segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Economia pela metade

"Economia pela metade", de Antônio Alberto Machado, professor da UNESP-Franca e orientador do NEDA, disponível hein

Economia pela metade

Todos sabem que é muito difícil entender a economia e o “economês”. E não bastasse isso, a verdade é que os economistas também não colaboram, pois estão sempre explicando as coisas pela metade.

Por exemplo, ouço-os dizer que a economia mundial está em perigo, à beira da bancarrota. Mas, sempre que se põem a receitar os remédios para combater os males econômicos, a única coisa que os economistas sabem falar é no tal “reajuste das contas do Estado”, no “equacionamento da dívida pública” e no “enxugamento da máquina estatal”.

Se esses são os únicos remédios, dirigidos apenas à dívida, às contas e à máquina do Estado, então posso supor que, na verdade, não é a economia como um todo que está mal das pernas, mas tão somente as economias estatais. E deve ser isso mesmo, pois a crise fiscal do Estado capitalista é uma realidade bem conhecida de todos nós desde a década de 1920.

Por isso, os economistas deveriam ser mais explícitos, ou mais didáticos, e dizer a toda a gente que, no fundo, quem está mal das pernas são apenas as economias dos Estados, porque a atividade econômica no setor privado continua como sempre esteve, isto é, produzindo, vendendo, ganhando, perdendo, acumulando etc. Vai muito bem, obrigado! Na Europa, portanto, quem está à beira da bancarrota não é a economia da Irlanda, da Grécia ou de Portugal, mas, isto sim, a economia dos estados grego, irlandês e português.

Porém, mesmo quando os economistas fazem esse diagnóstico, que me parece mais correto, seguem com a sua economia pela metade, sugerindo sempre as mesmas medidas parciais. Por exemplo, eles são unânimes em dizer que as contas públicas devem ser sanadas a qualquer custo para salvar a economia, inclusive com o sacrifício de toda a sociedade, e vêm sempre com aquelas medidas que todos já conhecemos: privatizações no setor público e cortes na saúde, na educação, no transporte coletivo, nos salários, nas pensões etc.

Essas medidas podem até estar corretas, não me atrevo a contestá-las. Quem sou eu? Mas, antes de jogar o sacrifício apenas sobre os ombros da classe trabalhadora, os economistas deveriam lembrar-se também das grandes fortunas, dos grandes negócios, dos grandes empresários que, afinal, também participavam do jogo econômico, e até o dirigiam, quando a economia começou a afundar.

Além disso, seria muito importante que os economistas fossem mais explícitos sobre as causas do déficit e da bancarrota do Estado, pois, quando eles se referem a essa questão continuam ainda com aquela lastimável economia pela metade. E só sabem dizer duas coisas: que o Estado é “ineficiente” e “corrupto”.

Mas, as duas coisas que deveriam dizer a toda a gente e que não dizem é: (1) nenhum empresário seria de fato eficiente se tivesse de prover saúde, educação, segurança, transporte, moradia e previdência social, com qualidade e muitas vezes gratuitamente, à maior parte da população; (2) e não dizem também que o Estado não se corrompeu sozinho, internamente, mas foi corrompido no mais das vezes de fora pra dentro, com propinas e a participação decisiva de agentes do setor privado, justamente o setor que os economistas vivem elogiando como exemplo de eficiência e seriedade.

Arre!, como diria o poeta Fernando Pessoa, estou farto dos semi-deuses que reproduzem essa economia vesga com pose acadêmica. Onde é que há economista-gente no mundo? Então sou só eu que é vil e errôneo nesta terra? Sou só eu que não entendo nada de economia, de eficiência e de moralidade pública?

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