sábado, 22 de setembro de 2012

Poemas em homenagem a Eugenio Lyra


Jelson Oliveira
Do livro “Raízes: memorial dos mártires da terra”

Eugênio Lyra


(Advogado dos trabalhadores/as rurais de Santa Maria da Vitória e Ecoribe, Bahia. Assassinado no dia 22 de setembro de 1977).

(Pesado, o tempo vestiu a suficiência do carvão
Engomado pelo destino severo da morte e suas ferramentas...)

Preservaste a dureza exata das verdades
Como rubis perpetuados no celeiro escuro da terra
Como peixe embebido no rio e suas diferenças
Como nuvem decifrando o enigma cilíndrico do azul.

Antes que a terra ouvisse o rouco grito
- e a queda do corpo recolhido
retornasse ao orvalho e à cal -,
foste um silencia estendido e úmido,
soprando acima dos tribunais armados.

Foste a fertilidade dos protocolos
E suas vasilhas de invejas e tiranias.
Habitante das legislações do amor e seus ninhos,
procuraste os roteiros desusados da Justiça
para traçar o direito proibido dos pobres.

Apartado como um rio, carregado de verdade e som,
Defendeste a integridade do povo
Na casa onde desfalece o corpo dos relâmpagos.
Indomado, acendeste a luz para lumiar
O caminho aos que te seguem noite adentro...



Vladimir Luz 

EUGÊNIO LYRA

Era uma vez uma criança que lia

E, num instante, a palavra lida se fez carne
Terra batida, sol a pino
Luz do sertão, mãos estendidas
Fez-se olhar sem ter onde
Corpo que espera o outro
Abraços de tantos que vagueiam

E a palavra se fez lei, grito calado
Latifúndio, latim
E a criança que lia virou homem, andarilho
Viu-se nos outros, como se via nas palavras
Pariu a si mesmo emprestando sua voz
Fez-se ato, gesto e luta
Homem que, por se fazer ser em muitos
Cravou sua sina

Era uma vez uma criança que lia
Eterna criança que se fez e se faz
Em nós – Justiça



A volta do ladrão de gado

Cordel anônimo em homenagem a Eugênio Lyra, 
de lavradores de Santa Maria da Vitória

Hoje eu vivo recordando
já não esqueço seu nome
de quem morreu inocente
pela tradição de uns homens
o saudoso advogado
o nosso Doutor Eugênio
que deixou grande saudade
do maior ao mais pequeno.

Eu peço ao Deus poderoso
o nosso pai de bondade
protegei todos que lutam
com essa dificuldade
dai muita força e coragem
à justiça para vencer
os grileiros da Bahia
senão muitos vão morrer.

Em 22 de setembro
houve este acontecido
foi isto em 77
gravei bem no meu sentido
quando chegou a notícia
que Eugênio tinha morrido
morto por um pistoleiro
mandando pelos bandidos.


Poema anônimo a Eugênio Lyra

Meu coração está magoado
minha alma está ferida
meu real advogado
por nós perdeu a vida.

Ó tristeza para todos nós
quanta amargura
nunca mais veremos seu sorriso
nunca mais.


Leia outros.

Da biblioteca "Poesia crítica do direito"

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