Não trabalhamos por caridade. Trabalhamos por acreditar. Trabalhamos por desejar mudanças. Sejamos parte dela!
Em razão do dia do Defensor e da Defensora Públicos, 19 de maio
Preciso de uma assessoria pois estou sem condições e leigo no assunto de separação de bens
ResponderExcluir