Segue artigo publicado pelo IHU Notícias em 7 de abril de 2012, "A retirada de crucifixos das salas dos tribunais parece ter atendido a vontado do crucificado":
"O debate sobre a retirada
dos crucifixos em locais públicos tem encontrado o seu eixo principal a partir
da natureza jurídica do Estado laico e da liberdade de religião e culto.
Ninguém até agora, ressalvada alguma exceção, parece ter-se preocupado muito
com a opinião do Crucificado", escreve , Jacques Távora
Alfonsin, advogado do MST e procurador aposentado do estado do
Rio Grande do Sul. É mestre em Direito, pela Unisinos, onde também foi
professor. É membro da ONG Acesso, Cidadania e Direitos Humanos e membro
do Conselho de
Desenvolvimento Econômico e Social – CDES.
Segundo ele,"é certo, como argumenta a defesa da permanência dos crucifixos onde eles se encontram, ela servir de advertência grave contra toda a injustiça. É para que ela, ali testemunhada, jamais se repita. Também é certo, todavia, o mal decorrente de um símbolo de tal significado não passar de uma decoração inútil, quando a falta de humildade de uma autoridade que está a serviço do povo, serve-se dela para oprimi-lo".
Eis o artigo.
O significado histórico do mais
famoso julgamento da história, lembrado todos os anos na sexta-feira santa,
ganhou maior repercussão, aqui no Rio Grande do Sul, em virtude da acesa
discussão estabelecida sobre ordem de autoridade determinando a retirada de
crucifixos em locais públicos do Poder Judiciário.
O debate tem encontrado o seu
eixo principal a partir da natureza jurídica do Estado laico e da liberdade de
religião e culto. Ninguém até agora, ressalvada alguma exceção, parece ter-se
preocupado muito com a opinião do Crucificado.
A recordação das causas pelas
quais Ele foi processado e condenado, o peso representado por suas críticas às
desigualdades sociais flagrantes e injustas mantidas pelas autoridades de
então, o conluio religioso-político que planejou a sua morte, as regras
processuais que presidiram o processo do seu julgamento, os efeitos que
decorreriam do assassinato a ser praticado “de acordo com a lei” (!?), parece
terem ficado às costas de toda a cogitação, como, aliás, os crucifixos são
pregados nas paredes das salas de audiência dos foros e dos tribunais,
acumulando pó e indiferença.
A começar pelo fato de que o
Homem Amado e Venerado como Deus por grande parte da humanidade foi privado de
defesa, humilhado e torturado antes mesmo de ser levado ao julgamento, já seria
o caso de se perguntar quantas/os das/os suas/seus seguidoras/es de hoje, já
não chegam aos tribunais na mesma condição, como o profeta Isaias
previra:
“Era desprezado, era a escória
da humanidade, homem das dores, experimentado nos sofrimentos; como aqueles,
diante dos quais se cobre o rosto, era amaldiçoado e não fazíamos caso dele.
Mas ele foi castigado por nossos crimes, e esmagado por nossas iniquidades”
(...) Por um iníquo julgamento foi arrebatado. Quem pensou em defender sua
causa, quando foi suprimido da terra dos vivos, morto pelo pecado de meu povo?”
Não é exatamente isso que
acontece quando os preconceitos ideológicos e culturais que viciam a
interpretação das leis contra pobres e marginalizados ignoram as flagrantes e
injustas condutas denunciadas pelas palavras do Condenado Inocente quando Esse
estabeleceu como parâmetros do julgamento justo, precisamente o reconhecimento
ético-político-jurídico da dignidade humana das/os pobres?
“Eu tive fome e me destes de
comer,tive sede e me destes de beber, fui peregrino e me acolhestes, estive nu
e me vestistes, enfermo e me visitastes, estava preso e viestes ver-me”.
Não é exatamente contra
estamentos de poder, semelhantes a muitos de hoje, virando as costas para os crucifixos,
que uma censura das mais severas partiu da boca do Condenado inocente?
“Amarram pesadas cargas e as põem nas costas dos outros e eles nem com o dedo
querem tocá-las.” (...) “...não vos preocupais do mais importante da lei: a
justiça, a misericórdia e a fidelidade!” (...) “Guias cegos, que filtrais um
mosquito e engolis um camelo. (...) “sois semelhantes a sepulcros caiados
vistosos por fora mas por dentro cheios de ossos dos mortos e de toda a sorte
de hipocrisia e iniquidade.”
É certo, como argumenta a defesa
da permanência dos crucifixos onde eles se encontram, ela servir de advertência
grave contra toda a injustiça. É para que ela, ali testemunhada, jamais se
repita. Também é certo, todavia, o mal decorrente de um símbolo de tal
significado não passar de uma decoração inútil, quando a falta de humildade de
uma autoridade que está a serviço do povo, serve-se dela para oprimi-lo.
Por
tudo isso, salvo engano aqui antecipado por ousar exercer também liberdade de
opinião a respeito de matéria muito maior do que uma ordem sobre imagem, existe
uma grande possibilidade de Jesus Cristo estar agradecendo ao Seu Pai por sua
cruz ter sido retirada dos tribunais.
Assim, pelo menos a imagem da
injustiça que Ele padeceu liberta-se do constrangimento de assisti-lo
crucificado de novo a cada sentença que repete a iníqua condenação de tanta
gente na qual ele se encontra Encarnado.
Muito bom o texto do Alfonsin. De fato, não faz qualquer sentido ter um crucifixo nos tribunais, senão por compreender que a "secularização" não passa de outra forma de sacralização e que ambas se confundem no formato e nas condições de existência. Por exemplo, de onde vem a ideia de unidade do Estado, de único, exclusivo e verdadeiro polo emanador de normas? De onde vem a ideia de norma hipotética fundamental? Não sei vcs, mas em tudo o que olho, vejo "Deus" e as doutrinas dogmáticas que ecoam a existência e uma busca incessante por uma verdade absoluta, imposta aos que dela se afastam pela força, pelos ritos e pelo misticismo que se imiscuíram no mundo suposto da razão. Afinal, quem é menos místico, os Tribunais ou as Igrejas?
ResponderExcluir"Também é certo, todavia, o mal decorrente de um símbolo de tal significado não passar de uma decoração inútil, quando a falta de humildade de uma autoridade que está a serviço do povo, serve-se dela para oprimi-lo."
ResponderExcluirOu seja, está transferindo o erro da " autoridade que está a serviço do povo, serve-se dela para oprimi-lo" para o crucifixo, que segundo ele mesmo deveria recordar a justiça.
Brilhante não? Agora sem o crucifixo a "autoridade que está a serviço do povo, serve-se dela para oprimi-lo" vai mudar, se até com o crucifixo la ele já era ruim?
O texto é uma falácia pura, já que o problema apontado:
"uma autoridade que está a serviço do povo, serve-se dela para oprimi-lo"
Nada tem a ver com a solução apontada: tirar o crucifixo e não a autoridade desonesta.
Usa uma situação problematica para causar impacto, e em seguida tenta justificar a ação da retirada, levando o leitor a perder a linha de pensamento e achar que o problema será resolvido, quando ações não tem relação.
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