quarta-feira, 27 de julho de 2011

Longe dos olhos do Direito de alma citadina, um diálogo...


E passo dia e noite. E passa noite e passa dia e eu aqui esperando minha alforria...

-De sete ruas para cinco. Cana muita, seu Moço!

-Não é não. Não é não. Não faz sentido sua reivindicação!

-Rei...O quê? Só tô dizendo que as forças num guentam, não... Sete ruas é cana de montão! Mas e o banho, pode, seu Moço? Almoço e banho, daí fica tudo muito bom, dá até p’ra 'guentar o sol na moleira e dá p’ra segurar o rojão das sete ruas. Sete ruas...

-Hum...Banho,não. Banho para quê, se vai sujar tudo de novo? Você não precisa de banho, não.

-Me disseram que o tal do Ministério vem aí...

-Não tenho medo, pago advogado caro é para isso mesmo.

-Então tá certo... Pois deixa eu cuidá que são sete ruas, não cinco e sem banho, tambeim. Com cinco as coisas seriam melhores...

-Seriam nada! E daqui a pouco as máquinas estão vindo. Precisa ver a alta tecnologia daquilo lá. E então tudo isso acaba! É cana, é chão, é dinheiro na minha mão.

-Máquina, é? Tava tendo ciência disso, não... E o que sobra p’ra nóis?

- Aí eu não sei. Não é problema meu.

-Pois é... Agora que tô vendo. Mas isso vai ser p’ragora?

-Parece que vai ser para logo. É melhor ir tratando de cortar suas sete ruas enquanto você ainda pode, daqui a pouco não vai ter mais rua nenhuma para cortar.

-Tá certo, seu Moço. Tá certo. Xô ponhá os trem de prontidão p’ra labuta de aminhã... O restante o Senhor, nosso Deus, provirá...

7 comentários:

  1. Enquanto isso, em algum Tribunal Superior...

    TST determina nova paralisação de libertações em usina

    Qua, 27 de Julho de 2011 14:18

    O ministro presidente do Tribunal Superior do Trabalho (TST), João Oreste Dalazen, acatou os argumentos da Infinity Agrícola S/A e decidiu suspender, pela segunda vez, medidas tomadas pelo grupo móvel de fiscalização do MTE.

    Por Repórter Brasil

    A cassação foi cassada. Nesta semana, o Blog da Redação informou que o presidente e corregedor do Tribunal Regional do Trabalho da 10ª Região (TRT-10), desembargador Ricardo Alencar Machado, havia cassado a liminar que suspendeu operação que libertava 827 trabalhadores submetidos à escravidão nas lavouras de cana da Infinity Agrícola S/A, em Naviraí (MS).

    Com isso, o grupo móvel de fiscalização coordenado pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) retornou ao referido local com o objetivo de dar continuidade ao processo de resgate e de garantia de direitos do ?conjunto de cortadores explorados. O contingente é formado por 285 indígenas e 542 migrantes de Minas Gerais e da Região Nordeste.

    Na última quinta-feira (21), o ministro presidente do Tribunal Superior do Trabalho (TST), João Oreste Dalazen, decidiu novamente acatar os argumentos apresentados pela companhia sucroalcooleira flagrada - que, diga-se, é reincidente na exploração de mão de obra escrava - e suspender os atos da fiscalização trabalhista em curso.

    Foram restabelecidos, por consequência, os efeitos da liminar em mandado de segurança - concedida inicialmente pela juíza Marly Lopes da Costa de Góes Nogueira, da 20ª Vara do Trabalho (DF), em 5 de julho - que havia sido cassada pelo presidente do TRT-10.

    Por meio de uma reclamação correicional contra o desembargador Ricardo Alencar Machado, João Oreste Dalazen determinou que sejam novamente suspensas tanto a interdição das frentes de trabalho como a rescisão indireta dos contratos dos 827 resgatados até o trânsito em julgado do mérito da contenda. Para justificar a cassação da cassação, o ministro reiterou as teses acolhidas na primeira instância.

    Outras três liminares em mandado de segurança também foram emitidas, no mesmo dia, por juízes do Tribunal Regional do Trabalho da 24ª Região (TRT-24). Todas atendem aos pedidos da Infinity, hoje vinculada ao Grupo Bertin*, e reforçam a suspensão dos trabalhos da fiscalização.

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  2. Olá!

    Devo dizer que este diálogo é baseado em revindicações reais, ouvidas por esta que vos escreve.

    E, Jorge, bem oportuna sua chamada aí acima!

    Bjos!

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  3. Ei Nay,
    Adorei o proseado da conversa, as situações em relação á exploração humana nos canaviais em muito se assemelha com as ocorridas para extração da madeira e criação do grado no Pará, e em outros locais.
    Queria dar uma dica: se você colocar, talvez, alguma reflexão sua, como introdução ou conclusão, daria uma ótima crônica que poderia ser publicada em alguma revista de literatura. Aqui na UFPA temos a Revista Tucunduba que publica crônicas e outros textos poéticos. O que acha?
    Abraços e parabéns!
    Assis.

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  4. Oi, Assis!

    Imagino mesmo que você já deve ter tido notícias de algo parecido por aí. É revoltante! Cadê direito do trabalho?E olhe que ele é mínimo!Direitos humanos,então... A quantidade de relações "trabalhistas" perversas que ocorrem nestes rincões do nosso país!Tá mais para escravidão!

    E...Que bom que gostou do texto proseado! E agradeço demais a dica. Se eu conseguir fazer as modificações sugeridas, entro em contato!=)

    Xeru!

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  5. só pra registrar a conclusão que tiramos do teu texto hoje em nosso encontro: uma lógica desumana de não satisfação de necessidades básicas até que, no limiar da não-vida, o lucro seja afetado. Nesse moemento teremos a velha prática de mãos que afagam, pra garantir a sobrevivência da mão de obra (indispensável)para depois (ou concomitantemente) ser a mesma mão que bate, que explora, que agride.

    tão longe dos olhos do Direito, tão longe dos olhos humanos e tão próximo das máquinas e vigas que sustentam nossas abissais desigualdades.

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  6. Para expressar minha satisfação com esta bela postagem, um haicai:

    Literata!
    A vida fala
    Onde a língua ata

    Grande abraço

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  7. Contemplada pela indignação da Ju!

    E, Pazellinho, querido!Poesia é um fraco que eu devo confessar!Obrigada pelo "haicai"!

    =)

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