Vásquez menciona ao reflexionar sobre a práxis, dos seus
diferentes níveis. Destaco a necessidade de pensar o tipo de práxis em que se
cumpre mais plenamente a autoemancipação. De que estamos a falar então? Se
temos claro toda a falência de um sistema com crises cíclicas, com um modelo
social absolutamente desigual, parece claro, quase óbvio, sermos orientados ao
desejo da revolução. Sem dúvida para muitos de nós tal desejo é atividade
cotidiana, logo a revolução é essencialmente uma atividade criadora e
transformadora. Assim, para Vásquez, o desafio está posto em como passar da consciência
comum para a filosófica. Sejamos radicais, vamos a essência: CRIATIVIDADE.
Essa provocação está no sentido de porquê sempre
encontramos as formas para afirmar uma linha política dizendo reinventar as
coisas, mas seguindo pelas mesmas práticas: marchas, comissões, atos de rua,
panfleto, nota. Em dados, quanto atingimos com as famosas falas corta-batatas[1]? Está claro que o nosso
desafio não se situa apenas em criar um partido (o famoso partidão do Lênin), é
necessário repassar as nossas formas.
As Arpilleras enquanto documento têxtil, representativo
de um universo de desigualdades, costuradas por mulheres oprimidas na sociedade,
tem sido um bom exemplo para repensarmos nossa atuação. Muitas vezes elas não
veem acompanhada de muitas explanações, tampouco geram muitos comentários posteriores.
Em geral, o ambiente é tomado de um profundo silêncio, o qual - tenho
acreditado sinceramente- se chama reflexão. É a forma mais clara de fazer as
pessoas vivenciarem a alteridade, e da internalização da vivência. São os olhos
olhando a mesma realidade cotidiana de boa parte do povo brasileiro: opressão!
E esse é apenas um lado da peça. Atrás dele, junto com os
bolsinhos vãos rostos, sujeitas, que ao observar todo esse universo por detrás
da juta se apropriam de suas vidas roubadas pelo patriarcado. Decidem pôr fim a
relacionamentos abusivos, aos abusos das empresas transnacionais, denunciar a
negligencia do Estado do Bem-Estar Social, as falácias dos direitos humanos.
Essas são as marcas da resistência latino-americana, do povo
sem pernas, mas que caminha. Daquelas que seguiriam sendo negligenciadas em
suas próprias organizações, lares, relações, e que agora decidem cruzar o país,
o mundo para expor seu trabalho. Não é um manifesto, uma tese tão próprio dos
congressos das esquerdas, são apenas tecidos, lãs, fios. O inegável é que são
eles que tem mudado vidas e ganhado milhões nessa luta. E sem sombras de dúvida
construindo unidade. Quiças a negligencia em reconhecer advenha da falta de um
marco teórico em gênero masculino.
Resistencia se constrói concretamente, não com abstrações
teóricas. Resgatando Amílcar Cabral é no empodeiramento das classes
subalternas, no seu protagonismo, e na luta de classes que nossa revolução triunfará.
Diante disso, há todo uma potência no trabalho com as Arpilleras por ser um
instrumento de sensibilização de influenciar parcelas da pequena burguesia,
causando conflitos de classe.
Em momentos históricos como o que vivemos, falar em novas
formas, outras linguagens gênero, raça, pode representar um carimbo de pós-modernidade,
em outras análises, próprias do binarismo antes de 1989, um selo esquerdista. E assim sem compreender nosso capitalismo
dependente, o recorte de gênero e raça, passaram-se quase 100 anos e não fomos
capaz de construir outros outonos como o dos russos de 17, com as nossas cores.
Coluna Direito das Marias
Por Tchenna Maso
[1] Falas
corta-batatas: São falas típicas de uma linguagem da esquerda em que se repete
jargões soltos de maneira curta e direta formando uma cadencia, a qual
estendida por 20 min, se torna um poderoso sonífero.
Nenhum comentário:
Postar um comentário