quinta-feira, 26 de junho de 2014

Dilma, as vaias e os conselhos populares

Miguel Baldez


A Presidenta Dilma Roussef foi vaiada e grosseiramente xingada na abertura dos jogos da Copa do Mundo. Segundo a própria imprensa, que não lhe é favorável, pelos integrantes da área chamada VIP, a área de torcedores ilustres, os convidados da FIFA e de quem mais tem poderes sobre a COPA.

Embora as vacilações da esquerda e de seu próprio partido, é forte a presença da Presidenta junto ao povo trabalhador, tanto que tem ela fortes chances de ganhar as próximas eleições ainda no primeiro turno. É verdade que para isso muito contribui as frágeis e quase histriônicas candidaturas de seus opositores.

Pois esta mulher, e lhe bastava o fato de ser mulher para que a respeitassem, enfrentou duramente, com a bravura que os autores dos sórdidos palavrões a ela ditos certamente não teriam, a ditadura militar e seus torturadores. Bom lembrar aos canalhinhas de hoje que a canalhada que a torturava também xingava. Muito e com mais violência. É a mesma gente. Felizmente hoje, dondocas de uma sociedade com anseios ainda escravagistas, não torturam mais, mas que podem tentar lá isso podem…Daí a necessidade de o povo tem de manter-se alerta. Fascismo, companheiros e companheiras, nunca mais.

Ressalte-se, ainda, nestas ponderações, em favor da Presidenta, a democrática proposta de criação de Conselhos Populares, um antigo projeto dos movimentos, prática bem visível nos atos do Movimento Rural dos Trabalhadores sem Terra (MST), e na área urbana já experimentada com sucesso na região do Anil, Jacarepaguá, no Rio de Janeiro.

A proposta da Senhora Presidenta tem a virtude de realçar junto e além da tradicional representação, legado da revolução burguesa/francesa, a presentatividade, prevista no artigo 1º da Constituição Federal. Aos parlamentares bem intencionados os Conselhos Populares valerão como permanente meio de atualização dos valores e dos verdadeiros interesses do povo. Já os demais, aqueles que protestam contra a iniciativa, veem nos Conselhos uma invasão de poderes, poderes que enfim não são deles... 


Miguel Baldez é advogado popular e integrante do Instituto de Estudos Críticos do Direito (IECD)

sexta-feira, 23 de maio de 2014

Criado o TaCAP - Tamoios Coletivo de Assessoria Jurídica Poular

Prezados (as),
Dia 21 de maio de 2014, contando com a mística dos guerreiros que andavam e andam entre nós, eis que surge o TaCAP - Tamoios Coletivo de Assessoria Popular.
Com muito entusiasmo, portanto, informo que em nossa última reunião de formação, após mais de um mês de Atividades, decidimos criar um Coletivo de Assessoria Popular na UFF , tendo por inspiração os modelos de AJUPs universitárias que atuam no Brasil, sem deixar de construir nossa identidade própria.
Estabelecemos, além do nome e seu simbolismo, linhas básicas de estrutura e princípios. Em breve, Anexaremos a ata com os detalhes. Por enquanto, resta agradecer a todos que caminharam até esse momento, e aos que virão para somar e consolidar projetos de Assessoria Popular que sejam canais de saberes, afetos e emancipação.

Nossos agradecimentos aos companheiros e companheiras do NAJUP Luiza Mahin que nos ajudou em nossa caminhada inicial.




domingo, 18 de maio de 2014

Estudantes levaram o povo pra rua




Estudantes erguem uma bandeira
Bolitas para as patas dos cavalos
Uma mão espalmada cobre o rosto do anonimato
Um diretório livre
Um território livre

Estudantes ocupam um prédio
Dois pés sobre a mesa do Reitor
Um restaurante, uma casa, uma sala de aula
Pintadas com a cara e a cor do povo
Ombro a ombro do fundo do campo ao olho do furacão

Levaram o povo pra rua
Ela é sua!
pra baixar a passagem
pelo passe livre
pra incendiar o país

(Luiz Otávio Ribas, Rio de Janeiro, 2013)
FOTO: Pablo Vergara, Brasil de Fato, 2013

sexta-feira, 25 de abril de 2014

Sugestão de oficina para o LUTAS Londrina


Luiz Otávio Ribas


Nunca esquecer que é fundamental contar com as próprias forças”.
A consciência histórica trata de nossa responsabilidade diante de nossa realidade, apoiado no estudo de nosso próprio passado, da herança cultural formadora do presente.
Leopoldo Zea

Minha sugestão é que vocês criem espaços de diálogo com o pretexto de discussão da grade curricular. Uma possibilidade são os círculos de cultura, com dinâmicas de grupo e a arte.
Uma experiência legal no NAJUP Luiza Mahin foi uma oficina de cartazes com o questionamento “Para que serve seu conhecimento?”
O grupo do SAJU-BA organizou uma instalação no hall da faculdade denunciando os casos de machismo vivenciados pelas mulheres.
Vocês podem ouvir relatos nas salas de aula e coletar frases que vocês considerem “pérolas” dos professores e alunos. Com base nestas frases vocês buscam sintetizar um tema que pode ser extraído. A frase é escolhida porque abrange um número grande das outras falas, porque demonstra uma dificuldade de compreensão da realidade, porque expressa uma visão de mundo fatalista e porque representa uma opinião opressora.
Numa conversa em grupo vocês pensam frases que seriam a negação desta, até chegar em apenas uma frase, que seja afirmativa e que contenha a visão de mundo de vocês, seus antivalores e uma possibilidade de ação para libertação.
Com base nestas frases (tema e contratema) vocês pensam perguntas. Trata-se da problematização. Tanto perguntas que fariam para as pessoas que falaram ou que expressem dúvidas de vocês sobre o assunto (perguntas exploratórias), quanto perguntas que encaminhem ações transformadoras (perguntas problematizadoras da ação).
Agora segue um estudo de aprofundamento teórico sobre as perguntas levantadas. Com base neste estudo podem ser pensados temas para serem abordados em uma oficina (conteúdo programático).
No fim, é só planejar a ação cultural. Quanto tempo vai durar, onde vai ser, qual o material didático necessário, os recursos audiovisuais etc.
Na prática pedagógica vocês podem aproveitar para anotar novas frases e recomeçar o trabalho. Ou podem ser usados temas que ficaram de lado na escolha do tema na primeira vez.
No círculo de cultura todos falam, se quiserem. Os educadores-educandos proporcionam a reflexão, com perguntas planejadas e outras improvisadas. O objetivo é planejar e executar uma ação. Toda prática pedagógica precisa ser também formadora para que possa ser reproduzida por quem participa.

terça-feira, 1 de abril de 2014

Ditadura e incontinência

Ricardo Prestes Pazello,
professor da Faculdade de Direito da UFPR


1º de abril é o dia da mentira, como todos sabem. Alguns, porém, dissimulam não saber que é o dia do golpe que implementou a ditadura civil-militar de 1964 no Brasil. Os que mais deveriam estar alfabetizados neste singelo conhecimento são os juristas. É ainda possível um douto bacharel em direito, com anel e gravata, além de título de doutor, desconhecer o razoável? Pode um jurista dar-se ao respeito e colocar-se ao lado da ditadura?*

Pois é. Ao que parece, o imponderável parece ainda ter vez. É o que se pode concluir da pretensa aula do professor Eduardo Lobo Botelho Gualazzi**. Dentre as muitas qualidades deste professor – quase todas elas relatadas no verbete dedicado a seu nome no projeto Wikipédia*** – está a de escrever suas aulas, para lê-las, tal e qual faziam os velhos “lentes” das faculdades de direito, diante da estudantada, “sequiosa” por seu conhecimento.

No dia 1º de abril (dia de 48 horas, pelas "confusões" no calendário dos militares) de 2014, data que comemora o dia da mentira e rememora os 50 anos do golpe militar de 1964, Botelho Gualazzi dá a conhecer a seus alunos a aula intitulada “Continência a 1964”. O título causa espanto. 50 anos depois do golpe e 29 anos depois da queda do regime ditatorial, o lente e causídico continua se orgulhando de bater continência ao escrofuloso evento cinqüentenário. Mais espantosa é a rubrica que serve de subtítulo à assim chamada aula: “aula proferida na Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, no 50º aniversário da Revolução de 31 de março de 1964”.

Incontinenti, o preletor arregimenta seus argumentos e, mesmo diante do ponderável espírito que toma a sociedade brasileira ao rechaçar qualquer tipo de desmemória ou falsa memória sobre o golpe de 1964, escreve uma “lição” sobre como se forma uma personalidade hostil à democratização e às transformações sociais. Sem tirar nem pôr, o muitíssimo respeitoso professor refere-se a si mesmo quando tinha 17 anos de idade e apoiou o golpe de 1º de abril em “silêncio firme”: cultivava “a) aristocratismo; b) burguesismo; c) capitalismo; d) direitismo; e) euro-brasilianismo; f) família; g) individualismo; h) liberalismo; i) música erudita; j) pan-americanismo; l) propriedade privada; m) tradição judaico-cristã”. A ordem alfabética alude a alguma ironia, logo precipitada numa avalancha de insensatez e desrespeito pela história.

O principal argumento do didata é a guerra fria. Em face dos horrores de Stálin, diz-nos o mestre, não poderíamos deixar “apoderar-se” o Brasil por uma “minoria secreta de brasileiros/as, com alma vermelha” e implementar uma ditadura! A solução do insigne explicador: uma ditadura de direita! As razões do nobre prelecionador não deixam de ter um quê de verdade: “a Revolução de 31 de março de 1964 consistiu na preservação [sublinhado no original] da consolidação histórica do perfil brasileiro, assentado em nosso país desde 1500 (Descobrimento do Brasil)”. Infelizmente, todavia, o ilustre professor não percebeu estar usando inadequadamente uma figura de linguagem para arrazoar seu entendimento. Toma a si mesmo como o “perfil brasileiro” por excelência (aristocratista, direitista, individualista...) e vê, no 1º de abril de 1964, a salvaguarda dessas imodestas características humanas, ou seja, toma a parte pelo todo. O quê de verdade na aludida metonímia, no entanto, reside no fato de que desde 1500 assentou-se no Brasil uma minoritária mas poderosa parcela de “euro-brasileiros” que, é verdade, são especialistas em, sem reocupações com ordens alfabéticas, genocídio, etnocídio, escravismo, ditadura, tortura, corrupção, patriarcalismo e... bacharelismo.

No curso de sua conferência, Botelho Gualazzi revela ser “janista” (cultor da figura de Jânio Quadros), ao utilizar a frase: “o século XX foi o forno crematório das ideologias”. A seu ver, em 2014, já houve um “apaziguamento de ideologias”. Partindo de um antimarxismo vulgar, o ilustríssimo lente considera “ideologias políticas” apenas aquelas contra as quais se coloca. De memória curta (em todos os sentidos), esquece que acabara de caracterizar-se por um perfil burguesista, capitalista, direitista, liberalista, pan-americanista... Mas sua conclusão é “insofismável”: “o Capitalismo e o Liberalismo não [sublinhado] são ideologias”. Uma grande explicação para razões tão grandes quanto.

Seu antimarxismo vulgar vai mais longe: calcula o PIB do Brasil de 1964 e de 2014, e percebe que ele mais que triplicou neste período.**** Portanto, “os líderes civis e militares da Revolução de 1964 sabiamente consolidaram, ao longo de vinte e um anos (1964-1985), infra-estrutura e superestrutura” que imunizaram o país da subversão e do radicalismo ideológico. Uma vez mais, o ponto cego: a subversão dos ditadores e radicalismo “direitista” não refletem no espelho; por outro lado, uma vez mais o ponto vidente: a ditadura foi feita não só por militares, mas também por civis. Por fim, um ponto de trapezista: o milagre econômico multiplicou nossa economia, fazendo do Brasil um país “propício” a expurgos, chacinas e torturas, ou seja, para uma infraestrutura baseada na concentração de renda (mesmo que multiplicada), uma superestrutura represssiva, burocrática, corrupta e antidemocrática.

Além de “janista”, o livre-docente é “confederacionista” e profeta. O futuro do mundo – em 2064 – vai ser marcado por sucessivas confederações (nacionais, continentais, mundial – e, provavelmente, intergaláctica, como nos filmes enlatados “euro-americanistas”). O Brasil, por sua vez, terá eliminado a “peste rubra” dos inofensivos comunistas de hoje. Para o nobilíssimo doutor, o General Tempo “conduzirá tal minoria ao cemitério, a curto, médio e longo prazo”. É claro, o exército “temporal” de referido general tem seu estado-maior: no passado, Castello Branco, Costa e Silva, Médici, Geisel, Figueiredo – e como freqüentaram os campos-santos (ainda que tornados valas-comuns) estes senhores!***** No presente, cerram fileiras no exército do General Tempo, para trucidar os pestilentos vermelhos, o Poder Judiciário,****** a Mídia, os Pluripartidos, a Constituição.

As mãos sujas dos que prenderam ilegalmente, torturaram, assassinaram e, para completar, ocultaram cadáveres não se limpam com queimas de arquivo nem tampouco com reconhecimento de firma (Gualazzi reconhece firma de sua aula escrita). Não há mais espaço, em nossa sociedade, para estes furibundos argumentos e ações. Nesta aula, ministrada nas Arcadas do São Francisco, só houve ensinamentos da juventude,******* que relembraram as sevícias cometidas pelo regime de exceção e adentraram na sala do senhor Botelho Gualazzi cantando a “Opinião” de Zé Kétti: “podem me prender, botem me bater, podem até deixar-me sem comer, que eu não mudo de opinião”. No dia 1º de abril, um professor dá aula de mentira, e causa incontinência em toda a comunidade jurídica brasileira, mas os estudantes, como documentado no vídeo abaixo, retomam a verdade, a memória e a justiça!


Vídeo, na íntegra, do início da aula de Gualazzi e do ato político dos estudantes da USP
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*Dois episódios são ilustrativos das polarizações que tiveram vez entre estudantes, em geral, e estudantes de direito, em particular, acerca do golpe de 1964: a 6 de abril de 1964, 120 estudantes da Faculdade de Direito da UFSC assinam um manifesto em apoio ao dia da mentira; em 1967, 400 estudantes se refugiam da prisão, no prédio da Faculdade de Direito da UFMG, e deles há um registro fotográfico histórico.

**Disponibilizamos, aqui, a íntegra da aula ministrada por Botelho Gualazzi, no dia 1º de abril.

***Vale a pena conferir o verbete de Wikipédia dedicado ao professor Botelho Gualazzi e conhecer melhor de quem se trata.

****Um excelente contraponto a tais interpretações, é a aula inaugural da Faculdade de Direito da USP, feita por seu docente, o professor Gilberto Bercovici, sobre “Reformas de base e superação do subdesenvolvimento

*****Interessante conferir alguns pronunciamentos sobre os números (oficiais e não oficiais) referentes aos mortos e desaparecidos durante a ditadura civil-militar, bem como alguns relatos que saíram nos meios de comunicação nesta semana sobre a questão camponesa e indígena.

******Significativo é o depoimento do ministro do STF, Marco Aurélio, dizendo que o golpe de 1964 foi um “mal necessário”.

*******A juventude, desde 2012, vem ensinando a justiçar os responsáveis por assassinatos e torturas do regime militar, pela prática de escrachos. Neste 1º de abril, houve o escracho do ex-militar e delegado Aparecido L. Calandra, em São Paulo, e do ex-coronel Pedro Ivo dos Santos Vasconcelos, em Belo Horizonte.

segunda-feira, 31 de março de 2014

A advocacia política e os 50 anos da ditadura: estudos e personagens

Para relembrar os 50 anos do golpe de 1º de abril, o blogue Assessoria Jurídica Popular reúne um conjunto de indicações bibliográficas que trataram do tema da advocacia durante a ditadura civil-militar. A figura do advogado de presos políticos é uma espécie de antecessora da do advogado popular consciente de sua tarefa militante. É certo que antes de 1964 a advocacia já havia flertado com a organização popular e portanto com a AJP. A mítica figura de Luiz Gama, no século XIX, nos remete a isso. Mas também a dos advogados de associações operárias, partidos de esquerda (em especial, o PC), sindicatos de trabalhadores e dos primeiros movimentos sociais mais próximos dos que temos hoje, como as Ligas Camponesas. Assim, afora Luiz Gama, igualmente ganham projeção Sobral Pinto, Francisco Julião, Miguel Pressburger... (sobre este último, continua não superada a dissertação de Luiz Otávio Ribas).

homenageamos, em nosso portal, alguns advogados assassinados pela repressão, direta ou indiretamente vitimados pela ditadura, como Eugênio Lyra, Agenor Martins de Carvalho, Joaquim das Neves Norte e Paulo Fonteles.

Também, participamos do projeto #desarquivandoBR, sobre o 1º de abril no Paraná, em 2012, e, na última semana, divulgamos a essencial série documental de Silvio Tendler, "Os advogados contra a ditadura".


Muitos estudos e memórias já foram e continuam sendo publicados para lembrar este importante momento, "página infeliz de nossa história, passagem desbotada da memória das nossas novas gerações" (para usar os versos da canção de Chico Buarque).

Citamos como exemplos, dentre os vários possíveis:

Os advogados e a ditadura de 1964: a defesa dos perseguidos políticos no Brasil (2010) - organizado por Fernando Sá, Oswaldo Munteal e Paulo Emílio Martins




Relatos: um advogado na ditadura (2012) - Antônio Carlos Barandier





Edésio Passos: 50 anos de advocacia (2012) - Patrícia Meyer







Também, é importante registrar alguns estudos sobre a justiça de transição no Brasil, como por exemplo:


Verdade, memória e justiça: um debate necessário (2012) - organizado por Rogério Gesta Leal





Justiça de transição: contornos do conceito (2013) - Renan Honório Quinalha




Além desses, também gostaríamos de ressaltar a existência de pelo menos mais dois estudos, disponíveis na internet, que destacam a militância política e jurídica de defensores de direitos humanos durante a ditadura. São eles:


Retrato da repressão política no campo: Brasil, 1962-1985 (2011) - Ana Carneiro e Marta Cioccari (ver o item que finaliza o livro: "Advogados vítimas de repressão", com informações livremente extraídas de nosso blogue)





Advocacia em tempos difíceis (2014) - coordenado por Paula Spieler e Rafael Mafei Rabelo Queiroz





Em sede da relação entre advocacia e ditadura, ainda há muita história a ser contada. Seja porque a história da intelectualidade brasileira de esquerda, de extração universitária, está vincada nos cursos jurídicos (só para exemplificar, bacharelaram-se em direito desde Caio Prado Júnior até Milton Santos, passando por Celso Furtado e Paulo Freire), seja porque todo preso político, desaparecido ou não, deparou-se com a estrutura de estado e, de alguma forma, recebeu algum tipo de contato com advogados, no mínimo, dativos. Mesmo no caso de camponeses e indígenas mortos e/ou chacinados pela ditadura, há toda uma investigação a se trilhar, nesse sentido.

Muitos nomes precisam ainda ser conhecidos e restabelecidos em sua grandeza, de luta (ou às vezes de simples oposição) contra o regime de força que se instaurou em nosso sombrio "medievo". Réstias - amplas e expansivas - das sombras da escravidão e da repressão ditatorial se lançam sobre nós ainda hoje, a cada tortura em presídio ou delegacia, a cada invasão e violência nas periferias, a cada morte ou desaparecimento no campo ou na cidade.


São histórias de contraditórias e reais personagens que, exercendo a advocacia, acabaram por enfrentar, como quixotes, as estruturas, tendo por arma suas utopias. Daí que a desconhecida história de um Henrique Cintra Ferreira de Ornellas, advogado "suicidado" no interior do Paraná, preso junto a seus filhos - de 15 e 17 anos -, no ano de 1973, deve ser resgatada e explicada. 

Ornellas, presente! Advogados contra a ditadura, de ontem e de hoje, presente!

***

Ver mais em:

quarta-feira, 26 de março de 2014

Advocacia tem a ver com capacidade de indignação

Resenha do primeiro episódio do programa “Os advogados contra a Ditadura”, de Silvio Tendler

Luiz Otávio Ribas

Silvio Tendler nos presenteia com uma colcha de retalhos de depoimentos de protagonistas e de pessoas próximas dos principais fatos envolvendo a atuação dos advogados contra a Ditadura.
A escolha do título do programa não poderia ser mais acertada. Omar Ferri reforça que a profissão do advogado é “espaço de luta contra a ditadura militar e o terrorismo de Estado que se instalou no Brasil em 1964. Mola inspiradora da atividade política e de protesto contra a Ditadura”. Mário Simas defende que “a posição do advogado já é uma posição política. A opção que ele faz como advogado para este tipo de advocacia ou para este tipo de especialização já é uma opção política”.

(Assista aqui o primeiro episódio)

sexta-feira, 21 de março de 2014

Oficina de balanço da advocacia no Rio de Janeiro

O Grupo de Estudos e Práticas em Advocacia Popular - GEAP Miguel Pressburguer convida advogados e advogadas que atuaram na defesa do direito de livre manifestação de junho a novembro de 2013 para a oficina de balanço que ocorrerá no dia 03/04 às 18 horas na CAARJ (Avenida Marechal Câmara, 210, 6º andar - Rio de Janeiro-RJ). 

Estão convidados para o evento grupos e instituições como as comissões de direitos humanos e de segurança pública da OAB-RJ, DDH, Justiça Global, CAJP Mariana Criola, Habeas Corpus e Defensoria Pública. Na atividade pretendemos apresentar o trabalho de pesquisa do grupo e abrir o debate aos presentes.

O GEAP tem pesquisado os usos do Direito e as ações do Estado no tratamento das manifestações de rua na cidade do Rio de Janeiro em 2013. Nesta fase da pesquisa nos direcionamos aos advogados que atuaram na defesa do direito de livre manifestação, seja através de coletivos ou mesmo individualmente.

Como uma das ferramentas de pesquisa nos utilizaremos de um questionário, a ser respondido via internet, que no momento já está sendo aplicado. Se você atuou na defesa jurídica de manifestantes no ano de 2013 e deseja responder ao questionário, favor entrar em contato com: professorluizribas@gmail.com.

Para ler a nota metodológica e conhecer mais sobre o GEAP acesse:http://najupluizamahin.blogspot.com.br/




Balanço da advocacia nas manifestações de rua no Rio de Janeiro 2013

3 de abril de 2014, 18:00 – 21:00
Av. Mal. Câmara, 210, 6º andar, Rio de Janeiro-RJ


segunda-feira, 17 de março de 2014

Liberdade Apurinã

Enviado por Nonnato Masson

Fonte: comunidade Liberdade Apurinã - Facebook



No dia 28 de fevereiro de 2014, sexta-feira, Paulo Apurinã foi preso em cumprimento a um Mandado de Prisão expedido pela 8ª Vara Criminal de Manaus, capital do Estado do Amazonas, por ordem do juiz Carlos Zamith O. Júnior, sendo que passados 06 (seis) dias não tem conhecimento de qual crime estaria sendo acusado, tendo os blogs noticiado que estaria sendo preso pelo crime de calúnia contra um ex deputado estadual que é hoje empresário dos meios de comunicação local.

Foi cumprido ainda um Mandado de Busca e Apreensão que dentre outros objetos apreenderam seu notebook.

Paulo Apurinã é uma das principais lideranças do Tarumã, bairro indígena da periferia de Manaus/AM e ativista do movimento Aldeia Maracanã contra a destruição do Museu do Índio no Rio de Janeiro por conta das obras da Copa do Mundo, militante ativo do movimento de moradia é membro eleito do Conselho Estadual das Cidades do Amazonas.

Estranhamente no mesmo dia de sua prisão ainda pela manhã Paulo Apurinã postou em sua conta no youtube um vídeo em que há fortes denúncias de pedofilia contra políticos e um magistrado que teriam envolvimento com os crimes praticados pelo ex prefeito de Coari/AM que encontra-se atualmente preso acusado de exploração sexual de crianças e adolescentes fato que foi divulgado a nível nacional.

Perguntas que neste momento não calam:

- Por que Paulo Apurinã está preso?

- A quem interessa a prisão de Paulo Apurinã?

– Quem tem medo de Paulo Apurinã livre?

Somos convocados neste momento a gritar #liberdadeapurinã

terça-feira, 11 de março de 2014

A luta pela terra e o direito vivo em Anapu


FERREIRA MENDES, Josilene. O direito vivo na luta pela terra no Projeto de Desenvolvimento Sustentável Virola Jatobáem Anapu/PA. Dissertação – Programa de Pós-Graduação em Agriculturas Amazônicas – Mestrado em Agriculturas Familiares e Desenvolvimento Sustentável, Belém, 2012.
 
Cidade de Anapu/PA
Essa dissertação tem como objetivo analisar e descrever os diferentes aspectos da noção de “direito vivo” apreendida junto às unidades familiares camponesas ao longo dos processos de ocupação, criação e implementação do Projeto de Desenvolvimento Sustentável Virola Jatobá no município de Anapu, Estado do Pará. Nesses diferentes processos, as unidades familiares construíram e acrescentaram, com base em seu direito vivido, diferentes aspectos à noção de direito à terra, a partir de suas práticas sociais e jurídicas que se contrapõem, por vezes, ao que dita o direito formal. No processo de ocupação, se destacam as práticas sociais e jurídicas de lideranças de organizações sociais locais e das primeiras famílias ocupantes da área, e abstrai-se então a noção de direito a terra para quem nela trabalha. No processo de criação oficial do assentamento, as unidades familiares ocupantes passam a assumir o comando do PDS. Para tanto, se fazem representar pela figura de uma Associação para protagonizar negociações e reivindicações perante as instituições do poder público, particularmente o INCRA, e assim se configura a noção do direito a terra para quem nela trabalha com autonomia. No processo de implementação do PDS, as famílias enfrentam a execução do projeto de manejo florestal comunitário, que passa por um processo de negociação entre o poder público e as famílias envolvendo a adoção de novas condições de trabalho. Nessa negociação, se configura a noção do direito a terra para quem nela trabalha com autonomia e cuidado com a mata.
Palavras Chave: Direito vivo. Campesinato. Direito a terra. Projeto de desenvolvimento sustentável.