A frase acima é propositalmente
ambígua. Vem em um tom de espanto. Vem em um tom de leitura de um
mundo que já está se fazendo.
Mulheres do MTST -Acampamento Planaltina Arquivo Pessoal |
O que faz a mulher na Educação
Jurídica Popular quando há coisas que lhe constroem outro caminho
que as levariam a qualquer lugar que não o pensar-se para intervir
politicamente? Pensemos: qual o tempo livre que tem uma mulher das
classes populares, classes as quais mais se destinam os processos de
educação com vistas à reivindicação e invenção de direitos que
lhes devolva, nas palavras de Paulo Freire, a “vocação de ser
mais”?
Um processo que começa no se perceber
no mundo, percebendo-o e que conclama a uma intervenção nesse mesmo
mundo, modificando o destino seu e das suas e seus. Fazendo do seu
destino a própria veia para transformação da realidade que a
cerca.
Que tempo tem essa mulher entre as suas
várias tarefas domésticas, entre o cuidado com as suas várias
crias? Que tempo tem essa mulher entre a ainda tarefa e obrigação
de fazer-se bela e atraente para o “seu” homem e para dar a satisfação à sociedade quando um "se cuidar" indica sua feminilidade, sua identidade no mundo?
As crianças precisam sempre estar sob seus olhos, sendo observadas e cuidadas. Os cuidados com o lar, o barraco, seu teto... sempre algo a fazer, porque tudo está sempre se desfazendo o feito no meio do vivido.
Eu e minha mãe - 1982 arquivo pessoal |
Não se estranha se está em posse da
fala.
Não se estranha o fato de ter filhos,
por mais numerosa que seja a prole, e de estar em algum momento no
final de semana, dedicando-se a...
pensar.
O que podemos dizer da mulher?
O que está fazendo na Educação
Jurídica Popular?
E seu marido?
O que está fazendo enquanto ela está
lá?
Pensando... Organizando-se...
Fazendo...
política?
Por que não estão com filhas e
filhos, compartilhando da família, trabalhando, tendo alguns
momentos de lazer, descansando? O que as fazem sair de suas casas e
se propor colocar em reunião? De se colocar em tarefas como ouvir,
pensar, cantar, declamar, ver, escrever, desenhar... Tudo com vistas
só à... reflexão?
A pergunta “o que as mulheres fazem
na Educação Jurídica Popular” permite que olhemos quer para as
mulheres que saem de sua rotina e se coloquem enquanto elaboradoras,
enquanto tumultuadoras e incendiárias desse mundo. E também nos
permite nos perguntar por que elas não estão. Quais percalços
tiveram no meio do caminho e que a impediram de estar ali.
Mulheres MTST - Acampamento Nova Planaltina - Brasilia Arquivo Pessoal |
E quando elas chegam.... O que mulheres
fazem nos momentos de educação jurídica popular? O que elas
conseguem construir de diferente com o seu olhar? Elas fazem algo de
diferente? Colocam-se de uma forma diferente? Assumem as mesmas
tarefas que os homens dentro de grupos? Um processo de se ver e se
ver no mundo que retomaremos em uma próxima provocação...
Por enquanto fica a pergunta: em um mundo onde a responsabilidade sobre as crianças ainda fica com as mulheres, o que temos feito nos processos de Educação Jurídica Popular para garantir que as mulheres-meninas-mães estejam nesse espaço? Esse texto bem que poderia ser chamado: as mães podem estar na Educação Jurídica Popular?
Lindo, provocativo e instigante. Elas não podem elas devem e some-se a isso mais uma obrigação até que nos seja direito adquirido e conquistado. É com pedras e poemas que fazemos o nosso caminho e palavras e gritos contidos que ainda engasgamos. E é se refazendo todo momento... Sendo coletivo, sendo mais, para poder ser uma.
ResponderExcluirBeijos e obrigada.
Ana Paula
Educadora Popular