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domingo, 4 de setembro de 2011

A revolução brasileira: cosmogonia de nossa ação cultural para a libertação

Hoje, economizarei palavras. Trata-se de uma verdadeira economia política da comunicação. Tem dias que precisamos falar, com longas frases e velhas palavras. Aqui, não: redondilhas e o novo se exasperarão! Há quem diga que vivemos em um país tranqüilo de povo pacífico. Nada mais equívoco. Basta olharmos para nosso inconsciente e vermos as veias abertas de nossa insurgência. Por isso, o poema abaixo - crivado com o gosto dos cambucás de nossa história, uma longa travessia que representa nosso legado de ação cultural para a libertação destinado às novas gerações. No poema, torto como nossa história, irmanam-se e conjugam-se a filosofia da insurgência com as experiências rebeldes desta mesma filosofia. Para o fronte!

A REVOLUÇÃO BRASILEIRA
cosmogonia de nossa ação cultural para a libertação

Ricardo Prestes Pazello


Com o braço de Palmares
República de quilombos
Insurretos militares
No exemplo de Porongos

Resistência, força crítica
De caingangues e xavantes
Nas batalhas guaraníticas
E de tantos retirantes



Nas colônias anarquistas
Libertários que improperam
Falanstérios utopistas
Descontentes proliferam

Grevistas de todo gênero
Farrapos e Julianas
De motins menos efêmeros
O poder, guerras cabanas

A revolta dos posseiros
Um acordo Contestado
Zoada de cangaceiros
Equador confederado



Sangue d'ouro em Carajás
Guerrilheiros no Araguaia
Cova grande onde jaz
O exército da Praia

Movimento combatente
Justo timbre do protesto
Conjurado, inconfidente
Num conflito manifesto

A disputa balaiada
O levante de Canudos
E as massas arrastadas
Jenipapo nos entrudos

Na Coluna em longa marcha
E nas Ligas Camponesas
Covardia não se acha
Sim, trabalho; não, tristeza


Seja em Trombas, em Formoso
Porecatu, Caparaó
É o povo, belo e ditoso,
Fazendo uma luta só

Na Intentona comunista
No projeto popular
O horizonte socialista
Uma estrela a nos guiar

Conspiram as nossas gentes
Tal malês em rebelião
Dentre outros INSURGENTES
Tudo foi revolução
...
Tudo é revolução!


quarta-feira, 22 de junho de 2011

Em Londrina: Jornada de Agroecologia e lançamento de livro sobre a guerrilha de Porecatu

Hoje, inicou-se a programação da 10º Jornada de Agroecologia, organizada pela Via Campesina, e que se realiza em Londrina até a próxima sexta-feira.

Na noite de terça, dia 23, haverá o lançamento do livro "Porecatu: a guerrilha que os comunistas esqueceram", do jornalista Marcelo Eiji Oikawa, pela editora Expressão Popular. A guerrilha esquecida, que integrou o movimento nacional das Ligas Camponesas, se passou no interior do Paraná, entre 1944 e 1951, e é mais um daqueles episódios que precisam ser rememorados coletivamente para desfazer o inculcamento realizado em nosso povo: "o povo brasileiro é pacífico". Só no Paraná, estado fora do eixo intelectual central do país, três grandes episódios marcaram o século XX no que toca a conflitos no campo a partir de uma organização mínima dos trabalhadores: o Contestado (1912-1916), a Revolta dos Posseiros (1957) e a própria Guerrilha de Porecatu (1944-1951). Para não falar da verdadeira miríade de conflitos difusos, também importantes e que mereceriam estudos variados em suas especificidades. Certamente, aqui, estamos na senda da construção da noção de "insurgência", marca gnosiológica de nossa distinção colonial.



Para saber mais:

domingo, 8 de maio de 2011

Da insurgência


Expressar a realidade, diferentemente de defini-la, é um ato do pensamento que se dá por categorias. A categoria - ou a qualidade de categorialidade - é um momento da capacidade intelectiva de expressar a realidade em sua universalidade abstrata. Trata-se, portanto, também de uma abstração. Já o conceito - ou a qualidade da conceptualidade - identifica-se com um pensamento suficiente sem a necessidade de atuação. É uma abstração, obviamente, mas que se apresenta estaticamente (logo, não é uma totalidade, mas uma particularidade) abstrata.

Conceito e categoria, assim, são formas diversas de manifestação fenomênica do pensamento. E elas são importantes de serem visualizadas na medida em que é igualmente importante esclarecer a complexidade, a amplitude e o inacabamento da expressão que se faz da realidade. As categorias, e não os conceitos, nos permitem entender isso. Desse modo, os conceitos são; as categorias vêm a ser.

Esta discussão prévia que faço serve para apresentar uma opção não reducionista da expressão da realidade concreta. Esta, como totalidade que vem a ser, não pode ser mecanizada. A partir de seu método de representação, por excelência - o materialismo histórico -, não comporta conceitos estanques, mas sim compreensões que acumulam significados e que atraem, qual um ímã, várias condicionantes, até que no final do processo de compreensão da realidade concreta (fim este utópico por natureza) os elementos que servem à interpretação do mundo angariam uma estrutura multifacética e interligada a vários níveis e dimensões deste mundo mesmo, só analiticamente separáveis.

A proposta de se analisar a insurgência - para a compreensão de nossa realidade concreta mesma, mas também como elemento-chave para a inteligência do problema jurídico-político - tem exatamente este espírito.

Insurgência aparece, portanto, como uma categoria. Pode ser percebida a partir de fatos concretos isolados, mas também é o cerne da crítica que destrói e propõe, a um só tempo. É ela, portanto, um arremate categorial do ato de pensar para a transformação da realidade. Mas este arremate, como ficou assinalado, não estandardiza o quadro que podemos pintar sobre a realidade.

Como a noção de insurgência deve ser mais categorial que conceptual, sua observação passa pela percepção de que ela congrega aspectos de: a) resistência; b) trabalho-fonte; c) organização; e d) conscientização.

Negar a realidade presente em seus âmbitos opressivos (como a noção de insurgência deixa entender) é afirmar outras formas de realidade e, desse jeito, se conforma uma resistência. Afirmar tal resistência exige perceber um critério-fonte de desenvolvimento das vidas que resistem e insurgem-se: eis o trabalho vivo e desalienado. Mas canalizar a resistência a partir do trabalho vivo demanda a organização coletiva. E esta organização impende a formação comunitária, a educação popular, a tomada de consciência revolucionária: e aqui estão os caracterizadores da conscientização.

A partir da realidade histórica e geopolítica da América Latina, gostaria de sugerir três interessantes caminhos para a percepção da categoria da insurgência. A esfera da categorialidade se destaca, na medida em que estamos inferindo de realidades particularidades distintas um universal abstrato para nosso intento: a insurgência mesma. 


1. Começando por dialogar com os "fazedores" de conhecimento, os acadêmicos, podemos resgatar a expressão da ciência rebelde em Orlando Fals Borda. Na verdade, todos produzimos conhecimento, estejamos ou não na academia. Mas a autoconsciência sobre isto tem sido relegada à universidade, hoje. Este é um aspecto que devemos superar, mas é impossível deixar de observá-lo. Por isso este primeiro diálogo. Senão vejamos:

"Esta possibilidade da função positiva da subversão (problema, no fundo, epistemológico) é periodicamente esquecido pelos pensadores ortodoxos que tendem a saturar-se de tradição. A análise das experiências latino-americanas (e de outras regiões) prova que muitas transformações significativas e profundas da sociedade foram possíveis em virtude da ação subversiva e do pensamento rebelde" ("As revoluções inacabadas na América Latina", cap. 1).

2. Outro importante aspecto com o qual se deve dialogar é o histórico. Na obra de Clóvis Moura, por exemplo, os negros brasileiros são apresentados na pujança de sua resistência organizada, a qual os encaminhou, apesar de todos os arbítrios com que sofreram, a protestar. É Clóvis Moura quem nos diz:

"O negro brasileiro foi sempre um grande organizador. Durante o período no qual perdurou o regime escravista, e, posteriormente, quando se iniciou - após a Abolição - o seu processo de marginalização, ele se manteve organizado, com organizações intermitentes, frágeis e um tanto desarticuladas, mas sempre constantes. A organização de quilombos, de confrarias religiosas, irmandades, dos cantos, na Bahia, de grupos religiosos afro-brasileiros como o candomblé, terreiros de xangô e mesmo umbanda, mais recentemente, são exemplos significativos" ("Brasil: as raízes do protesto negro", cap. 5). 


3. Por fim, poderíamos lembrar todo o legado de busca revolucionária pela qual passamos em nossa América, geralmente envolvendo as idéias de libertação e revolução. Do marxismo à teologia da libertação, dos pais libertadores à esquerda do século XXI, fiquemos com um depoimento só, o do padre Camilo Torres:

"Nos países subdesenvolvidos, as mudanças de estrutura não se darão sem pressão da classe popular. A revolução pacífica está diretamente determinada pela previsão da classe dirigente, já que o desejo, por parte desta, é difícil de ser alcançado. A revolução violenta é uma alternativa bastante provável devido à dificuldade de previsão que têm as classes dirigentes" ("Cristianismo e revolução", cap. 8).

Pois bem, subversão, rebeldia, protesto e revolução se encaminham para a categoria de insurgência. Esta, porém, se qualifica geopoliticamente e dentro de uma perspectiva que permita congregar esforços de resistência, cooperação, organização e conscientização, sob o viés popular. É a esta categorialidade que, doravante, referir-se-á a insurgência, para nós. É ela que devemos passar a construir.

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Poema sobre a insurgência

Vejam o poema extraído do blogue "Passa Palavra":

Por la autogestión / De nuestras minas argénteas / Y nuestras mentes. 
Por Bruno Villela

Gritamos por la urgencia del Sur
Por la urgencia de un discurso de presente
Por la urgencia del control del nuestro albur
Por la valoración
De toda lucha doliente
Por la autogestión
De nuestras minas argénteas
Y nuestras mentes

Gritamos por la urgencia del Sur
Por la urgencia de la dignidad
Que es poca pero decente
Y siempre por la libertad
Aunque sea un efluvio contingente
Por la urgencia del Sur, gritamos vehementemente
Clamando por la in-sur-gencia
De nuestra gente.

Gritamos pela urgência do Sul / Pela urgência de um discurso do presente / Pela urgência do controlo do nosso destino / Pela valorização / De toda a luta que dói / Pela autogestão / De nossas minas argênteas / E nossas mentes / Gritamos pela urgência do Sul / Pela urgência da dignidade / Que é pouca mas decente / E sempre pela liberdade / Embora seja um eflúvio contingente / Pela urgência do Sul, gritamos veementemente / Clamando pela in-sur-gência [in-sul-gência] / Da nossa gente.

Pintura do uruguaio Torres García