segunda-feira, 11 de outubro de 2010

O dia 9, o dia 10, o dia 11 e o dia 12...

Qualquer data do calendário, seja o calendário que for, pode nos remeter às mais impressionantes histórias. Falecimentos e nascimentos, por exemplo, não deixam de abundar. Acontecimentos e fenômenos pululam aos cântaros. Isto para não falar em fatos corriqueiros, que nos embalam em nosso dia-a-dia irremediavelmente. Vou juntar aqui quatro datas - as quais não deixam de ser pouco mais que um acontecimento astrológico - e fazer uma breve reflexão sobre elas.

As quatro datas são justamente as que nos envolvem no dia de hoje, bem como no de ontem, no de anteontem e no de amanhã. Serei linear e cronológico e começarei por anteontem.

Na noite de 9 de outubro, a banda "Rage against the machine" participou de um concerto inserido no "Fórum Global de Sustentabilidade". O fórum tem por princípio máximo a idéia de que "começa com você" (em inglês, starts with you - por isso SWU) e poderia ser mais um evento promovido pelo pensamento pós-industrial eurocêntrico (com o tradicional preço caro de sempre) não fosse a postura dos Rage de ter dedicado uma de suas canções ao MST. Isto mesmo, "People of the sun" foi dedicada aos trabalhadores rurais sem-terra. A postura imediata da transmissão brasileira que se dava por canal fechado (da Multixou - Organizações Globo) foi a de censurar a apresentação, em especial quando o guitarrista Tom Morelo vestiu o boné vermelho do MST. O guitarrista comentou depois: "isso significa que estamos ganhando" (ver postagem divulgada na página de Luís Nassif).

Esta censura (sobre a imagem, já que o discurso é tolerável, uma vez que o público brasileiro não entenderia mesmo o idioma inglês do vocalista) nos remete ao poder que é exercido sobre os países dependentes da periferia do sistema-mundo colonial capitalista moderno. Adjetivos não bastam para nos referirmos à opressão comezinha, tão rotineira quanto as datas tanto no calendário quanto na astrologia. Pois bem, o dia 10 de outubro, por exemplo, traz uma marca importante nesta história dos vencidos: a conclusão do Canal do Panamá, no já longínquo ano de 1913. Milhares de trabalhadores panamenhos e colombianos morreriam durante as obras que duraram cerca de dez anos (anos de consolidação da independência panamenha, influência direta da ardilosa atuação imperialista dos EUAAS). E assim tem sido a história da periferia: obras, mortes, mobilizações e repressão. Aliás, a história da construção do Canal do Panamá, verdadeira zona franca do comércio estadunidense, cristaliza o avanço imperialista ianque que sairia vitorioso da guerra hispano-americana invertendo o eixo neocolonialista na América Latina. Porto Rico e Guantánamo seriam "aquisições" duradouras dos EUAAS com relação ao poder espanhol. Cuba (como também as asiáticas Filipinas) sairia da condição de protetorado (se não formal, ao menos material) apenas quando da independência efetiva com a revolução de 1959. Assim, a guerra hispano-americana tem no Canal do Panamá sua referência econômica maior e este é o símbolo contra o qual se dedicou a revolução cubana dos irmãos Castro, de Cienfuegos e de Guevara.

No dia 11 de outubro, porém, é possível rememorarmos um trágico dia para a história brasileira, dia no qual o autoritarismo apareceu entre nós, no ano de 1965, com a mão forte e bem nutrida pelo bico da ave de rapina imperial. É o dia que ficou marcado pela invasão da Universidade de Brasília por tropas milicianas, o que resultaria num movimento demissionário de professores. A ditadura mandaria 15 professores embora; a resistência docente se daria por uma autodemissão coletiva de 223 professores. A UnB era palco de uma tentativa de transformação nacional pela educação e tem muita afinidade, em seus primórdios, com aquilo que costumamos designar hoje de uma "utopia da universidade popular" - ainda que não se possam excluir daí várias críticas (mas isso vale um futuro e prometido comentário sobre a "universidade popular").

Pois bem, se as datas lineares nos levam para a diacrônica exposição acima, devo terminá-la com o marco privilegiado de 12 de outubro. Mais que dia da padroeira do Brasil ou das crianças, o 12 de outubro é o dia da conquista - bélica e espiritual - das Américas! E o estrondoso evento não poderia deixar de ser rememorado em suas vésperas. Não para comemorá-lo como costumamos fazer nos dias presentes, mas para tornarmos presente a nossa memória coletiva. O 12 de outubro de 1492 (data certamente arbitrária, como o é por definição toda data) é o índice maior de nossos tempos. Marca o choque de culturas que se arrasta no tempo e faz vingar a colaboração forçada dos povos. E quem o força é o arrasador movimento do modo de produção capitalista, que, não fosse seu ímpeto de conseguir construir resistências contra ele próprio, seria sem dúvida o fim dos tempos, o fim da história. Mas assim não é. A história não tem fim assim como não há povos sem história. Nós temos a nossa, assim como todos os homens das culturas autóctones do continente americano; assim como os resistentes estudantes, professores e trabalhadores da UnB; assim como os rebeldes panamenhos; assim como os trabalhadores rurais sem-terra e os intelectuais e artistas empenhados em defender sua legitimidade, como também a de outros movimentos sociais e populares, apresentada como sendo a legitimidade de um sujeito coletivo histórico da transformação social, o verdadeiro povo do sol.

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"Tablas de la conquista de México"

(de Miguel González - Museu Nacional de Belas Artes, Buenos Aires/Argentina)

2 comentários:

  1. O 10, o 11 e o 12 não seriam nada sem seus nove antecedentes astronômicos, e estes, por sua vez, nada sem os bilhões de dias antes deles. Como esquecer, contudo, o 13, talvez o mais estigmatizado dos números, que forjou eventos como a criação do meridiano de Greenwich e do jogo do bicho, as aparições em Fátima e o famoso acidente de avião nos Andes com uma equipe uruguaia de rúgbi.

    O 13 tem sua lenda de infortúnio iniciada com a ofensiva papal à Ordem Templária na sexta-feira 13 de outubro de 1307, que prendeu e condenou grande parte de seus integrantes, incluindo o Grão Mestre Jacques de Molay, cuja pena inquisitória foi o seu cozimento em fogo brando. Os poucos templários restantes se refugiaram na própria França, na Inglaterra e em Portugal, onde fundaram a Ordem de Cristo, transferindo um grande volume de conhecimentos sagrados à monarquia portuguesa. Não à toa, as navegações globais que fundaram a Era Moderna começaram em Portugal, cujos inumeráveis navegadores(Infante Dom Henrique - fundador da Escola de Sagres, Bartolomeu Dias, Fernão de Magalhães, Vasco da Gama, até Pedro Álvares Cabral) estiveram diretamente ligados à Ordem, e a cruz vermelha que suas naus ostentavam não era outra que a simbologia destes remanescentes dos templários.

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