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domingo, 15 de março de 2015

Sobre as manifestações de hoje: a importância dos movimentos sociais enquanto construtores de vocabulário das demandas marginalizadas em meio a esse balaio de gato




  "Cartaz com os dizeres "Basta de Paulo Freire" mostra o quanto o grande educador está fazendo falta... "

Então... Comecemos as avaliações deste famigerado 15.03. O que mais me saltou aos olhos nessa manifestação de hoje foi a ausência de um lastro sólido nos brados que ecoaram e no que li nos cartazes que apareciam nas redes sociais. Exigências contraditórias do tipo terrível como “feminicídio SIM. Fomenicídio não”, “fora dilma e o congresso, apoio a PF e ao MP”, “Chega de Paulo Freire”, “ luto: pela democracia, intervenção militar já”.  Desse perigoso balaio de gato não faltaram políticos e grupelhos oportunistas (até cartaz integralista apareceu), o que, sim, representa um perigo, posto que estes possuem um discurso minimamente coerente em termos argumentativos, ainda que as falácias predominem.

Porém, vejo um interessante horizonte para os movimentos sociais. Esses sim apresentam propostas coerentes, sólidas e representativas, especialmente daqueles que dificilmente tem voz dentro dos espaços públicos. Aliás, eu nem acredito que faço bem em falar em representação já que as próprias pessoas afetadas por problemas como moradia, terra, água, transporte público eficiente, acesso à cidade em geral, degradação ambiental, deslocamento de populações etc é que constroem o discurso que forma o vocabulário das demandas dos movimentos. 

Enquanto a outra parte do Brasil não aprender a ouvir esse vocabulário rejeitado e insistir em demandas quiméricas e vazias como “O fim da corrupção” as manifestações por mudanças só darão ensejo ao pior do mais do mesmo. Não apresentar propostas concretas, abre um perigoso vácuo para aqueles oportunistas.
Além disso, uma impaciência e revoltas momentâneas por conta de diminuição de privilégios não atinge o âmago da questão. Não são esses que se encontram afetados em termos de existência. Há um cheiro de farsa no ar: indignação hipertrofiada de quem nunca passou um perigo real na vida. Uma farsa perigosa, protagonizada por quem não entendeu que esse jogo é sério e que parece desconhecer quais suas regras e sujeitos.

É por isso que muito tranquilamente afirmo que esse quadro de coisas só faz reafirmar cada vez mais a legitimidade do discurso dos movimentos sociais em suas muitas demandas. Sua indignação não é falatório em meio a uma aula de pilates, num aeroporto, ou em meio a um farto jantar com a família. É da vivência da continuada negação da existência em condições humanas que eles afirmam sua fala. 
Totalmente diferente.

segunda-feira, 13 de junho de 2011

Convocatória cubana: VII Encontro Internacional "Presença de Paulo Freire" (2012)

Divulgamos interessante evento internacional, ancorado na obra de Paulo Freire, que se dará em Cuba no próximo 2012. Pela dificuldade de acessar às informações específicas, disponibilizamos a convocatória em espanhol na íntegra, aqui no blogue.

CONVOCATORIA

VII ENCUENTRO INTERNACIONAL

“PRESENCIA DE PAULO FREIRE”

Espacio para reflexionar y crecer.

Opción este año de taller especial:

PROCREARTE 2012

PROMOVER Y CREAR ARTE DESDE LA COMUNIDAD

2 al 7 de mayo del 2012 Cienfuegos, CUBA

Patrimonio Cultural de la Humanidad.

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Ano recomeça com nova linguagem

Parece que o ano finalmente começou. Basta passearmos pela internete e percebermos o retorno de muitas pessoas para o trabalho e para o dia-a-dia da política.

Nosso colunista Jacques Alfonsin escreveu "Sobre uma crítica tão grosseira quanto infundada contra o 'Conselhão' do RS", no blogue RS Urgente, em que destaca seus objetivos na participação no referido conselho e responde a críticas direcionadas aos seus componentes, pelo jornal Zero Hora. Uma contribuição sobre a participação popular e seu histórico nos últimos governos. Uma boa oportunidade para compararmos com o modelo de participação do Conselho Popular, iniciativa carioca que conta com a assessoria jurídico-política de Miguel Baldéz, e seu princípio da presentação.

Importante o resgate feito por Venicio de Lima no blogue "Fezendo Media" sobre a "Comunicação e cultura em Paulo Freire: 30 anos depois", em que destaca o reconhecimento internacional do autor e a sua importância no estudo da comunicação. Podemos aqui retornar a alguns debates já feitos neste sentido, como "A comunicação e o apoio popular", ou então "O círculo de cultura de Paulo Freire".

Os blogues terão poções mágicas para encarar o monopólio dos meios de comunicação?

Excelente o artigo de Antonio Bastos, membro do Movimento e do blogue "Direito para quem?", intitulado "O Iraque é aqui", em que nos previne para uma triste realidade que ainda está por vir com os grandes eventos esportivos no Brasil, além de fazer um importante resgate dos principais fatos históricos que caracterizam este momento de consternação e reflexão sobre a crescente violência do Estado na favelas. Oportunidade para lembrarmos de debates realizados por aqui, como o proposto por mim na postagem "Violência no Rio: Estado e constitucionalismo de fachada", também pelo Adriano Oliveira em "Sobre a tragédia no Rio" e o "Manifesto do Conselho Popular contra ditadura aos pobres" do Conselho Popular do Rio de Janeiro.

Muito legal o blogue "Informativo Mapuche Werken Kvrvf", que significa "Mensageiro do Vento", e tem como objetivo apoiar o processo de reconstrução e autonomia da Nação Mapuche e demais povos originários. Oportunidade para lembrar debates propostos por nossos colunistas, como Roberta Cunha Oliveira em "América Latina dos abismos", Assis Oliveira em "AJP/AJUP com povos indígenas?" e Ricardo Prestes Pazello em "O giro descolonial e o direito: três cortes estruturais da colonialidade do poder".

Por fim, a notícia "MST e Imbituba" enviada pelo colaborador Ezequiel Antonio de Moura, da Brigada Mitico do MST-SC, veiculada no jornal Diário Catarinense sobre um ano das prisões em Imbituba-SC. Relembrando uma série de notícias sobre Imbituba veiculadas neste blogue, que inclusive algumas constituíram-se em furos de reportagem nos jornais locais de Imbituba e Florianópolis.

Por hoje é isto, encerro esta coluna com um sentimento de que a linguagem dos blogues proporciona um outro olhar sobre o mundo e a comunicação.

terça-feira, 24 de agosto de 2010

Da rua para academia, por Lívia Gimenes



Da rua para academia: os desafios da construção de um direito libertário a partir da extensão universitária.
Lívia Gimenes Dias da Fonseca - mestranda em Direito/ UnB e integrante do projeto “Promotoras Legais Populares/DF”


Em 02 de junho de 1988, Paulo Freire proferiu uma palestra para os/as estudantes da Faculdade de Direito da USP que se transformou em um capítulo do livro “Pedagogia da Esperança”. O que chama a atenção nesse texto é que ele inicia a palestra apresentando o medo que lhe tomou ao falar naquele dia e naquele local e que ele assumia aquele medo porque falar dele seria pedagógico.
Para quem conhece o salão nobre da Faculdade do Largo do São Francisco sabe que ele é composto de um gigantesco pé direito a tal ponto que atrás da mesa dos/as palestrantes cabe um enorme quadro de D. Pedro I. Certamente não era a austeridade do ambiente que atormentou o professor. Afinal, ele foi formado em uma faculdade de Direito, a de Recife, que não perde em nada em opulência.

Talvez a sua preocupação fosse em relação a compreensão do conteúdo de sua palestra, em especial pela linguagem. A sua apresentação não seria naquele momento em inglês, ou francês, ou alemão, línguas que aquele público estava bastante acostumado a lidar aliás, mas ele iria falar no melhor “brasileiro” em um sotaque bem pernambuquês.
Ainda, a preocupação não estaria relacionada a ele não estar acostumado a apresentar suas idéias em público, ao contrário, naquela altura a sua obra já era bem reconhecida mundialmente e ele estava acostumado a se apresentar nos mais diversos países. Na verdade era exatamente este fato que lhe preocupava.
O professor sabia que aqueles/as estudantes estavam acostumados a entrar em sala de aula e a “engolir” as falas de seu catedrático professor/a tendo somente que “cuspir” depois as idéias em uma prova (para não pensar onde iriam fazer isso depois de formados/as). Muitos acreditam que o diálogo depende somente que o locutor/a da idéia esteja aberto a ser questionado/a, todavia, às vezes o mais difícil é conseguir que aqueles/as acostumados/as a serem objetos da fala do “outro” se permitam a pensar o que lhes é dito e, assim, se colocarem enquanto sujeitos da conversa.
Coerentemente, Paulo Freire queria que, ao assumir honestamente a sua mais completa forma de “ser” humano, as/os estudantes deixassem de enxergá-lo em um pedestal e o vissem em sua horizontal postura e se abrissem para ouvir e refletir as idéias que ali seriam colocadas. Aliás, idéias nada comuns ao público ali presente.

Acostumados ao ensino da dogmática positivista, como compreenderiam que sonhar e amar seriam direitos? Mais ainda, inseridos no espaço da academia onde a única fala legitimada é o do catedrático, como entenderiam a idéia de que “o ato de conhecer se apresenta como um direito dos homens e mulheres das classes populares, que vêm sendo proibidos e proibidas de exercer este direito, o direito de conhecer melhor o que já conhecem, porque praticam, e o direito de participar da produção de conhecimento que ainda não existe” (FREIRE, p. 97)?
Não se sabe se aquele público ali presente em especifico compreendeu. Entretanto, essas idéias passaram a ser a base fundamental dos/as estudantes extensionistas que atuam em projetos como os de educação jurídica popular, no qual se enquadra a experiência do “Promotoras Legais Populares do DF” (PLPs).
O caminho de ida até a comunidade não é o mais difícil. Logo as cursistas do projeto de PLPs se tornam as verdadeiras professoras no aprendizado de que os direitos, na perspectiva de justiça, estão nas ruas, e ambos, universitários/as e cursistas, se despertam em conjunto para a “necessidade da briga, da organização, da mobilização crítica, justa, democrática, séria, rigorosa, disciplinada, sem manipulações, com vistas à reinvenção do mundo, à reinvenção do poder” (FREIRE, p. 99).

Assim, o maior desafio da extensão está sempre no caminho de volta para a Universidade. O/a estudante extensionista retorna ao ambiente acadêmico impregnado de reflexões e sensações que adquiriu com o contato com a comunidade muito difíceis de serem transmitidas somente pelas palavras a quem não vivenciou a mesma experiência.
A linguagem dos/as estudantes extensionistas torna-se estrangeira aos ouvidos de quem não está acostumado a ouvir os anseios do povo. O brilho de esperança nos seus olhos não consegue ser captada pela racionalidade acadêmica daqueles/as que têm na história uma concepção finita que tem como ponto final a dominação de um individuo por outro.  E o abraço afetuoso de quem tem no diálogo uma abertura amorosa para o mundo não encontram os braços daqueles preocupados em não amarrotar os seus ternos.
Não obstante, essas/es estudantes sempre retornam.  Publicam textos, fazem seminários, rodas de conversa, escrevem dissertações, teses, mas sabem que esses são apenas os instrumentos de seu diálogo que, para ser aberto, depende, sobretudo, que sempre sejam honestos consigo mesmos/as e que se assumam na sua humana crença em um outro direito possível.

Fonte: FREIRE, Paulo “Direitos Humanos e educação libertadora” in “Pedagogia dos Sonhos Possíveis”, Coleção: Série Paulo Freire SP:UNESP, 2001

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Círculo de cultura de Paulo Freire

Esta imagem representa o momento da realização de um círculo de cultura, experiência que caracteriza o modo de trabalho popular de Paulo Freire.

O círculo de cultura é o momento da troca da educação popular entre os animadores e os demais participantes, quando todos reúnem-se em círculo para dialogar, comunicar-se, na busca de conscientização e cultura.

A metodologia dialógica-problematizadora implica numa pesquisa dos temas geradores, que são captados, estudados, colocados num quadro e desenvolvidos como temas problemáticos. Os temas geradores estão presentes no conhecimento e visão de mundo dos camponeses e urbanos. A partir deste conhecimento se poderá organizar o conteúdo programático da educação, um conjunto de temas sobre os quais educador e educando, como sujeitos cognoscentes, exercerão a cognoscibilidade. (FREIRE, Paulo. Extensão ou comunicação. 10. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1992, p. 68)

Paulo Freire utilizou esta abordagem para criar um  método de alfabetização. Seu trabalho foi desenvolvido inicialmente como um projeto de extensão da Universidade Federal de Pernambuco. Os resultados obtidos na primeira experiência exitosa foram 300 trabalhadores alfabetizados em 45 dias, do Rio de Janeiro, São Paulo e Brasília. O plano de ação para o ano de 1964 previa a criação de 20 mil círculos de cultura, podendo alfabetizar cerca de 2 milhões de brasileiros. Poderia ter acabado com o analfabetismo no Brasil se fosse levado a diante. O método Paulo Freire foi substituído pelo MOBRAL, que depois de 18 anos deixou 30 milhões de analfabetos no Brasil. (FREIRE, Paulo. Educação como prática da liberdade (1965). Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2005.p. 03-04).

Além da alfabetização de adultos e crianças, Paulo Freire propôs um projeto educativo total e permanente para o Brasil. Uma proposta feita para o estado de Pernambuco, nomeada sistema de educação do homem do povo é a seguinte:
1º) alfabetização infantil;
2º) alfabetização de adultos;
3º) ciclo primário rápido;
4º) extensão universitária (universidade popular);
5º) Instituto de ciências do homem;
6º) Centro de estudos internacionais (com foco sobre questões do terceiro mundo).
(BRANDÃO, Carlos Rodrigues. O que é método Paulo Freire. 2. ed. São Paulo: Brasiliense, 1981, p. 84)

O segredo de Paulo Freire foi ajudar o alfabetizando a se descobrir criticamente como fazedor do mundo da cultura.