terça-feira, 16 de julho de 2013

Mas o olé foi do povo



Miguel Lanzellotti Baldez

Crédito: Pablo Vergara - Brasil de Fato (RJ)


Deram o circo, e que circo? Muito bem montado, com grandes atores e até deslumbrados cantores de fala afiada e serviços indecifráveis mas tendentes ao cinismo, ensaiando enfim um esforço de forte tendência global. O povo, porém, embora parte de si tenha ido ao circo, correu às ruas de todo Brasil, em lindas e inesquecíveis manifestações, gritando, para o tempo de todos os tempos, numa só voz: - senhores do circo olhem nós aqui, estamos vivos.
Aquele grito alcançou toda a nacionalidade, e todos ficaram atônitos, pois difícil lhes pareceu explicar o acontecido. Será que o povo acordou, ou apenas parecia adormecido ou dopado por mentiras, arranjos, disfarces e outras guirlandas perversas a ele oferecidas por discursos e praticas oficiais ou oficiosas.
Ou será que o povo resolveu descobrir se do falso manto que lhe concederam de gigante adormecido para cantar o verdadeiro hino de libertação, um hino que é dele, e só ele sabe e pode cantar? É isto senhores atônitos e embasbacados: esta gente toda, Brasil afora está exercendo no fato da história seu poder constitucional, um poder que é só dele.

terça-feira, 9 de julho de 2013

O que as manifestações populares têm a ver com a classe trabalhadora?

Versão do texto publicado na edição especial sobre as mobilizações do jornal Brasil de Fato (Paraná) - Julho de 2013, ano 11, edição 540.


"Huelga" (1958), de Ricardo Carpani

O que as manifestações populares têm a ver com a classe trabalhadora?

Ricardo Prestes Pazello

Após 30 anos, o Brasil presencia grandes mobilizações de rua que chegaram a reunir mais de 200 mil pessoas em um só ato. Passeatas, protestos e manifestações que têm uma razão de ser. Mas qual é ela? É indiscutível o fato de que vivemos em uma sociedade muito desigual. Desigualdade que gera injustiças de todas as ordens e que pode se resumir na seguinte idéia: poucos com acesso a transporte, moradia, educação e saúde de qualidade e muitos sem terem condições de ver suas necessidades mais básicas atendidas.
O povo brasileiro começa a sair às ruas, praças e terminais porque as desigualdades sociais que vivencia passaram a ser insuportáveis. Saímos de um período ditatorial com a promessa de que a democracia poderia solucionar estes problemas, que não são de hoje. No entanto, as classes dirigentes de nosso país, associadas aos grandes interesses econômicos internacionais, pretenderam sufocar as reivindicações populares em um sistema político de baixíssima representatividade e em uma estrutura econômica que superexplora os trabalhadores.
É por isso que os gritos que ecoam nas avenidas apinhadas de gente dizem respeito, de modo direto, à grande massa de pessoas que constrói o Brasil trabalhando de sol a sol, tendo o suor de seu trabalho apropriado por patrões, fazendeiros e coronéis de toda espécie. Mudar o Brasil significa que homens e mulheres que trabalham na cidade e no campo se dirigirão às marchas e se farão ouvir, como há muito não ocorre.
A juventude, em sua ânsia de mudança, iniciou o processo de mobilização de nosso povo, exigindo transporte mais barato e de qualidade, bem como denunciando os irresponsáveis investimentos em estádios de futebol enquanto as grandes maiorias não encontram sequer abrigo seguro para morar.
Agora é hora de toda a classe trabalhadora continuar o movimento de reivindicações por melhores condições de vida e contestação de tudo aquilo que não lhe interessa – o lucro do patrão, a concentração de terras e as bordoadas da polícia. As centrais sindicais, todas elas juntas, já convocaram uma paralisação geral para 11 de julho. É dever da classe trabalhadora se unir aos camponeses e à juventude, organizando-se num grande movimento social que arraste consigo todo o povo brasileiro e, na dinâmica do seu arrasto, coloque abaixo toda a estrutura que a explora ao mesmo tempo em que comece a levantar as novas bases de uma sociedade sem desigualdades e injustiças.