domingo, 27 de maio de 2012

Direitos das Marias - Entrevista com Lenir Correia


Nossa primeira entrevistada se chama Lenir Correia Coelho. 
É advogada popular, Assessora Jurídica da Comissão Pastoral da Terra de Rondônia e Núcleo de Assessoria Técnica Popular Dom Antônio Possamai. 
Lenir impressiona pela firmeza na voz.
A série de entrevistas nesses domingos vem nos trazer um pouco do que significa ser mulher lutadora do povo. Passamos pelos mesmos desafios de forma independente do nosso sexo? 
Que obstáculos ultrapassamos todos os dias pra nos manter desse lado? A Lenir. A todas as advogadas populares. 


JARU - RONDÔNIA - BRASIL
8 de Março - Mobilização de mulheres articulada pelo Núcleo Dom Antônio Possamai



Nesse contexto capitalista em que as relações humanas são marcadas pelo machismo em todas as esferas, como você lida com essa questão?


Em Rondônia, não há muito espaço para discutir relações humanas, estamos tentando conter questões mínimas: registrar BO de tiroteio e ameaças nos acampamentos, comparecer as audiências designadas, entre outras questões mínimas, que pouco se discute sobre as relações humanas, claro que o machismo se mostra presente, porém, ignoro, passo por cima, mesmo sabendo que outras mulheres não têm essa coragem, o que fez com que nós começassemos a discutir sobre esse fato - porém, ainda é de forma tímida, por falta de tempo e pessoas para contribuir com a discussão;


Na contramão do capitalismo, como é se utilizar da profissão como bandeira de luta?

É lutar contra moinhos de vento, cotidianamente. É manter, todo dia, os nossos desejos burgueses e concentrar-se no único compromisso que é a luta do povo; do fazer com o povo, entendendo que essa contribuição, pequena, é importante para a luta, afinal, sou trotskista, acredito na mobilização popular como elemento importante da transformação social;

Você se considera advogada popular? O que é ser advogada popular pra você? 

Me considero sim, advogada popular é aquele que mais do que atuar para o povo, atua junto com o povo, contribuindo para que o direito chegue realmente a quem precisa, mas, não só o direito burguês de leis e normas, mas, o direito social de conhecer a si, conhecer o mundo e transformá-lo. É o direito e a educação popular como instrumentos valiosos de formação humana e revolucionária;

Como é ser advogada popular na RENAP? Como é advogar pela causa dos movimentos sociais?

É um alento saber que há advogados populares em outros lugares do Brasil e nesse aspecto é maravilhoso ser da RENAP, saber que posso partilhar e discutir problemas locais com outros advogados que me entendem, que me compreendem e principalmente, me ajudam. 
Advogar pelas causas dos movimentos sociais é compromisso pessoal, é entender que não estamos no mundo de passagem, que não temos o direito egoístico de sermos felizes sozinhos, entender que o profissional do direito tem muito a contribuir para tornar os movimentos sociais libertários;

Como é a sua relação com os seus "colegas" advogados, num contexto capitalista-machista? 

Sinceramente, ignoro sempre. Me imponho, se preciso for e ignoro, na maioria das vezes, pois, infelizmente, ainda não tenho disponibilidade de tempo para um embate ideológico maior de questionar as bases de suas convicções;

E com a estrutura machista-capitalista dos espaços jurídicos 

A estrutura machista-capitalista está em todos os espaços, ocorre que no espaço jurídico ela vem mais camuflada, vem disfarçada de imposições, de estabelecimento de normas riídicas, enfim, é um espaço a ser conquistado ainda pelas mulheres;

Como é ser mãe, nesse contexto social? Como é a sua relação com a sua filha e com os companheiros? 
Difícil, pois, há muito cobrança para estar em casa, acompanhar educação, enfim, coisas de família. Em virtude de constantes viagens, de precisar ficar dias fora de casa, de estar em diversas áreas de conflitos, minha filha é um pouco criada pelo coletivo de amigos, que colocam ela para dormir, para ir para a escola, supervisionam as tarefas escolares, dão bronca quando precisam, enfim, esses amigos tornaram a minha família, que cuidam da minha filha e da minha vida...rsrs, permitindo que eu possa contribuir com os movimentos sociais diretamente. Minha filha já se adaptou a essa situação, se sente irmã, filha, neta de meus amigos. Bem, envolvimento pessoal é meio complicado nesse contexto de conflito, mas, com os companheiros dos movimentos sociais a relação é boa, é de troca, de partilha.

(perguntas e entrevista por Savina Priscila)

Um comentário:

  1. POXA! PENA QUE NÃO MORO MAIS NO JARU POI SE NÃO IA SER UMA DESTAS AMIGAS QUE IRIA COLOCAR ESSA PRINCESA PRA DORMIR E CUIDAR UM POUQUINHO DELA..KKKK vc Lenir é uma pessoa muito especial!

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