domingo, 12 de setembro de 2010

O onze-de-setembro e a abertura das grandes alamedas


Esta será uma postagem rápida. Em verdade, fruto de uma coincidência e de uma previsibilidade. Ontem, saí de casa e como sempre faço tomei um livro para ler durante o trajeto do ônibus. Por uma coincidência magistral (talvez, incoscientemente nem tão coincidente assim) o libreto que comecei a ler era de Salvador Allende. Seu título, "Abrirán las grandes alamedas". Trata-se de uma compilação de discursos do presidente chileno que buscou o caminho do voto dentro do modo de produção capitalista para fazer uma revolução socialista. Dentre estes discursos, suas últimas palavras, emitidas pela Radio Magallanes, às 9:10 da manhã do dia 11 de setembro. A locução inicia assim: "seguramente, esta será la última oportunidad en que pueda dirigirme a ustedes. La Fuerza Aérea ha bombardeado las antenas de Radio Magallanes". E quase ao final, diz o presidente chileno: "sigan ustedes sabiendo que, mucho más temprano que tarde, de nuevo abrirán las grandes alamedas por donde pase el hombre libre, para construir una sociedad mejor" (ler toda a degravação do último discurso de Allende em Ciudad Seva, onde se encontra também o seu áudio).

Estas alamedas, arborizadas e agradáveis, serão abertas algum dia, sem dúvida. Com muito trabalho e sacrifício, por sinal. Hoje em dia, a tarefa contínua é mostrar sua possibilidade de existência. Nem tudo o que não é nunca poderá vir a ser. Pois bem, isto leva à previsibilidade que, juntamente à coincidência, me faz escrever este pequeno texto. Há tempos, as esquerdas relembram o dia de ontem, vale dizer, o golpe militar de Pinochet efetuado no Chile, num 11 de setembro de 1973. E esta lembrança serve de resistência frente à inanição provocada pelo terror do 11 de setembro nova-iorquino, com a queda das torres gêmeas. Esta tragédia não pode ser o antídoto que inocula passividade, medo e apatia. Deve ser posta em relação a outro momento histórico, de infeliz coincidência no calendário ocidental. O golpe chileno, apoiado, em vários sentidos, pelo governo ianque.

Por isso, irmano-me no dever de também propalar esta resistência, aqui em nosso blogue. Em outro, no blogue Não apaguem a memória, há uma bela postagem sobre a data. Recebi várias mensagens virtuais e todas com recuerdos do evento histórico, a partir de vídeos sobre a queda de Allende. Compartilho-os, assim, como que pedindo, junto à bela canção de Ismael Serrano: "Papá cuéntame otra vez".



2 comentários:

  1. Apenas mais uma referência ao artículo pazelliano: Batalla de Chile, de Patrício Guzmán, é o documentário clássico sobre a ascenção e queda de Allende. Há ainda o filme "Desaparecidos", de Costa-Gavras, um excelente retrato da influência ianque nas ditaduras abyayalanas.

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  2. Este comentário foi removido pelo autor.

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