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domingo, 12 de junho de 2011

Levante sua voz


mijam em nós e os
jornais dizem: chove!

Já fora afirmado aqui no blogue, que Lênin esbravejando da sacada do palácio não faz mais revolução. Tal provocação nos convidava a pensar uma outra comunicação, uma contra-comunicação, um modo próprio, popular de se comunicar, em tempos de Intenet, Tv, etc.

A pergunta que é central, dentro dessa discussão, é como o povo pode se reconhecer nesses meios de comunicação, se ele não a constrói? É certo que a comunicação vai para além desses grandes instrumentos (tv, rádio, internet, jornais, revistas) e passa desde uma reunião de trabalhadores insatisfeitos com suas condições, até por um ato público, uma manifestação em que se transmite alguma idéia através do poder de mobilização. Porém, não podemos negar a influência dos grandes meios que, pelo seu alcance, são um dos principais responsáveis pela internalização da ideologia dominante.


A Necessidade de um espaço próprio, legítimo e popular se faz ainda mais presentes para os movimentos sociais e populares. Não é novidade alguma que a mídia serve como instrumento de deslegitimação e criminalização desses movimentos. Quando há algum espaço - o que é raro - que não vá nesse sentido, geralmente descontextualiza-se, deturpa-se o caráter do movimento, descaracterizando-os.

Tive uma oportunidade recente, por ocasião, do Encontro Regional de Estudantes de Comunicação (ERECOM), realizado aqui em teresina, de facilitar junto com a ENECOS (Executiva Nacional dos Estudantes de Comunicação) uma oficina sobre comunicação popular com uma ocupação urbana que, inclusive, é acompanhada pelo CAJUINA (Centro de Assessoria Jurídica Popular de Teresina). No diálogo com os ocupantes ficava claro que mesmo o mais bem "ameno" meio de comunicação que entrou em contato com o Movimento, queria apenas adaptá-lo a sua visão (Talvez pelo fato de ser um prédio abandonado pelo poder público, alguns ataques por parte da mídia foram mais amenos), quando não o criminalizava diretamente; sendo relatado por uma ocupante, inclusive, que uma repórter queria ditar as respostas que seriam divulgadas na TV. Espaço maior, claramente, sempre era dado ao poder público. Após o diálogo, tentou-se, na oficina proporcionar meios para a comunicação do próprio movimento, interna e externamente, com jornal-mural, fotos, depoimentos em vídeos feitos pelos próprios ocupantes.


foto tirada ao final da oficina.

Nesse sentindo, muito interessante o vídeo "Levante sua voz", produzido pelo Coletivo Intervozes:


O Mesmo Coletivo, há alguns dias, se manifestou após o Ministério das Comunicações divulgar lista dos detentores de outorgas de rádio e TV no Brasil. Só a título de exemplo, o Coletivo coloca que 21% dos Senadores e 10% dos deputados federais são concessionários de rádio e TV. Fácil perceber que não vai vir do Congresso a iniciativa em questionar essas concessões, nem muito muito menos serão esses meios de comunicação que fomentarão uma comunicação popular. O manifesto na íntegra pode ser lido aqui.


Outro documento interessante para esse debate é Ação Direta de Inconstitucionalidade proposta pela Federação Nacional dos Jornalistas (FENAJ) que tinha como objeto, entre outros, atacar "Omissão legislativa inconstitucional em regular a proibição de monopólio ou oligopólio dos meios de comunicação social". Ação essa, não sem surpresa, arquivada por ilegitimidade ativa.

Discutir comunicação alternativa, assim, passa desde uma produção de formas de comunicação dentro dos movimentos - seja para diálogo interno, seja para externalização de suas práticas - e necessariamente, passa pela contestação da comunicação dominante.

Quem sabe assim, construindo essa contra-comunicação, consigamos vivenciar, frequentemente, um fato pelo qual, Vinicius de Moraes já "poetizava": o operário ser escutado pelo próprio operário.

(...)

E um fato novo se viu
Que a todos admirava:
O que o operário dizia
Outro operário escutava.

E foi assim que o operário
Do edifício em construção
Que sempre dizia sim
Começou a dizer não.
E aprendeu a notar coisas
A que não dava atenção:
Notou que sua marmita
Era o prato do patrão
Que sua cerveja preta
Era o uísque do patrão
Que seu macacão de zuarte
Era o terno do patrão
Que o casebre onde morava
Era a mansão do patrão
Que seus dois pés andarilhos
Eram as rodas do patrão
Que a dureza do seu dia
Era a noite do patrão
Que sua imensa fadiga
Era amiga do patrão.

(...)

Uma esperança sincera
Cresceu no seu coração
E dentro da tarde mansa
Agigantou-se a razão
De um homem pobre e esquecido
Razão porém que fizera
Em operário construído
O operário em construção.

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Importante conferir:


segunda-feira, 30 de maio de 2011

Nossas Lutas e Conquistas

Artigo enviado pelos editores da página do MST.


A luta pela terra e por Reforma Agrária no Brasil, ao longo de cinco séculos, tem sido marcada por muita luta e resistência, que se intensificou nos últimos anos.
Há, de um lado, milhares de famílias Sem Terra que almejam conquistar um pedaço de chão para a sua sobrevivência. De outro, existe o latifúndio, defendendo sua posse a todo custo e impedindo o cumprimento da Constituição de 1988. Com isso, o campo brasileiro se tornou palco de conflitos quase que cotidianos.
Essa situação acontece somente por conta do modelo que controla a agricultura, baseado na grande propriedade, com utilização de pouca força de trabalho, com a mecanização intensa voltada à produção de monoculturas de alguns produtos para a exportação.
O resultado disso é uma imensa concentração de terras e de renda, excluindo os camponeses de suas terras e provocando o aumento da pobreza no campo. Além disso, cria o êxodo rural, tornando ainda mais complicada a vida nos territórios urbanos - desprovidos de infraestrutura para receber essas populações.
Nesse contexto, o MST vem tentando contribuir com essas famílias na luta por seu pedaço de chão. Por isso, somos atacados por setores conservadores e patrimonialistas da sociedade brasileira, que utilizam vários instrumentos para combater o nosso Movimento e todos aqueles que lutam pela Reforma Agrária. Perseguem quem luta pela plena realização dos direitos sociais garantidos na Constituição e por medidas de melhoria das condições de vida do povo brasileiro, como escola, saúde, trabalho e dignidade.
O presente documento pretende apresentar, de forma breve e objetiva, um panorama da luta pela Reforma Agrária e das conquistas e desafios do nosso Movimento desde sua origem.
Fazemos um panorama da luta pela terra na história do nosso país e da organização do MST. Apresentamos dados sobre a situação do campo, a concentração de terra, as demandas dos trabalhadores rurais Sem Terra e a reação dos latifundiários e do agronegócio.
Neste material, estão disponíveis informações e dados sobre as nossas conquistas, realizações, esforços e projetos nas áreas de educação e produção, além de textos que revelam o reconhecimento da sociedade ao MST, com prêmios e homenagens em nível nacional e internacional.
No capítulo dos anexos, estão as linhas gerais da nossa atuação, como o nosso programa agrário, os nossos desafios e os nossos compromissos com o desenvolvimento nacional, com justiça social e soberania popular.


Leia ainda:
MST: Lutas e conquistas

sexta-feira, 27 de maio de 2011

A Margem: protagonismo estudantil e comunicação

Damos vazão, aqui, a uma interessante iniciativa estudantil: a construção de um jornal protagonizado pela estudantada. Surge do esforço de estudantes da Universidade Federal da Paraíba e tem por intuito apresentar-se como um canal de diálogo acerca do direito em uma perspectiva crítica. Só por isso, vale a pena conferir seu conteúdo. O jornal A margem: um espaço de diálogo e intervenção social é mais um passo dado para se tentar suprir a necessidade da expressão dos críticos do direito e, a nosso ver, se coloca no mesmo sentido do esforço que nosso blogue da AJP segue.


Aqui, o recado dos editores, mostrando sua cédula de identidade:


O Jornal A Margem foi criado no início do ano de 2011 por estudantes do curso de Direito da Universidade Federal da Paraíba e outros colaboradores. A experiência da equipe editorial é acumulada a partir de outros trabalhos com veículos de comunicação no meio universitário.

A ideia do presente projeto vai além de pretensões corporativas: em formato virtual e impresso, A Margem oferece um espaço de construção crítica do saber jurídico que perpassa, nos seus debates e funções, os muros da Universidade.

Tomamos o pressuposto de que “a crítica se constrói com responsabilidade” e, no universo acadêmico, esta tem uma função essencial enquanto paradigma de promoção dialética do conhecimento: a educação (em sentido amplo) deve se valer da transdisciplinariedade de conteúdo e da horizontalidade das relações de aprendizado se se quiser gerar sujeitos verdadeiramente livres na construção de concepções de mundo e agir autônomo.

Essas preocupações são demasiado importantes em relação aos operadores do Direito. Mais do que técnicos, naturalmente aptos a lidar com as perspectivas convencionais do texto legal, ansiamos por sujeitos capazes de compreender sua função política diante de uma sociedade complexa e conflituosa, que recorre cada vez mais às instituições judiciais para resolver problemas de natureza essencialmente política, acompanhada de um Judiciário que também vem assumindo funções bastante diferenciadas.

Nossa pretensão, por fim, é a de viabilizar um veículo de comunicação que esteja além do formato de uma mera revista jurídica, e que, em outro sentido, discuta o Direito sob múltiplas faces, problematizações e funções, contribuindo para incrementar um instrumento pluralista de debates e uma visão democrática da dinâmica dos direitos.

Você pode escrever para a nossa equipe mandando sugestões, criticando, propondo a publicação de uma produção sua, entre diversas outras possibilidades comunicativas.

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Novidades sobre a biblioteca digital da AJP

Em 8 de maio de 2010 inauguramos nossa seção da "Biblioteca digital da assessoria jurídica popular".
Em muitos momentos divulgamos o seu conteúdo em postagens, resenhas e indicações de leitura.

Você pode acessar a biblioteca diretamente, clicando logo abaixo do letreiro, ao lado da seção "O que é assessoria jurídica popular.

Queremos com esta seção dar ampla divulgação aos textos dos assessores populares, principalmente para contribuir com as atividades de formação de todo movimento de assessoria jurídica popular.

Também é uma forma de homenagear o Instituto Apoio Jurídico Popular, que nas décadas de 1980 e 1990 realizou trabalho de divulgação nacional de textos de/para/com assessores populares, com as coleções "Seminários", "Socializando o conhecimento", "Boletim Juristas Populares" e "Aconteceu na justiça".

Desde a última semana iniciamos a divulgação de alguns dos textos que já estão disponíveis na biblioteca, com a referência sobre o autor, o resumo e as palavras-chave. Os objetivos são:
- ampliar a visibilidade e melhorar a divulgação dos textos;
- indicar, semanalmente, um texto para leitura;
- cadastrar os textos como postagens para indexação e facilitar a busca na internete;
- estimular os leitores do blogue a enviarem seus próprios textos, para que sejam indicados na coluna semanal.

Aproveito para divulgar que já estamos com a coleção completa dos textos do Instituto Apoio Jurídico Popular. Também encontramos originais inéditos de Miguel Baldéz e Thomaz Miguel Pressburger. Em breve vamos disponibilizar todos por aqui.

Agradeçemos a tod@s autor@s que disponibilizaram seus textos e desejamos a tod@s uma boa leitura.

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

A comunicação e o apoio popular

A militância hoje está se organizando em torno da comunicação. Os assessores populares trabalham diretamente com a produção de informação, campanhas de agitação e propaganda.

Variadas vertentes políticas (anarquistas, socialistas, comunistas) reúnem-se em meios de comunicação alternativos, especialmente blogues e jornais. Neste blogue, por exemplo, reúnem-se professores, estudantes, advogados, trabalhadores, entre outros assessores populares.

O tema geral do direito insurgente remete a necessidade de pensar a comunicação nos mesmos marcos. É preciso utilizar a mesma estratégia fundada na dualidade da assessoria jurídica popular: positivismo de combate e pluralismo jurídico popular e insurgente.

Na comunicação pode ser feita a analogia para um jornalismo de combate e uma comunicação social popular e insurgente. Cabe tanto uma aliança com a classe dos jornalistas, que vem sendo duramente atacada nos últimos anos, como assumir o desafio de fazer comunicação com viés jornalístico.


Assessores populares: olhai para estes ternos olhos em fogo.


O jornalismo de combate significa tanto a proposta do entrismo, de Adelmo Genro Filho, de que é necessária a guerra de posição nos grandes meios das grandes mídias (jornal, rádio, televisão, internete) - além, é claro, de sua valorosíssima contribuição sobre uma teoria marxista do jornalismo, na obra "O segredo da pirâmide"; como o jornalismo de libertação, de Elaine Tavares, de entregar-se de mente e coração aos movimentos sociais e vivenciar junto com estes para ajudar a contar as suas histórias - com sua obra "Porque é preciso romper as cercas" . Este último já se coloca dentro da proposta maior de comunicação popular e insurgente, que significa a criação de novas estratégias, instrumentos, que reúnam a cientificidade, a arte e o conhecimento popular. Bons exemplos neste campo são mesmo o Núcleo Piratininga de Comunicação, Palavras Insurgentes, Centro Teatro do Oprimido, Fazendo Media, Brasil de Fato, entre muitos outros.

Façamos da asessoria jurídica popular um espaço de comunicação, que estrapole os limites dos projetos com rádios comunitárias e até mesmo este blogue - para construirmos a unidade para a luta.

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

O devermos ver é a verdade


Com esse titulo espero abrir este post para indicar "Da Servidão Moderna" como o filme (Documentário) da semana, o documentario é baseado no livro de mesmo nome escrito na Jamaica em 2007. O objetivo da película é colocar em nossos olhos a condição atual de escravidão e servidão do homem com a sociedade. Todo o filme esta postado no You Tube, aqui vai a primeira parte, Espero que gostem do filme desta semana.

http://www.youtube.com/watch?v=nJCW6AbCoWQ

sexta-feira, 18 de junho de 2010

*Uma partida


Hoje (18.06.10) recebemos a notícia da partida de um dos grandes nomes da literatura universal: José de Sousa Saramago. Autor absolutamente crítico de um mundo humano gerador de injustiças e do próprio ser humano, único responsável por este mesmo mundo. Nas páginas de suas obras, manteve-se sempre consciente da condição humana, abordando com destreza nossas possibilidades e nossos limites. Expunha a vida como uma viagem no oceano Existencial tratando da con-vivência, da solidão, da luta, da exploração do homem pelo homem, do horror, da abominação, da lealdade, do amor, da vida e da morte...

Suas personagens não eram seres particularizados- a começar pelo nome-, mesmo quando a obra tratava de personalidades religiosamente cultuadas. Elas eram, invariavelmente, gêneros que abarcavam cada uma de nossas facetas, da mais bela e comovente à mais cruel e repugnante. Não havia como escapar da teia habilmente trançada pelo autor. Cada um de nós estava lá.

O tempo verbal que utilizo está no passado. Acho que já me dou conta do que “já não está lá”, que era como ele mesmo falava da morte. Mas se não temos mais o intelectual de ideias combativas, que não abandonou em momento algum seus ideiais e convicções, que resultaram em um auto-exílio( Lanzarote, Canárias, Espanha), ainda nos resta as obras e elas estão aí para quem quiser aventurar-se por suas frases inconfundivelmente sinalizadas apenas por vírgulas e pontos, uma facilidade para o autor, segundo suas próprias palavras e mais liberdade para eu e você leitores melhor vivenciarmos os personagens que certamente carregamos dentro de nós mesmos. Frases, essas, ainda, que nos exortam à “lembrar da responsabilidade de enxergar num mundo de cegos”, como bem disse meu amigo Lucas hoje.

Finalizando essa breve lembrança póstuma, um dos meus trechos favoritos do livro “Jangada de Pedra”, que compartilho:

“(...) uma palavra, quando dita, dura mais que o som e os sons que a formaram, fica por aí invisível e inaudível pra poder guardar o seu prórpio segredo, uma espécie de semente oculta debaixo da terra, que germina longe dos olhos, até que de repente afasta o torrão e aparece à luz, um talo enrolado, uma folha amarrotada que lentamente se desdobra.”

* Eu peço desculpas por não escrever algo à altura do homenageado, ainda mais sabendo que muitos aqui apreciam sua obra, mas fiz isso na mera intenção de deixar registrada a lacuna provocada pela morte do grande autor e na tentativa de que outros se incentivassem a expor sua própria visão da obra/vida do autor que, penso, abordava temáticas pertinentes aos anseios dos que “transitam” por este blogue.






sexta-feira, 16 de abril de 2010

Jornalismo da maioria, ouro de poucos

Por Jorge André e Lucas Vieira

Você sabe
O que eu quero dizer
não tá escrito nos outdoors
Por mais que a gente grite
O silêncio é sempre maior
Humberto Gessinger

É emblemático, para a construção da imagem do governo cubano como negativo, limitador das liberdades individuais e opressor de direitos humanos como a democracia, que um jornalista faça greve de fome. Logo, desdobram-se argumentos de que o socialismo é ruim para o mundo atual, e, mais ainda, que é autoritário, ditatorial.
O que não se questiona na grande imprensa é se o mundo construído além dessa ilha da América Central é garantia de um quadro oposto a isso. E, principalmente, se é melhor do que a teorização – e práticas – socialistas.
Como acreditar que uma sociedade onde o lucro tem grande importância; a diversidade de raças e sexualidades é veladamente tolhida; a democracia é concedida de uns para outros como um presente, e regida por limites dos países dominantes; como ela pode ser tão melhor para os seres humanos? É progresso? É desejada?
O jornalista, e o jornalismo que o apóia, funda sua atividade, predominantemente, na crença em um progresso. Mas a troco de quê? Da exaltação dos lucros fantásticos, por exemplo, que os royalties do pré-sal trarão a uns poucos brasileiros – que poderão sonhar com os padrões do multibilionário Eike Batista, reverenciado como um grande empreendedor?
Aqueles que saíram às ruas, aos gritos de "O petróleo é nosso!", talvez sejam os menos beneficiados por essas grandes somas de dinheiro. Serviram mais de fontes para compor a matéria jornalística, e sensibilizar a opinião pública para que se manifeste contra a "desigual" repartição das fatias do bolo. Ou, pelo menos, para que "a voz do povo" legitime as práticas que tenderem a não partilhar o lucro.
É de se esperar que estes mesmos agitadores apareçam nas ruas, clamando pela melhor distribuição de rendas, quando perceberem que as condições de vida não melhoraram, e o petróleo virou ouro de poucos.
A imprensa majoritária, que entende democracia como liberdade ampla e irrestrita de expressão, esquece de dar voz aos que certamente também precisam. É impossível não comunicar, diria o teórico. Mas é possível não repercutir da forma que se espera.
Cuba é um país socialista diante de uma quantidade enorme de capitalismos – plurais, sim, mas todos calcados no triunfo das elites sobre os menos favorecidos. Será que o país não merece uma oportunidade de ter uma imagem mais bem construída? O filósofo Michel Foucault disse que o poder não é uma manifestação somente negativa, pois se assim o for, não se sustenta. Cuba deve ter aspectos positivos na sua forma de governo.
Não que agora devam ser defendidas práticas violentas de repressão, ou se reduzir o mundo à polarização capitalismo-socialismo da época da Guerra Fria. Nem vale dizer que o governo castrista só trouxe o bem para aquela ilha. Mas a impressão que se tira do combate feito a esse país é que há uma necessidade de varrer qualquer sombra dos "derrotados" da face da Terra. Mais ainda: que no resto do mundo repressões como essas não existem, o que é uma omissão grave.
Outros também vivem à margem de uma cobertura jornalística mais apurada. O Movimento dos Sem-Terra, por exemplo, aparece aos olhos da opinião pública como "um bando de baderneiros" que "completa um quarto de século zombando da lei", como diria reportagem da Revista VEJA, em 28 de janeiro de 2010.
O que é desconsiderado, em boa parte dos casos, é que o movimento não se restringe a ações violentas, irrefletidas, como grande parcela da mídia quer colocar. Tais ações são, na maioria dos casos, as formas de (ex)pressão que esses trabalhadores têm para reivindicar a reforma agrária, ou ao menos serem ouvidos.
Se não se trata de sacralizar ou aplaudir todas as ações do movimento (reduzi-lo a bom ou mau, em vez de considerá-lo um importante agente social), é preciso que se tenha uma percepção geral de como ele se constitui.
O MST é formado por uma pluralidade de pessoas, e essa é apenas uma de suas faces. Há pessoas lutando por condições mais dignas de vida, por um pedaço de terra, não somente para si, mas para toda uma coletividade.
A partir desta perspectiva é que se pode julgar e/ou entender, sem maniqueísmos, a derrubada de pés de laranja nas terras griladas da Cutrale promovida pelo movimento, por exemplo. Nesse caso, apesar do choque causado pelas imagens, não foram (bem) questionadas as razões do ato; ele apenas foi tachado de arbitrário, irracional.
Essas reflexões são apenas um ponto de partida para se analisar o fazer jornalístico. Não se deve naturalizar as opiniões da maioria como se fossem verdades absolutas, a única versão possível dos acontecimentos.
É preciso sacudir os tapetes, revelar os fatos que ocorrem não só por uma perspectiva dominante, mas perceber que há muitos elementos que podem compor uma notícia. Assim, pode-se pensar em uma imprensa que respeite mesmo a diversidade , marca do mundo contemporâneo, e que se comprometa de verdade com os anseios do povo.

Jorge André Paulino da Silva
Estudante de Comunicação Social -Jornalismo da UFPI (Federal do Piauí) e de Direito da UESPI (Estadual do Piauí), membro do projeto CORAJE (Corpo de Assessoria Jurídica Estudantil) e do Coletivo M.E.U (Movimento dos Estudantes da UESPI)

Lucas Vieira
Estudante de Ciências Sociais da UFPI e de Direito da UESPI, membro do CORAJE e do M.E.U

segunda-feira, 5 de abril de 2010

Rebelião na comunicação mundial


A página "Rebelión" é um meio de informação alternativa que publica notícias que não são consideradas importantes pelos meios de comunicação tradicionais.
Todo o conteúdo está em espanhol. Além de muitas notícias, a página tem inúmeras publicações, livros livres, artigos, sobre variados temas: política mundial, economia, história, feminismo, sem-terra etc.
Destaque para o livro "Sem-terra: construindo movimento social", de Marta Harnecker, de 2002.

sábado, 13 de março de 2010

Notícias do Norte !

O mês de março se iniciou em ritmo de comemoração para os Núcleos de Assessoria Jurídica Universitária Popular do Pará. Após passar pelos emaranhados processos burocráticos junto ao Instituto de Ciências Jurídicas e a Pró-Reitoria de Extensão da Universidade Federal do Pará (UFPA), o Núcleo de Assessoria Jurídica Universitária Popular Aldeia Kayapó (NAJUPAK) bem como seu irmão gêmeo, o Núcleo de Assessoria Jurídica Universitária Popular Isa Cunha, foram contemplados com quatro bolsas de extensão, através do edital PIBEX/UFPA 2010, para desenvolver as atividades ao longo deste ano.

No que se refere ao Núcleo de Assessoria Jurídica Universitária Popular Isa Cunha, o Programa de Trabalho submetido a Pró-Reitoria de Extensão da UFPA, conta com a previsão de realização de projetos relacionados com Assessoria Jurídica Popular e o Direito à Saúde, além da colaboração junto a rede que articula o Estágio Interdisciplinar de Vivência (EIV) no Estado do Pará.

Quanto ao Núcleo de Assessoria Jurídica Universitária Popular Aldeia Kayapó, em meio ao processo de transição que vive atualmente, sua atuação em 2010, prevê o desenvolvimento do Projeto Juventude Cidadã, que se refere a educação popular em direitos humanos em escolas da rede pública de Belém, com especial foco na questão da violência e em parceria com o Núcleo de Educação Popular Paulo Freire da Universidade do Estado do Pará; ademais do Projeto ANEM o qual se propõe a demarcar a presença do NAJUPAK na UFPA através de um ciclo de debates literários sobre Arte e Ciência.

É importante frisar que, não obstante as críticas produzidas sobre as formas de financiamento dos projetos, a concessão de bolsas neste caso implica em um reconhecimento das AJPs junto a Universidade uma vez que tal auxílio é objetivado a quatro anos consecutivos, aprofundando o processo de institucionalização dos Núcleos e galgando, portanto, um espaço legítimo de crítica e transformação dos pilares educacionais baseado nas premissas da AJUP.

Nesse sentido, a abertura da UFPA a tais práticas também se mostra pela concessão de bolsas de extensão ao Programa de Extensão Centro de Assessoria Jurídica Popular do Campus de Marabá, que está timidamente iniciando diálogos com os NAJUPs de Belém e em consequência, com a Rede Nacional de Assessoria Jurídica Universitária.

É a Assessoria Jurídica Popular crescendo na Amazônia!


sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Elaine Tavares e o desafio da comunicação

Inauguramos este blogue há pouco mais de 6 meses.
Neste período conheçemos muita gente, propostas e blogues diferentes.
Algumas pessoas se agregaram ao nosso projeto de fazer a comunicação pela internete com os assessores jurídicos populares.
Mas, já pudemos perceber como é difícil atuar na comunicação.

Por isto, temos tentado mesclar postagens sobre a metodologia do trabalho popular, resenhas, notícias, poemas, entre outros. Precisamos aprender ainda sobre a tecnologia dos blogues, além de aperfeiçoarnos na área da teoria da comunicação.
Queremos aprender com comunicadores que aproximam-se de nossa proposta. Já apresentamos por aqui algumas impressões sobre a comunicação na América Latina, com as experiências e obras de Adelmo Genro Filho e Daniel Herz.
Hoje vamos apresentar uma jornalista que merece todo nosso respeito e admiração, que é a Elaine Tavares.


A Elaine Tavares é marxista e defensora do jornalismo da libertação, gosta e lê muito Enrique Dussel e Adelmo Genro Filho. Trabalha como assessora de comunicação do Instituto de Estudos Latino-Americanos da UFSC, escreve para a revista "Pobres & Nogentas", no blogue "Palavras insurgentes", e é locutora da rádio comunitária Campeche.

Seu último livro, "Por que é preciso romper as cercas" é um testemunho de uma mulher que ousou ultrapassar as barreiras impostas pelo jornalismo "careta" e adentrou em uma experiência revolucionária de estar-com os sujeitos envolvidos na comunicação. Trata-se de sua atuação como jornalista da RBS no Rio Grande do Sul, quando acompanhou o processo de ocupação da fazenda Anonni e todos os seus desdobramentos. Esta obra ganhará uma resenha em nosso blogue em breve!
Hoje ela publicou no sítio do Jornal Brasil de Fato o artigo "A lição da RBS", onde reflete sobre esta experiência no Rio Grande do Sul.
Uma voz importantíssima para refletirmos sobre uma proposta de comunicação para América Latina, Elaine viveu os bastidores da grande mídia e pisou no barro com os movimentos.
Queremos te homenagear e deixar o nosso caloroso abraço, dos companheiros e companheiras de Passo Fundo, Floripa e de todo o Brasil!


Alguns "canhões de bites" da Elaine Tavares:
Instituto de Estudos Latino-Americanos da UFSC
Revista "Pobres & Nogentas"
Blogue "Palavras insurgentes"
Rádio comunitária Campeche


Leia ainda:
"O segredo da pirâmide: uma teoria marxista do jornalismo", de Adelmo Genro Filho

"Violência, política, poder e Estado: reflexões preliminares", de Adelmo Genro Filho
"A história secreta da Rede Globo", de Daniel Herz

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Rumo ao XII ERENAJU!

O XII Encontro da Rede Nacional de Assessoria Jurídica está programado para ocorrer no primeiro semestre de 2010, no estado do Piauí, sendo organizado localmente pelos grupos de Assessoria Jurídica Popular, a exemplo do Cajuína (PI).

No último domingo (17/01), ocorreu a primeira reunião virtual da RENAJU para o planejamento do Encontro, que deve reunir cerca de 100 representantes das diversas AJUPs existentes no Brasil. É interessante notar a partir do relato feito por Júlia Ferraz (integrante de uma das mais antigas AJUPs, o SAJU/BA), a evolução da Rede para a elaboração dos Encontros, mostrando que a prática consciente e análise do passado, leva ao aprimoramento das ações.

Foi assim que as pautas inicialmente previstas, ou seja, a estrutura, programação e plano político-pedagógico, ganharam um curioso entrelaçamento e possuíram unidimensionalmente como baluarte os objetivos do Encontro. Nesse sentido, o Cajuína (PI), representado na reunião por Laís Ulisses, Lorena Varão e Natasha Karenina, informou que está buscando por uma escola pública para a realização do evento uma vez que seria consoante com os escopos e também ajudaria na diminuição de custos.

Sobre os objetivos gerais, nota-se também o amadurecimento da RENAJU pela tomada de responsabilidade para a elaboração de um Plano Político-Pedagógico (PPP) para o direcionmento dos eixos político, propositivo e até mesmo simbólico do XII ERENAJU. O que teria como consequência a feitura de uma Programação mais sólida em que se tenha em conta o que a Rede quer e como conseguir. A fala de Natasha (Cajuína-PI) sobre o PPP é contundente: "Não estamos relegando a programação a um espaço secundário, ela é tão importante quanto a estrutura, a comidinha, etc, mas todo o encontro será fruto do PPP, que é o arcabouço político e metodológico também deste Erenaju. A elaboração do PPP é de responsabilidade da sede, mas queremos que todos os projetos participem conosco, lendo, dizendo que tá legal, ou que não tá legal e porque. Se não houver essa troca o encontro perde boa parte de sua graça...rs. É importante mesmo que todos os núcleos leiam o PPP e que este não passe batido na lista como muitos emails e arquivos têm passado, até para que a sede saiba por onde está indo, por onde deve ir. A responsabilidade é de todos nós na construção do Erenaju, não só dos teresinenses."

Assim, o encaminhamento da reunião foi o de que a sede do evento (o Piauí) enviaria para o grupo de discussões virtual uma primeira versão do PPP o qual, em seguida, deverá ser debatido internamente pelas AJUPs e utilizado na confecção da programação, que será iniciada na próxima reunião virtual, prevista para o dia 07/02.

Ao final da reunião, houve um tópico proposto pelo representante do NAJUC-CE sobre a participação da RENAJU no Forum Social Mundial Temático (FSMT) a ser realizado em Salvador, durante os dias 29 a 31 de Janeiro de 2010. Bruno explicou sobre a articulação que está a ocorrer em Fortaleza devido a Copa de 2014, o denominado Comitê Popular de Monitoramento da Copa, pois se delinea uma situação problema pela previsão de uma "enxurrada de remoções" em razão das reformas necessárias para a melhoria de infra-estrutura na cidade. Assim, a idéia é a de trazer para o FSMT uma intervenção relacionada com a temática urbana, que é foco de trabalho de muitas AJUPs, relacionando com a Copa de 2014. Os(as) interessados(as) em participar devem se manifestar no grupo de discussão virtual da RENAJU.

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

Comunicação na América Latina

Aproveitando o ensejo da discussão da mídia, proposta pelo Thiago Arruda, gostaria de apresentar dois jornalistas que contribuíram muito para a comunicação em nosso continente.

O Adelmo Genro Filho (1951-1988)  (sim, ele é irmão do Tarso), foi professor e um dos fundadores da faculdade de jornalismo da UFSC, buscou construir uma teoria marxista para o jornalismo. Sua obra "O segredo da pirâmide: para uma teoria marxista do jornalismo", está disponível na internete, ou, com sorte, em algum sebo.



Daniel Herz (1954-2006)  foi jornalista e articulador político. Sua obra mais célebre foi "A História Secreta da Rede Globo", que este mês foi relançada pela Editora Dom Quixote, de Porto Alegre. Conforme a sinopse da editora, "este livro, originalmente lançado em 1983, que se encontrava esgotado desde 1987, reconstrói a história da formação da Rede Globo, lançando luzes em muitos aspectos que se faziam invisíveis. A História Secreta da Rede Globo é uma obra polêmica e, sem dúvida, importante para o debate do Brasil Contemporâneo, especialmente no que diz respeito à democratização da comunicação".


"Não há nada mais ousado no universo do que o homem"
Adelmo Genro Filho

América Latina: política e mundo