sábado, 17 de abril de 2010

3 anos de NEPE, 14 anos do massacre

Há três anos, na cidade de Florianópolis, estudantes de graduação e pós-graduação da Universidade Federal de Santa Catarina, com experiência em assessoria estudantil, uniram forças para criar o Núcleo de Estudos e Práticas Emancipatórias, o NEPE-UFSC.

As atividades de ensino, pesquisa e extensão estiveram sempre orientadas pelo espírito estudantil, aquele que entra na porta aberta, sem bater. A utopia que cultivamos foi a de que o mundo não é, está sendo, a transformação depende de nossos atos. A mística da assessoria sempre encontrou espaço na música, teatro, poesia, a arte.

Por isto, aproveito o dia de hoje, da fundação do NEPE, 17 de abril, para retornar a mística e a poesia.

Há quatorze anos, na cidade de Eldorado dos Carajás, trabalhadores rurais sem-terra foram massacrados pelo Estado brasileiro. Na luta pela terra tombaram em seu último grito por liberdade.

Trago o poema que li naquele 17 de abril de 2007, para lembrar a tod@s 1996, pois se trata de dizer da dor que vemos para ajudá-la a ter fim.

Oziel está presente
Zé Pinto

Aquele menino era filho do vento
Por isso voava como as andorinhas
Aquele menino trilhou horizontes
Que nem um corisco talvez ousaria
Levava no rosto semblante de paz
E um riso de flores pro amanhecer
sol da estrada brilhou sua guerra
Mirou o seu povo com olhar de justiça
Pois tinha na alma um cheiro de terra
Tantas primaveras tinha pra viver
Pois tão poucas eras te viram nascer
Beijou a serpente da fome e do medo
Mas fez da coragem seu grande segredo,
Ergueu a bandeira vermelha encarnada
Riscou na reforma um "a" de agrária
E assim prosseguiu.
Seguiu cada passo com uma fé ardente
A voz ecoando na linha de frente
Em tom de magia numa melodia de estar presente
E a marcha seguia, seguiam os homens,
Mulheres seguiam, crianças também caminhavam
Mas lá onde a curva fazia um "S"
Que não se soletra com sonho ou com sorte
Pras bandas do norte o velho demônio
Mostrou seu poder.
Ali o dragão urrou, o pelotão apontou,
As armas cuspiram fogo, e dezenove
Sem terra, a morte fria abraçou.
Mas tremeu o inimigo com a dignidade do menino
Inda quase adolescente, pele morena, franzino
Sob coices de coturno, de carabina e fuzil
Gritou amor ao Brasil, num viva ao seu movimento,
E morreu!
Morreu pra quem não percebe
Tanto broto renascendo
Debaixo das lonas pretas, nos cursos de formação
Ou já nos assentamentos,
quando se canta uma canção,
ou num instante de silêncio
Oziel está presente,
Porque a gente até sente,
Pulsar o seu coração.


Ler ainda:
"A indignação do menino irreverente" - página do MST

5 comentários:

  1. Como bem lembrou o Luiz, hoje - dia 17/04 - o NEPE completa 3 anos.

    Há 3 anos, mestrandos e graduandos da UFSC começaram a construir esse projeto que, com muitas dificuldades, conseguiu sobreviver esse tempo todo, carregando consigo o ideal da transformação da sociedade por meio do protagonismo estudantil - uma contribuição necessária, ainda que não suficiente.

    Sua existência na UFSC é um marco para os estudantes de direito e sua continuidade é muito importante, como referência para a educação popular entre os discentes e como disseminador da pauta latino-americana de investigações teóricas. Pesquisa e comunicação (extensão) entram, igualmente, em cena com sua atuação.

    Por isso tudo, desejo vida longa ao NEPE, fundado no dia do massacre de Eldorado dos Carajás.

    Vida longa ao encontro dos estudantes crípticos na UFSC!
    Vida longa ao NEPE!

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  2. Parabéns, NEPE!

    É por essas coisas que insisto nessa "convivência" virtual. Iniciativas como essa, por vezes, ficam pairando por algum tempo dentro de quem lê/ouve/sente e se por acaso encontram um terreno suficientemente fértil...Podem até florescer um dia!

    É o que eu desejo, que o exemplo de vocês sirva de inspiração para outros que acreditam que o ambiente acadêmico pode efetivamente tornar-se um lugar de transformação.

    Grande xeru!

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  3. Fiquei aqui lembrando ... mais ou menos nessa data, em 2007, estávamos no ERED/ERAJU, aqui em Teresina. Fiquei o encontro todo esperando pelo momento ERAJU, que aconteceu numa tarde de domingo ... naquela época, eu era só expectativa!
    Os grupos de assessoria nos proporcionaram uma vivência num ficto assentamento, lembrando fato em Eldorado dos Carajás ... de pés descalços, olhos vendados, mãos dadas ... caminhamos pelo mato do setor de esportes da UFPI, sentindo a terra, as pedras, as formigas, ... soltavam foguetes, chamavam os companheiros mortos(presentes!!!), sons de tiros, asfalto, duas mãos suadas, nervosas e o sentimento do mundo ali!
    Um momento incrível do qual jamais esquecerei ... bem como a volta para casa de carona com minha amiga, revoltada com o tema suscitado, mas bastante provocada, o que valeu!

    Parabéns, NEPE, pelos 03 anos, provocando questionamentos, vivenciando a arte, a música, a poesia, o teatro, cultivando a utopia de que o mundo não é, está sendo ...

    Abraço forte ;***

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  4. Gente
    Viva a assessoria jurídica popular!
    O Juan Talora, nosso camarada geógrafo, lembrou que em 17 de abril de 1990 também ocorreu um crime contra os movimentos sociais. Na cidade de Trujilo, Colômbia, desapareceu o Padre Tiberio, mais informações em:
    http://www.elespectador.com/impreso/articuloimpreso198699-el-asesinato-del-padre-tiberio

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  5. Pessoal
    Vejam a repercussão da marcha do MST em Santa Catarina no dia internacional de luta pela reforma agrária, 17 de abril. A fonte é o blogue "passa palavra":

    Lutar não é crime: Marcha do MST em Santa Catarina visita aldeia Guarani
    http://passapalavra.info/?p=22289

    (Vídeo e Artigo) Lutar não é crime: lançamento da Marcha do MST em Santa Catarina
    http://passapalavra.info/?p=22263

    Fotos
    http://picasaweb.google.com.br/petit.insect/DeParteDaMarchaDoMSTEm2010#

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